Rio Grande do Norte, quinta-feira, 02 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 26 de outubro de 2012

Algemas da Escuridão

postado por Ivenio Hermes

Detenção Para Incompetentes Contumazes

Por Ivenio Hermes

“Jogue fora as luzes, as definições. Diga o que você vê na escuridão.”

Wallace Stevens

Horas de Escuridão

Foram poucas horas de apagão para que a segurança pública do Rio Grande do Norte fosse colocada em xeque novamente, e isso numa semana em que já foi colocada em situação semelhante em outras duas ocasiões no sistema penitenciário (leia as matérias nesse fim de semana) e novamente na polícia civil.

Desta vez, o curto período sem energia que atingiu o Nordeste e parte da região Norte do país, foi o vilão que derrubou os serviços de comunicação e atendimento de emergências do CIOSP – Centro Integrado de Operações em Segurança Pública da Grande Natal, e embora os responsáveis pelo Centro insistam em minimizar as consequências de um atraso de meia hora, quem precisou dos serviços nesse intervalo de tempo, sabe o desespero que é.

Afirma que gerador do CIOSP manteve os serviços funcionando não é verdadeiro quando não há previsibilidade técnica para o que é mais comum de ocorrer nos grandes centros urbanos, principalmente em noites de grandes eventos com shows sequenciais e a COPA do mundo que se aproxima. Esse problema comum se chama “sobrecarga”!

Mas foi o próprio coronel Francisco Araújo Silva, comandante geral da Polícia Militar quem afirmou que houve sobrecarga, e pior, ele ainda completa: “Ficamos entre vinte e trinta minutos sem comunicação direta com as três repetidoras da região metropolitana, principalmente em Extremoz, São José de Mipibu e no bairro de Mãe Luiza, em Natal”, algo inconcebível para uma polícia ostensiva que possui uma responsabilidade extra sobre suas costas: suprir a falta de delegacias de polícia civil abertas durante a noite.

Hiato de Segurança

A Polícia Civil, já tão sucateada pela falta de equipamento e material humano, apenas mascarado pelas nomeações insignificantes e aquisições de belas viaturas para transitarem com apenas um agente pelas ruas da cidade, vive um hiato na segurança pública e a população da Grande Natal que precisa dela, já nem a busca.

Duas delegacias abertas apenas durante a noite, uma na zona sul e outra na norte, funcionando com poucos policiais, equipamentos que não condizem com a necessidade e nessa noite em particular, refém da escuridão.

Numa interessante declaração dada por um representante do CIOSP para um telejornal, ele afirmou que comparativamente, o número de homicídios, brigas, furtos, assaltos e crimes contra o patrimônio da madrugada de quinta-feira passada diminuíram em relação a de hoje. E acrescentou que se bares e casas noturnas ficarem fechados durante a madrugada haveria uma diminuição do número de crimes.

Porém, não podemos concordar com tal afirmação numa amostragem de apenas horas de bares fechados, de pessoas sem saber o que está acontecendo, de até mesmo os criminosos terem sido pegos desprevenidos para a prática de suas ações nessas circunstâncias, haja vista que o apagão contumaz não acontecer já há algum tempo no Brasil. Mas desde que isso volte a se tornar costume, nada impedirá que o crime aconteça e se multiplique diante dessa incapacidade técnica apresentada pela segurança pública em Natal.

Notas Contraditórias

O CIOSP, principal elo entre a informação e o policiamento ostensivo, ficou detido pela falta de estratégia em se preparar para situações normais de cidades grandes, ficando de mãos atadas pelas algemas da escuridão.

Para piorar, enquanto o comandante geral da PM, mesmo tentando minimizar a situação não esconde a verdade, outra pessoa do CIOSP afirma uma celeridade no processamento de informações que não existe.

O coronel Francisco Araújo Silva disse com todas as letras que as viaturas só conseguiam se comunicar entre elas mesmas, e vale acrescentar que dentro do alcance da repetidora mais próxima e em funcionamento, numa limitação muito grande da capacidade de trabalho de uma polícia que trabalha motivada por chamados ou por rotinas pré-estabelecidas.

Em sua sinceridade, pelo menos o Cel. Araújo ainda acrescentou que: “Não é possível precisar quantas chamadas ou ocorrências ficaram sem atendimento durante este período. Por sorte, foi num momento que normalmente não ocorrem muitos problemas”, contradizendo a afirmação de seu subordinado do CIOSP.

Detenção Para Incompetentes Contumazes

A segurança pública potiguar segue seu declínio para se tornar desacreditada de uma vez por todas. Os pontos fracos são tantos e já foram tão mencionados que soluções já poderiam ter sido adotadas há muito tempo.

E se medidas não forem adotadas logo, que o país do mensalão, e talvez agora do apagão, seja também o país da detenção: a detenção para incompetentes contumazes.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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