Rio Grande do Norte, quarta-feira, 01 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de janeiro de 2013

O Final da Globo

postado por Carta Potiguar

Lixo Globo 1Antes que o mundo se acabe

 

Por Beth Michel (*)

 

Faço parte da primeira geração de telespectadores”- aquelas afortunadas pessoas que tinham um aparelho de TV em casa… Oh sina! Devido ao conhecimento que possuíamos, a novidade se espalhou pela rua que nem chuchu na serra, o que atraia televizinhos sem cerimônia e a qualquer hora do dia (e da noite). Guria – como tantas outras – sempre fui saudavelmente novidadeira. Mas, por algum motivo a máquina de fazer doido (Saravá Lalau Ponte Preta de saudosa memória) não exercia o menor fascínio sobre minha fértil imaginação infantil, meu grande barato era ler, e os sons do aparelho de tela um tanto arredondada que exibia imagens em um monótono “dégradé” de cinzas atrapalhavam meus devaneios – onde eu encarnava a Emília de Monteiro Lobato. O fato é que – talvez profeticamente aquele trambolho que nos foi presenteado pelo tio Sebastião – e que foi posto na sala de visitas, provocava-me incontida repulsa.

Mesmo com toda modernidade das tecnologias e truques tecnológicos: cores nunca dantes pintadas, alta definição, som quadrifônico (para que? Se temos somente duas orelhas…), gráficos digitais, holografias, cenários mega produzidos e outros que tais, continuo avessa a este tipo de mídia. Faço apenas uma concessão por dever de ofício que é a de ouvir TV, para me manter a par das notícias e até das artimanhas do inimigo, que de isento tem só a conta bancária. Os globais não têm o menor preconceito por nenhuma forma de pagamento: aceitam até in natura. Posto que: é dando que se recebe.

Lixo Globo 3Já falei da escrotice da Plim plim em acusar, via o mascote fulequento da Copa, o povo brasileiro de ser propenso a entregar o furrico. E andei botando reparo, e percebi que foi um mal menor. A nova campanha elucidativa da Globo é o anúncio do Fim do Mundo encontrável em toda a programação e vai desde os programas ditos sérios e em horário nobre (rsrsrs), passando pela abestalhada (e segundo ela bolinada) cinquentona Xuxa, sua “miguxa” Ana Maria e a encruada Fátima ( ai que saudades da TV Globinho), e os seus (delas)  equivalentes masculinos do Domingão,  do Altas Horas e o cada vez mais senil Jô Soares, chegando aos escalafobéticos “humorísticos. E culminado – assim como se fosse um “Criança Esperança apocalíptico” – com um especial que sugere como devemos aproveitar o fim do mundo. Como assim, aproveitar? Não seria melhor usar o termo: preparar, precaver?

Lixo Globo 2O detalhe sórdido, que eles arquitetaram para esquentar a campanha, e que passa meio que batido pelas cabecinhas alienadas do distinto público telespectador consiste no seguinte:

–         Passo um: Já no começo do ano veiculavam quase diariamente avisos oficiais da emissora de que: devido às tempestades solares, nos horários de tal a qual horas ( com exatidão de minutos) poderá ocorrer ausência de sinal, provocado por bloqueio das ondas emitidas por satélite atingindo TVs, Celulares, Internet e GPS o fenômeno é passageiro (sic). E querem saber? A parva aqui tratou de monitorar os tais brancos! E… E nada! Nunca tivemos interrupção de nenhum dos serviços, pelo menos não nos horários e pelos motivos alegados.

–         Passo dois: Chamam para analisar o tema vários especialistas no assunto “Fim do Mundo”, tipo: Filósofos, Astrólogos, Psicólogos, Historiadores, Socorristas, Meteorologistas, e um Cientista. Os primeiros discorrem interminavelmente sobre os comos e porquês o planeta vai pro caralho (Não é palavrão, bando de gente mal pensante! Caralho = cesto da gávea nos antigos navios a vela, para onde se mandava como punição o marujo indisciplinado), e nos últimos 45 segundos da entrevista, perguntam o parecer técnico do cientista. O qual por sua vez diz atabalhoadamente que o mundo vai acabar, mas não tem data marcada…. O(a) apresentador(a) dá um sorrisinho maroto , aplausos e cai o pano, corta para o intervalo dos comerciais.

–         Passo três: Mandam uma mega equipe de reportagem para uma cidadezinha lá nos cafundós do Judas, que é tida e havida como o único lugar seguro para sobreviver ao juízo final, devido à grande concentração de cristais (e o quique?). Entrevistas com moradores antigos e recentes (estes últimos construíram verdadeiras casamatas como abrigo) que afluíram em massa para o lugar. Os preços de imóveis e outros artigos de sobrevivência disparam. E o quadro termina tal como a entrevista: uma sucinta declaração de que nada do que foi dito tem comprovação cientifica.

–         Passo quatro: toda a programação (ou quase) cinematográfica está repleta dos chamados filmes catástrofes, e até mesmo em plena época Natalina.

Só estou esperando agora o clímax da campanha do Fim do Mundo, que suponho que será por estes dias – e usando os moldes do Programa radiofônico produzido por Orson Wells: A guerra dos mundos. E todo mundo sabe no que deu: a população americana entrou em pânico. E isso porque no século passado as comunicações não incluíam nada do tipo internet e outros elementos preocupantes em termos de velocidade e abrangência. A toda poderosa Globo parece que continua cada vez mais impregnada do conceito nazista, que pregava que uma mentira dita com convicção e repetida indefinidamente acaba se tornando verdade.

(*)Beth Michel

Artista plástica e escritora. Seu profundo senso de curiosidade a enveredou pelos caminhos da investigação midiática, por isso ela é a “personal Miss Marple” de Ivenio Hermes. Suas sensações cáusticas inquietantes sobre o paradoxo da sociedade estão presentes neste artigo como candidata a colunista da Carta Potiguar.

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