Rio Grande do Norte, sábado, 04 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 29 de julho de 2012

Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Embora um pouco inferior em relação aos dois excelentes filmes anteriores, Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) cumpre muito bem sua tarefa de fechar a melhor trilogia de um personagem de quadrinhos.

postado por Mario Rasec

Embora sombrio e melancólico, Batman, antes de Nolan, não teve uma adaptação digna nos cinemas. Com o desastrado Batman & Robin (1997), o diretor Joel Schumacher fez tudo o que não deveria ter feito com o personagem, fazendo deste filme um motivo para muitos fãs do homem morcego passarem anos de terapia para tentar esquecer. Mas graças a visão “realista” do genial diretor Cristopher Nolan (A Origem), foi dado mais uma chance ao herói apagar seu desastrado passado cinematográfico e ser tão bem sucedido no cinema quanto é nos quadrinhos. Finalmente os executivos de Hollywood perceberam que, se quiserem adaptar um personagem já consagrado nos quadrinhos, eles terão que respeita-lo nas suas características principais e naquilo que o fez vender tantos “gibis”. Coisa que os filmes anteriores de Batman não fizeram (embora Tim Burton tenha se aproximado um pouco disso nos dois primeiros filmes da franquia anterior). Batman é um herói sombrio e melancólico, com um certo traço esquizofrênico, criado e moldado a partir de uma tragédia. Por isso, nunca houve sentido o elemento cômico nas suas adaptações para o cinema e televisão.

Com um diretor e roteirista que entendiam isto, e com um maior amadurecimento dos executivos que deram o dinheiro e a liberdade para o diretor reinventar o herói no cinema, o Batman de Nolan conseguiu agradar os fãs do personagem, e ainda ser algo independente dos quadrinhos. Nolan criou um novo universo para Batman, um universo mais cruelmente realista, do mesmo modo que Frank Miller fez com o personagem nos quadrinhos: algo novo e genial, mas sem fugir das características dramáticas essenciais do personagem, ao contrário, até mesmo tendo essas características como base fundamental ao desenvolvimento dos seus roteiros.

Mas, e o filme que fecha esse bem sucedido retorno ao cinema?

Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge comete falhas, principalmente naquilo onde os filmes anteriores foram tão atenciosos. Se em Batman Begins (2005) tudo é muito bem justificado, explicado e amarrado, nesse terceiro filme há lacunas que exigem um certo esforço de alguns a não levarem isto muito à sério. Além do fato de que, com uma atenção maior nas entrelinhas do roteiro, é possível prever com bastante antecedência certos acontecimentos importantes, o que faz do roteiro conter em si seus próprios spoliers.

Outro detalhe que me incomodou foi a sensação de que certos detalhes estava sendo desenvolvidos de forma precipitada. Por exemplo, a conclusão de um empresário a respeito de Bane (Tom Hardy), além da péssima atuação de uma atriz em sua última cena.

Entretanto, o filme também surpreende em momentos dramáticos perfeitos. Dentre eles destaco um emocionante diálogo entre Bruce Wayne (Christian Bale) e Alfred (o impecável Michael Caine, em um dos seus melhores momentos como o mordomo de “master Bruce”). E, embora peque algumas vezes no ritmo, o filme traz bons momentos, como, por exemplo, a esperada volta do Batman, ausente por oito anos. Num plano geral, Nolan mostra toda a perseguição da polícia sobre o personagem com uma grandiosidade nunca antes vista.

Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é, acima de tudo, a consagração de um mito dos quadrinhos e do seu universo. Durante a projeção, Nolan insere vários flashbacks, que, intencionalmente ou não, se mostrou como uma espécie homenagem à trajetória do herói ou, até mesmo, a própria trilogia, dando a ela um claro tom de despedida. Entretanto, no filme quem mais aparece não é seu protagonista oficial, mas a mítica cidade de Gotham. É Gotham com seus personagens, seus excêntricos vilões, suas ruas, sua integridade sempre ameaçada, ora pela máfia, ora pela Liga das Sombras que tenta “purificá-la”, que se torna a grande personagem dessa épica conclusão.

O desfecho do filme é a coroação de uma trilogia que provou que é muito mais do que um filme de super-herói. Feito com inteligência e uma certa dosagem de realismo, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é a consagração definitiva do personagem no cinema.

 

Ficha técnica:

Título original:  The Dark Knight Rises (EUA , 2012 – 164 min.)

Direção: Christopher Nolan

Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan, David Goyer

Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine

Mario Rasec

Designer gráfico, artista visual, ilustrador e roteirista de HQs. Autor de Os Black (quadrinho de humor) e de outras publicações.

4 Responses

  1. Mario Rasec disse:

    Ps: Há também um erro de
    continuidade (ao menos o que eu tenha notado) que não compromete o filme. Na foto
    dos pais de Bruce Wayne sobre uma cômoda. A primeira vez que a vemos ela está
    bastante queimada nas bordas (por causa do incêndio que destruiu a mansão Wayne
    no primeiro filme). Mas, numa cena posterior, ela surge perfeita.
     

    • João Victor disse:

      Mario, as fotos são diferentes. Repare que a primeira vez que ela aparece, é no quarto de Bruce, quando Selina Kyle rouba as digitais dele. A segunda é no andar de baixo da casa, quando Bruce arromba a porta pra entrar porque não tem a chave. E as duas fotos são diferentes.

      Não achei o filme inferior aos outros dois, só acho que os dois primeiros tinham menos acontecimentos e eram melhor distribuídos no filme. Os acontecimentos do novo filme são superiores e esse é o melhor dos três. Todas as pontas do roteiro são fechadas e o filme se preocupa muito mais com a história do que com as sequências de ação. E o foco do filme não é Batman e nem Gotham, mas Bruce Wayne, que assume o papel de símbolo e se entrega definitivamente à sua jornada.

      Nolan mostra que é possível dar conteúdo à filmes desse porte e faz obras como Os Vingadores serem brincadeira de criança!

      • Mario Rasec disse:

        Valeu João Victor, pela a informação. De fato não percebi que se tratava de quartos e fotos diferentes, já que elas estavam dispostas ao lado da foto de
        Rachel Dawes. Quanto ao resto eu mantenho a minha opinão, apesar de ter
        gostado desse último filme, eu realmente sinto que os anteriores foram
        melhores. 

  2. Thiago Leite disse:

    Enquanto eu via o filme, ia tendo a sensação de que ele não se comparava com os dois anteriores, embora fosse muito bom. Mas depois do filme comecei a refletir sobre uma série de coisas e percebi que a obra é genial, os acontecimentos se desenvolvem de uma forma muito interessante, com o retorno desastrado do Batman o levando a sua morte simbólica e a necessidade de ele se reerguer através de uma superação interior.

    As referências que se faz de momentos cruciais com cenas de Batman Begins (o encontro com Ra’s Al Ghul na prisão e o fosso que remete ao poço em que ele caiu quando criança) completaram muito bem a trilogia.Porém, algumas coisas ficaram inverossímeis, como o relacionamento de Bruce com Miranda/Talia, que aconteceu muito precipitadamente. Mesmo assim o filme conseguiu ser muito mais um excelente drama do que um mero conto de ação e super-heroísmo.

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