Rio Grande do Norte, sábado, 04 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 16 de maio de 2012

O politicamente correto e a “crise das igualdades”

postado por Felix Maranganha

O aspecto abstrato mais alegado pelos PCs (Politicamente Corretos) quando tentam rebater posicionamentos contrários à Lei Maria da Penha (cuja redação original era ótima, e a redação feminista transformou numa bosta), à Política de Cotas, à Proibição da Marcha do Orgulho Hétero e outras coisas restantes, é que há dois, três, e talvez até quatro tipos de igualdades que devem ser interpretadas a partir dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Lembrando que, segundo o artigo XXX, nenhuma disposição da mesma declaração “pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição  de quaisquer dos direitos e liberdades” estabelecidos pela própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, temos que qualquer interpretação que transforme o teor absoluto abstrato de qualquer termo presente na DUDH em tergiversações para justificar, seja por meio do reparo histórico, seja por meio da perseguição, a criação de privilégios e a retirada de direitos, é uma detratação da própria DUDH, tão grave quando detratar todo e qualquer artigo.

Segundo os PCs, quando alguém sensato alega que “todos são iguais”, dizem que trata-se de um sonhador que enxerga somente a “igualdade conceitual” e a “igualdade de direito” e esquece da “igualdade material” e da “igualdade de fato“, pois deve-se entender a igualdade como um “processo de equalização“, caso contrário, apesar de “iguais em direito“, nunca haverá sem os devidos reparos históricos uma “real igualdade numérica“.

Isso é falácia!

Imaginem o número 4. Alguns quatros estão em Arial, outros em Arial Narrow, e alguns em Times New Romam. Coloquem um 4 ao lado de outro 4, seja qual for sua tipografia, e ambos permanecerão com seu valor de 4. Todos os 4s são iguais, independentes de sua tipografia. Somarmos um 2 Arial com um 2 Comic Sans, em cálculos paralelos, o resultado será um 4 aqui e um 4 ali, independente de qual seja sua tipografia no final. Se multiplicarmos 2 e 2, o resultado será 4. Se dividirmos 8 por 2, elevarmos 2 à segunda potência, tirar a raíz quadrada de 16 ou qualquer outra conta que seja, o que der 4 no lado de cá dará 4 no lado de lá. Todos os 4s são iguais.

O PC faz diferente. O 4 Arial só é igual ao 4 Script Brush por ser conceitual e por apresentar uma igualdade de direito nos cálculos. Porém, o que ocorre na realidade, segundo os PCs, é que o 4 Arial não possui os mesmos resultados do 4 Script Brush, pois todos os 4s Ariais discriminam os 4s Script Brushes. Assim, sustentam um discurso de que não existe igualdade material entre os 4s. O problema é que não importa quantos 4s de cá e quantos 4s de lá entram nos cálculos mais complexos, o que importa é que são todos 4s. Porém, cria-se um critério para determinar que alguns 4s podem ter privilégios nos cálculos mais complexos, mesmo que, no fim, seja tudo 4.

 

Um mesmo problema e dois modos de resolvê-lo

Se em uma determinada cidade, na formação de um time escolar do segundo ano, os alunos onívoros e carnívoros criam um time só para eles, significa que estarão discriminando veganos, vegetarianos e ovolactovegetarianos. Diante disso, professor de educação física pode fazer duas coisas: uma ética e uma antiética. A forma antiética seria dar o troco organizando um time em que onívoros e carnívoros fossem proibidos de entrar, ou seja, incentivar ainda mais a discriminação ao “forçar” o orgulho grupal. A saída ética seria não estabelecer qualquer critério de distinção para entrar no time da escola, encarando todos como humanos e como jogadores. Isso significa que insistir no argumento de “reparo histórico” é induzir veganos e vegetarianos a acharem-se superiores a onívoros e carnívoros, e estes a ressentirem-se e a reforçar seu sentimento de superioridade, e assim acharem-se “merecedores” do privilégio de um time só para eles. Simplesmente evitar que haja qualquer critério que não seja ser humano e ser jogador para participar do time da escola consiste em uma saída ética, e que fomenta a igualdade plena. Ao fomentar um time aberto a todos independente da alimentação é uma forma de mostrar que no time não existem veganos, vegetarianos, ovolactovegetarianos, onívoros ou carnívoros, mas mas apenas seres humanos, jogadores treinando juntos para vencer as partidas.

Igualdade é igualdade, é um substantivo, com significado fechado em si mesmo e apontando para uma essência. Adjetivar a igualdade é uma falácia. Quando alguém sensato alega que “todos são iguais”, alguns Politicamente Corretos dizem que trata-se de um sonhador que enxerga somente a “igualdade conceitual” e a “igualdade jurídica” e esquece da “igualdade material” e da “igualdade de fato”, pois deve-se entender a igualdade como um “processo de equalização”, caso contrário, apesar de “iguais em direito”, nunca haverá sem os devidos reparos históricos uma “real igualdade numérica”, e, segundo alguns, deve-se buscar a “igualdade fisiológica”, a “igualdade fisionômica”, a “igualdade histórica” e a “igualdade psicológica”.

