Rio Grande do Norte, terça-feira, 30 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 31 de janeiro de 2013

Sobre a guerra das pesquisas e as eleições-2014: alguns pitacos

postado por Daniel Menezes

A guerra das pesquisas começou cedo. Já pensando em 2014, o Instituto Consult publicou sondagem, simulando cenários eleitorais sobre a disputa para o governo do RN e para o senado.

A estratégia já é batida. Os números são lançados, como se a liderança de fulano ou beltrano expressasse um “chamado das ruas, do povo”. Depois, com a cara mais limpa, o real dono da pesquisa aparece para agradecer. Além disso, a sondagem cola – no caso, na governadora -, através da geração de índices, sua baixa avaliação.

Na verdade, a pesquisa forja realidades sob a perspectiva de que está, apenas e de modo desinteressado, descrevendo a “fotografia do momento”. Não à toa, George Gallup chamou os levantamentos de “método de manipulação da opinião pública”.

Apesar do dono do instituto, o estatístico Paulo de Tarso, alegar que a pesquisa foi feita por ele mesmo, sem a encomenda de terceiros. É pouco provável que o professor tenha desembolsado cerca de 30 mil reais, simplesmente para movimentar os alpendres da dita classe política.

A estratégia de apagar o DNA da pesquisa, ocultando o cliente e falando que está trabalhando de graça, serve para esconder os interesses por trás de um estudo aparentemente inocente.

Historicamente ligado ao grupo Wilmista, a pesquisa tem objetivo claro: levantar a bola da guerreira e seu grupo e desgastar o governo do RN. O tiro saiu pela culatra.

Ressalva feita. Vamos aos números:

AVALIAÇÃO DE ROSALBA CIARLINI

O dado mais importante foi a reprovação da governadora: 07 em cada 10 norte-riograndenses, conforme o levantamento feito com 1700 entrevistados em 58 municípios do RN sorteados, se mostraram insatisfeitos com a “Rosa”, como a governadora é insistentemente chamada pelos bajuladores.

A situação só se complica para Carlos Augusto Rosado. O primeiro-damo pode ser um craque das estratégias eleitorais. Entretanto, vem se mostrando uma criança inocente quando o assunto é se relacionar democraticamente com os movimentos sociais, sindicatos, com seus próprios apoiadores.

O ethos autoritário vem falando mais alto e dificultando a vida do DEM.

CORRIDA PARA O GOVERNO

É preciso atentar para outras questões relevantes. Os cenários traçados, simples chutes, não mencionaram Fátima ou Mineiro como candidatos ao governo do estado.

Ainda assim, vale ressaltar a liderança de Garibaldi Alves em todos os cenários em que foi testado, inclusive, contra Wilma de Faria.

Dada a alta rejeição da guerreira – só perdendo para a governadora Rosalba Ciarlini nesse quesito – se as eleições fossem hoje e caso o cenário fosse esse, Garibaldi venceria com facilidade.

CORRIDA PARA O SENADO

A maior surpresa, sem dúvida, foi a liderança da deputada federal Fátima Bezerra. Sendo testada contra Robinson Faria, Henrique Alves e Wilma de Faria, o PTista só perderia na disputa contra Wilma.

No entanto, o resultado contra Wilma não deixou de ser positivo. Se ultrapassarmos às bordas e não confundirmos desejo com realidade, veremos que Fátima ganhou a parada contra a ex-governadora também.

Com 35% das intenções de votos, Fátima ficou atrás da PSBista por apenas 2%. Porém, vale ressaltar a alta rejeição de Wilma de Faria, bem maior se comparada a de Fátima (a rejeição de Fátima Bezerra não foi testada, mas a suposição tem alta probabilidade de estar correta, até pelo histórico negativo da guerreira).

Mais. Wilma surfa num nível de lembrança bem maior no RN do que o da deputada federal.

Numa suposta disputa entre as duas, não tenho dúvida de que Fátima Bezerra levaria a parada, sobretudo, mobilizando o “novo” contra a pauta negativa (escândalos de corrupção e dados negativos de sua gestão) que atravessa a figura da atual vice-prefeita Wilma de Faria.

imagesUMA NOVA CHAPA?

Em resumo, Garilbadi e Fátima foram os dois grandes destaques da sondagem.

HENRIQUE ALVES

Cabe a Henrique, se quiser ser senador (governador?), continuar na sua estratégia de “terra-arrasada”, ou seja, tentar montar um contexto em que não exista candidato forte contra ele. Se vai conseguir… aí… são outros 1 milhão e quinhentos.

PALANQUE PSBISTA?

No atual contexto, eivado de incerteza, apostaria em Wilma para a câmara federal. A não ser que ela queira servir de esteira no RN para o presidenciável Eduardo Campos, sacrifício pouco provável.

ROBINSON FARIA

O vice-governador, que sonha com o posto máximo da administração estadual, não atingiu números expressivos. Porém, nesse momento, tão longe da eleição, não quer dizer muita coisa. Afinal, o seu pleito ainda é pouco conhecido pela sociedade norte-riograndense, além do PSDista ter atingido baixo nível de rejeição. Dependendo da coligação, sua candidatura pode ser competitiva.

CARLOS EDUARDO

Só um louco imagina que Carlos Eduardo, recém eleito e com um abacaxi enorme para descascar, é candidato ao governo do RN.

O atual prefeito de Natal precisa ainda fortalecer seu grupo político, buscar a reeleição, para, apenas na eleição posterior, entrar na disputa estadual.

Se reverter o caos em que encontrou o borboletário deixado pela sua antecessora, terá um grande cartão de visitas para mostrar em 2018.

À conferir.

SUGESTÃO METODOLÓGICA

Uma sugestão para o instituto consult. Ao invés de quantificar quem deu nota um, dois ou 10, como fez a empresa, seria mais interessante produzir uma média final das notas atribuídas pelos respondentes. Ibope e Datafolha procedem assim. É mais inteligível.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

Comments are closed.

Política

José Agripino perdido, oposição perdida

Direitos Humanos

O dia de Iemanjá e a falsa democracia religiosa no Brasil