Ninguém percebeu o que deveria ser óbvio. A questão não está na movimentação da oposição na Câmara Municipal do Natal, que de maneira barulhenta – mas pouco efetiva -, tentava levar o prefeito Carlos Eduardo ao poder legislativo para falar sobre trânsito, mobilidade urbana e bilhetagem eletrônica unificada. O dado objetivo – relevante – se encontra na articulação da bancada da própria base, que representa a esmagadora maioria e decide os rumos da casa.

DESCONFORTÁVEL

Ser convocado para prestar esclarecimentos é sempre desconfortável. Além da própria situação adversa, ninguém sabe o que virá do outro lado, o que será efetivamente indagado. O ambiente é ainda mais complicado – incerto – com o grupo de três vereadores mais ao extremo do espectro ideológico à esquerda.

NÃO EXISTE BOBO NA POLÍTICA

O mais notável é que os vereadores apoiadores do prefeito sabem disso melhor do que este que escreve. E como está no jardim da infância aquele que acredita em atos gratuitos, o recado foi claro: a base governista, num primeiro momento, aprovou o chamado à unanimidade do prefeito para, posteriormente, abrir uma linha de negociação com o executivo municipal. Impor uma derrota – ou deixar o gestor perder – é um recurso que os parlamentares têm de pressionar, de afirmar: queremos ser ouvidos, temos demandas represadas.

“CHANTAGEM”

Em suma, o problema não está na oposição, mas nos vereadores que dão sustentação ao prefeito. Eles mandaram um recado claro. Júlio Protásio, líder do prefeito, entendeu bem o aviso dos governistas, que ainda fizeram constar no novo requerimento, agora, apenas para levar ao banco da CMN, a secretária de mobilidade urbana Elequicina Medeiros: se as informações prestadas por ela não forem suficientes, a gente convoca o prefeito. Ou seja, os parlamentares deixaram um espaço aberto para posições renegociações.

TIRO NO PÉ

Me parece, digamos, pouco estratégico criticar o prefeito pelo transitório congestionamento do trânsito em Natal, como alguns vereadores vêm fazendo. Hoje, o trânsito é grande. A população reclama. Amanhã, quando as obras estiverem prontas, o vereador será enquadrado como aquele que foi contra as melhorias na cidade. E o eleitor irá concordar.