Rio Grande do Norte, domingo, 05 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de novembro de 2012

PCC: A Nova Ordem no RN

postado por Ivenio Hermes

Ataques no RN Finalmente Atribuídos ao Crime Organizado

Por Ivenio Hermes

Histórico dos crimes

Há algum tempo uma série de crimes com modus operandis do PCC foram atribuídos por este analista ao PCC: queimas de ônibus em série, ataques em múltiplos lugares dificultando a ação policial, enfrentamento programado da polícia mediante prévia observação da capacidade de reação da equipe que será enfrentada, dentre outros.

Naquela época, jornais locais do RN traziam informes diários para tranquilizar a população, inclusive usando declarações do próprio comandante geral da polícia militar e outros “especialistas” em segurança pública, que se tratava de ações isoladas e coincidentes.

Entretanto, agora devido aos ataques sofridos por policiais nos estados de São Paulo e de Santa Catarina, deixam a Polícia Militar do Rio Grande do Norte em alerta. Dia 16 de novembro, o comandante-geral da instituição, o coronel Francisco Canindé de Araújo emitiu nota oficial orientando os militares a tentarem prevenir possíveis atentados criminosos no Estado.

Como sempre, no Rio Grande do Norte, tantos alertas se fazem, mas o antigo ditado impera, só se coloca tranca na porta depois que o ladrão já saiu.

A origem do alerta

Embora seja uma medida tardia, como todas as medidas em segurança pública no Estado Potiguar, o alerta é pertinente. Os estados que vivem sob o domínio do PCC são aqueles que possuem presídio cujos internos são integrantes da famosa facção do crime organizado, e que mesmo lá de dentro, viabilizam uma forma de cuidar de seus “negócios” do lado de fora.

Fraquíssimo em efetivo policial, principalmente a polícia judiciária, que se fosse bem equipada de agentes, delegados e escrivães, além de coletes, armamentos, tecnologia de ponta, etc., o Estado Potiguar é um alvo tão fácil para a ação do crime comum, que para o crime o organizado se torna o banquete dos deuses.

E por que o policial civil Valdir Freire, chefe de investigação da 8ª Delegacia de Polícia, no final da tarde da sexta-feira, dia 16 de novembro, dia do alerta do comandante-geral, foi atingido por aproximadamente dez tiros no bairro do Alecrim, zona leste de Natal? Ele aguardava em um carro da corporação para voltar à delegacia quando surgiram dois homens em uma moto e dispararam contra ele.

O fato é que Valdir Freire foi internado ainda consciente no Hospital Walfredo Gurgel, porém, seu estado de saúde considerado “gravíssimo”, nos leva a outros questionamentos sobre competência da segurança pública estadual, afinal, se alguém for preso será um mero acaso ou mais uma ação articulada do PCC de escolher os “bolas da vez” para evitar muito alarde, pois eles também sabem da incapacidade investigativa da PCRN.

Questionamentos Pertinentes

Quesito efetivo: O caso do alerta geral suscita perguntas importantes, uma delas é a recente aquisição de viaturas novas pela administração pública para a polícia civil, mas não foram contratados novos policiais. Então o policial estava sozinho na viatura? Por que não contratar urgentemente novos policiais sabendo que existem tantos concursados ainda a serem chamados e mais 290 suplentes prontos para ingressarem num curso de formação? Se a administração não sabe como administrar a máquina pública, busque quem saiba fazê-lo e o faça por dedicação ao serviço público e não por status ou pretensões ulteriores.

Para quê servem tantas viaturas se não há efetivo mínimo para compor uma guarnição de polícia investigativa. Passear de viatura, sozinho, sendo o chefe de investigação da 8ª Delegacia de Polícia, é um desfile pelas vias da morte.

Quesito armamento: Qual o armamento de dotação oficial que Valdir Freire portava? Era cedido pessoalmente para ele ou ficava na delegacia e cada um que chega, pega o que está disponível? Se caso a resposta for a segunda alternativa, existe munição para a capacidade do armamento e mais pelo menos 3 cargas para a possibilidade de um embate armado? A munição está na validade? Existem coldres dissimulados ou cintos de guarnição próprios para o uso de uma polícia investigativa?

Por favor, não adianta mostrar os grupos táticos bem equipados e armados, a população demanda ver aqueles policiais comuns, responsáveis pelas ações ordinárias do cotidiano, protegidos e equipados.

Quesito proteção individual: Ele usava colete a prova de balas? Os coletes da 8ª Delegacia de Polícia são de dotação individual ou de uso coletivo? Esses coletes balísticos são de aramida, maleáveis, teflon, ajustáveis, proporcionam liberdade de movimento para dirigir, para o embate físico e para o embate armado? Eles estão dentro da validade?

O colete balístico, assim como o armamento, deve ser de última geração, testados por policiais experientes e da própria corporação que tenham conhecimento do assunto. Não havendo, a SENASP possui um quadro de instrutores capacitados para demostrar e fornecer qual seria o melhor material para o uso “velado” de uma polícia investigativa.

Quesito treinamento: Qual foi o último treinamento de reação tática que o policial civil Valdir Freire recebeu e que foi fornecido pela administração pública? Aos policiais civis são disponibilizados terminais de computador com internet para acessarem os módulos de treinamento online da SENASP? A ADEPOL tem buscado fornecer através da SESED treinamentos sistemáticos de sobrevivência policial? De técnicas de abordagem?