Eu acho engraçado, pois seria como entender que a “igualdade rosa” é diferente da “igualdade azul”, e a “igualdade com café” só poderá ser alcançada quando todos tiverem “igualdade de chá e leite”. Mas, como alcançar a “igualdade de chá e leite” se não promovemos por meio de ações afirmativas (lê-se “ações que detratam a DUDH, mas ninguém liga porque é de um grupo oprimido historicamente!) a “igualdade herculóide”, a “igualdade thundercat”, a “igualdade noturna” e a “igualdade fisiológica”? Só assim poderemos falar finalmente em igualdade. E, mesmo assim, quando esta for alcançada, deve-se promover a “igualdade de bunda” e a “igualdade genital”, afinal, igualdade só serve assim, cheia de adjetivos.

 

Falaciando a igualdade

Não existe essa de “todos são iguais e isso é meramente conceitual”. Todo conceito implica em uma medição do alcance de determinada ideia ou palavra. Se a palavra igualdade significa que 4 = 4, então não há variação, nem mesmo mínima. E quando a DUDH afirma que todos são iguais em direitos, está dizendo que o direito que qualquer um tiver em lei, o outro deve ter em lei, e que o único critério que deve ser usado na lei é o fato de serem humanos. Quando a DUDH afirma que o mérito é que deve ser o motor da sociedade, ela está alegando ao sujeito a responsabilidade por suas ações, e não por sua condição. Ser vegano, por exemplo, é uma condição do sujeito, e ninguém deveria ser responsabilizado pelo simples fato de ser vegano.

Igualdade de direito não significa igualdade de realização de todos os seus sonhos infantis. Eu, e qualquer outra pessoa maior de 18 anos no Brasil, temos direito a comprar uma casa. Não significa que eu tenha condições de comprar uma casa. Tampouco sinifica que eu mereça a casa sem trabalhar simplesmente porque nasci com determinada cor, altura, tipo de cabelo ou quantidade de dentes na boca. Significa tão somente que, independente de como nasci ou das minhas crenças, se trabalho e junto dinheiro, compro a casa, se não trabalho nem junto dinheiro, não compro a casa. Simples assim! Igualdade de direitos significa que há a garantia de que as mesmas oportunidades e os mesmos critérios serão utilizados sempre na sociedade, devendo haver punição sempre que esse princípio não for respeitado. Assim, ser gordo ou magro, cristão ou ateu, negro ou branco, homem ou mulher não devem ser consideraros critérios sociais.

Daí alegam que todos têm igualdade legal, mas não têm igualdade material. O problema dessa frase (muito proferida por politicamente corretos de alguns movimentos sociais) é que querem uma quantidade exata, meio a meio, de qualquer idiossincrasia particular. Imagine o complexo cálculo para que haja uma proporção exata de pessoas em todas as áreas de acordo com a categoria em que pertencem: cor da pele, peso, tipo de cabelo, lateralidade, alimentação, sexo, orientação sexual… O “meio a meio em tudo” implicaria em um cálculo complicadíssimo, pois, se em uma empresa, um funcionário “mameluco canhoto gordo ateu gay trekker” pedir demissão, para garantir a “real igualdade numérica” de todas as categorias nessa empresa, ele só poderá ser substituído por outro “mameluco canhoto gordo ateu gay trekker”. O que essa empresa fará se se funcionário for mameluco, gordo, ateu, gay e trekker, mas sua lateralidade for destra?

Por isso, a “igualdade de fato” como querem os PCs nunca será conseguida, e todo “processo de equalização” será sempre uma detratação de direitos individuais. Quando o preconceito e a discriminação forem eliminadas da sociedade, naturalmente teremos oscilações estatísticas casuais e acidentais, como “determinadas profissões concentraram mais canhotos que destros nesse ano, com crescente aumento de destros” ou “curiosamente há mais mulheres nesse curso“.

Assim como os PCs confundem propositalmente o direito com a obrigação (não posso me matar porque tenho direito à vida, e o Estado me pune se eu não quiser usufruir desse direito), eles também bagunçam muito facilmente (ou seria convenientemente?) os conceitos de igualdade, levando a igualdade de direitos como pretexto para terem de forma plena a garantia de realizar todos os seus sonhos infantis.

Enfim, Politicamente Correto não é uma conquista da sociedade, é uma arma de controle social, e nada mais que isso. Para pôr em execução seus ideais espúrios, detrata claramente o artigo XXX da DUDH.

Felix Maranganha

Licenciado em Letras, especialista em Educação a Distância e mestrando em Ciências das Religiões, Felix Maranganha é Linguista, Filólogo, Escritor, Filósofo, Defensor dos Direitos Humanos e Libertarianista. Pratica o Zen-Budismo, é ateu, joga sinuca e poker e adora pimenta. Alguns o confundiriam com um anti-marxista, mas ele não liga muito para essas coisas. É autor do blogue http://ocalangoabstrato.blogspot.com

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