Rio Grande do Norte, quarta-feira, 01 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de junho de 2013

Às ruas, cidadãos!

postado por David Rêgo

A sociedade contra o Estado

Há tempos nos sujeitamos aos desmandes dos acordos feitos entre “governos e grandes empresários”. Ambos são sempre beneficiados e a população sempre esquecida, sempre à margem.

Os esquecidos ergueram-se e movem-se agora diariamente por todo o país exigindo, nas ruas, aquilo que foi prometido em campanhas, anúncios, etc. etc. etc.

Temos impostos de primeiro mundo, queremos também direitos de primeiro mundo. Um dos benefícios da globalização é dar acesso ao conhecimento e este é uma poderosa arma para mover multidões.

 

A polícia e os policiais

A polícia (enquanto instituição) é o braço armado do Estado. É quem detém o “poder da violência legítima”, ou seja, só ela pode usar a violência de acordo com a lei. Historicamente o Estado não representa o povo. Sendo a polícia um brinquedo do Estado, é de se esperar que ela, enquanto instituição, dê ao povo o tratamento que o Estado quer que seja dado ao povo.

Existe aí um porém. Policiais não são pessoas que estão “no poder”. São povo e tal como o povo sofrem com os desmandes dos governantes. Vão para as ruas sem o devido preparo, sem os equipamentos necessários e com péssimos salários, péssima qualidade de vida e com os nervos à flor da pele.

O Estado, ainda maquiavélico, tenta jogar o povo contra o povo. Tenta (e consegue!) criar ódio entre aqueles que deveriam andar juntos. Lança contra os manifestantes pessoas com pouco preparo para lidar com manifestações pacíficas.  Lança contra o povo “soldados quase sempre perdidos de armas na mão”, já que não se dá ao policial o preparo devido para situações como protestos. Beto Richa (PSDB) já deixou claro que é melhor uma polícia sem nível superior (em outras palavras, “sem estudo”), que não pense por si própria. A razão? Segundo político “uma pessoa com curso superior é insubordinada, não aceita cumprir ordens de um oficial”.

O que o autor da frase esconde é que o conteúdo de algumas ordens dadas não são dignas de serem cumpridas. Existem ordens que merecem ser questionadas, mesmo quando vindas de nossos superiores, tal como fez a Coronel Cláudia Romualdo em Minas Gerais, que desacatou ordens e fez a polícia marchar ao lado do povo… Pela paz, e pela ordem!

Infelizmente o mais comum é o contrário. A polícia marchar contra o povo, para enfrentá-lo. A ironia? A população que vai às ruas luta por uma segurança pública de melhor qualidade. Os políticos, no entanto, conseguem atirar a polícia contra seus defensores. E não percebe a polícia que obedece as ordens daqueles que os oprimem, que lhes pagam péssimos salários e os mantém na condição que estão.

Temos governantes que não zelam pela ordem e pela paz. Zelam apenas por ter suas ordens atendidas sem questionamentos e seus egos afagados.

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La Liberté guidant le peuple (A liberdade guiando o povo) – Eugène Delacroix

Ainda apesar do esforço dos (maquiavélicos) governantes, são muitos os que começam a questionar as ordens enviadas e os métodos empregados. Como já se pode ver entre os comentários nas redes sociais “sou polícia, ando fardado e também sou explorado”.

É preciso sempre lembrar: não é a polícia o principal problema. Ao jogá-la contra o povo os governantes mudam o foco do problema. Jogam contra o povo o próprio povo, fazendo com que lutem entre si, tentando com isso tirar o foco da população do principal problema: a má gestão pública por parte de seus burocratas.

Lobos estão travestindo-se de cordeiros. Políticos tradicionais do RN e em todo o Brasil  já começam a falar bem dos protestos e é preciso ter muito cuidado nessa hora. São eles os grandes responsáveis pela má gestão e pela revolta do povo. Eles devem continuar a ser o alvo dos protestos.

E que o povo não os deixe dormir, que o povo faça com que se sintam inseguros, que o povo os façam tremer!

Não precisamos de líderes para nossas lutas. A liberdade há de nos guiar.

As ruas, cidadãos!

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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