O treinamento sistemático é uma das melhores formas de valorizar o policial, que passará a adotar o que foi ensinado como uma verdadeira doutrina e que no momento da situação real, não hesitará em agir. É justamente para isso que serve o treinamento.

Outro alerta mais importante ainda

Na sexta-feira, o policial Tião Ferreira, conversou com a esposa do saudoso Soldado Fernando Quirino. Ele notou uma pessoa literalmente massacrada pelas circunstâncias e pela total ineficiência do Estado Potiguar no cuidado com seus servidores e familiares.

Até o momento, a viúva ainda não recebeu nenhuma orientação das associações existentes, muito menos do comando da Polícia Militar, e menos ainda que qualquer entidade ligada ao combate à violência ou aos direitos humanos.

Os policiais da 4ª CIPM disseram que a viúva sequer tem podido chorar a morte do marido sossegada, pois está tendo de cuidar sozinha e com seu bebê de colo, todos os trâmites para poder receber a pensão do guerreiro tombado. Benefício que é concedido pelo Estado sob a imposição de severos e desnecessários empecilhos.

Agindo para minorar essa injustiça e esse absurdo imposto a uma viúva e um órfão, o próprio policial Tião, autenticou os atestados de óbito, boletins de ocorrência e todo tipo de documento ligados à morte do praça, todos eles exigidos para a oficialização do requerimento de pensão. E existem ainda outros como a quitação de dívidas que o soldado havia contraído em vida, como sua casa própria e alguns empréstimos.

Desta situação toda surge um alerta mais grave contra as ações do PCC, é um alerta contra as ações da administração do comando-geral da PM que está deixando a família de um guerreiro sofrer tanto após sua morte honrosa.

É revoltante

É revoltante saber que o Estado Potiguar vive de publicações falaciosas, que variam de acordo com a corrente midiática nacional, contudo, se nega a acreditar quando nos alertas sobre as ações do PCC quando alertas vem de especialistas em segurança pública do próprio Estado.

É revoltante conversar com meu amigo Tião Ferreira e sentir o pesar na voz dele ao perceber que o Estado Potiguar não move “uma única palha” por seus servidores, pelos familiares deles, principalmente quando se trata das forças policiais.

É revoltante pensar que coisas como a presença de um capelão ou assistente social, alguém, para dar uma palavra de amparo à família Soldado Fernando Quirino, agora devastada e sem recursos, poderiam ajudar.

É revoltante ver como são tratados centenas de policiais afastados de suas funções como consequência da insalubridade do serviço e da incapacidade gerencial da maioria dos que estão à frente das corporações.

É revoltante ver a matéria do RNTV desta semana que mostrou o Sargento Marreiro, bem conceituado entre seus pares, bom amigo, policial capacitado em várias áreas, aparecer diante das câmeras, muito magro, como perda anormal de cabelos, grande parte do corpo coberto pelo vitiligo e esquecido.

PCC: A Nova Ordem no RN

“Na vida pública, ninguém olha para os que estão pior, mas apenas para os que estão melhor.” Sêneca

A nova ordem do caos no RN é atribuída ao PCC, de fato, é verdade, somente não é nova, já existe há algum tempo e só não enxergavam os gestores de segurança pública estadual, pois a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal já tomam isso como verdade há bastante tempo e trabalham em suas abordagens diuturnamente um paradigma tático que visa proteger a incolumidade dos agentes e dos abordados. Portanto, desses dois órgãos o alerta que ajam com tranquilidade durante uma fiscalização e não esbocem movimentos bruscos e nem atitudes exageradas que, você mesmo como cidadão, não avaliaria bem.

A nota do coronel Francisco Canindé de Araújo dizendo que os militares precisam observar “as normas e procedimentos de segurança durante as abordagens pessoais, veículos e edificações, inclusive quanto à condução e o porte de arma de fogo quando no período de folga, bem como a utilização dos equipamentos de proteção individual durante todo o serviço ostensivo” é apenas uma resposta fácil à população. Essa prática é cotidiana dos policiais militares, que são profissionais, e que são pegos desprevenidos por falta de treinamento contínuo.

Os ataques no RN são finalmente atribuídos ao crime organizado, e não tem mais como “tapar o sol com a peneira”, mas os ataques da administração pública aos cidadãos e aos policiais, seja pela falta de treinamento, pela falta de assistência a eles e aos seus familiares, ou pela falta de contratação de novos agentes para fazer número frente a essa guerra contra o crime, também é um crime.

REFERÊNCIAS

HERMES, Ivenio. O Crime Organizado no Nordeste. Blog do Ivenio Hermes. Disponível em < http://migre.me/bVw0q >. Publicado em: 11 out. 2011.

HERMES, Ivenio. Mapas Potiguares (Parte 1). Blog do Ivenio Hermes. Disponível em < http://migre.me/bVwNM >. Publicado em 19 jan. 2012.

HERMES, Ivenio. Outra Face do Crime Organizado no Brasil. Blog do Ivenio Hermes. Disponível em < http://migre.me/bVvNn >. Publicado em 05 abr. 2012.

HERMES, Ivenio. Atores e Figurantes no Teatro da Segurança. Blog do Ivenio Hermes. Disponível em < http://migre.me/bVxK5 > Publicado em 07 nov. 2012.

SÁ, Danilo. PM alerta sobre risco de atentados a policiais no RN. Folha de São Paulo. Disponível em: < http://migre.me/bVr9F >. Publicado em: 16 nov. 2012.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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