Rio Grande do Norte, sábado, 04 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 11 de fevereiro de 2015

Um paralelo entre tênis e futebol espanhol

postado por Rafael Morais
Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Quem acompanha o circuito masculino de tênis, sabe que vivemos uma era de três grandes gênios desse esporte, o suíço Roger Federer, maior de todos os tempos com 17 títulos de grand slam, os 4 torneios principais da modalidade (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open), o espanhol Rafael Nadal com 14 canecos e o sérvio Novak Djokovic com 8 conquistas. Somando, temos 39 conquistas do trio nos últimos 49 grandes torneios, uma hegemonia fantástica e espantosa.

O sérvio buscou seu espaço quando todos pensavam que o domínio da dupla Federer/Nadal iria durar por muito tempo sem intromissões. É claro que Federer começa a sentir o peso da idade (quase 34 anos) e Nadal convive com lesões originadas de seu jogo de enorme entrega física, mas não dá pra tirar os méritos do talento e persistência do Djoker que também se coloca a cada troféu entre as lendas do esporte.

Com os três em forma, percebeu-se cerca de dois a três anos atrás que o sérvio achou a forma de ganhar de Nadal, vencedor por sua força mental em conseguir reverter situações complicadas nos jogos e explorar o erro do adversário, principalmente o jogo de classe e plasticidade de Federer, o qual viu no espanhol o seu grande algoz mental. Djokovic, então, evoluiu física e mentalmente para anular o jogo de Nadal, conseguindo o antídoto para o poder do touro espanhol, mas em contrapartida não conseguia anular o tênis tecnicamente perfeito de Federer. Chegou-se então a um período que ficou claramente com a situação de Nadal ganhar de Federer, que ganhava de Djokovic, que ganhava de Nadal. Uma espécia de ciclo vicioso entre três gênios, envolvendo táticas, estratégias e antídotos entre eles, sempre com jogos emocionantes e batalhas inesquecíveis pelas quadras de tênis.

Nesse ponto é que chego ao tema do título. Depois de tanto tempo de pleno domínio da dupla Real Madrid e Barcelona no futebol espanhol, um incrível Atlético de Madrid, bem menos favorecido financeiramente, chega e compete de igual pra igual.

Real Madrid e Barcelona fazem uma rivalidade de décadas entre as principais cidades espanholas, com grandes astros, títulos e muito dinheiro envolvido. O Real sempre gastando milhões de euros para compor seus elencos (é só lembrar dos Galáticos do começo dos anos 2000 com Ronaldo, Zidane, Beckham, Figo, Raul, Roberto Carlos, entre outros astros) e o Barcelona com seu estilo de revelar jogadores nas categorias de base e sempre jogar com a bola nos pés, sendo o precursor do estilo tiki-taka, que fez o time de Xavi, Iniesta e Messi ser reconhecido como o melhor do mundo entre 2009 e 2012 e a Seleção da Espanha campeã do Mundo em 2010.

Desde a temporada 2004 quando o Valência foi o último estranho no ninho dos dois grandes a levantar o campeonato espanhol, Real e Barça se revezaram como donos absolutos da liga espanhola, o que gerou críticas ao nível do futebol de clubes daquele país em relação ao abismo entre os 2 gigantes e os demais clubes. Até que na última temporada, o Atlético de Madrid, ressurgindo das cinzas, heroicamente levou o caneco na última rodada e parece querer permanecer entre os grandes a partir de agora.

O último título nacional atleticano tinha sido em 1996. De lá para cá, o clube viveu grave crise financeira, sendo rebaixado e tendo amargado a 2ª divisão espanhola por duas temporadas entre 2000 e 2002. Diego Simeone, argentino, ex-volante do clube no último título, chegou como treinador em 2011 e já na primeira temporada levou o clube de volta as glórias com o título da Liga Europa de 2012.

Mas faltava disputar cabeça a cabeça com Barça e Real pelos títulos principais. Com um elenco mesclado por veteranos e jovens talentos e trazendo ótimos jogadores para posições estratégicas sem gastar loucuras como fazem os rivais, o Atlético com excelente padrão tático, solidez defensiva e muita garra em campo conquistou o campeonato espanhol e chegou na final da Champions League em 2014, só perdendo o título na prorrogação para o Real. A Europa quase veio, mas a Espanha voltou a ter uma terceira força. Na atual temporada, o time colchonero disputa novamente o título espanhol com os gigantes, estando a poucos pontos deles.

A semelhança com o tênis é que o Atlético assim como Djokovic encaixou a maneira de jogar para enfrentar o Real Madrid (o Rafael Nadal), o que se vê nos últimos seis jogos entre os rivais, dois foram empate e os outros 4 terminaram com vitória colchonera, inclusive com sonora goleada de 4×0 na semana passada. Por outro lado, o estilo de raça e marcação agressiva atleticano parece não encaixar quando o rival é o Barça, aqui comparado a Federer, com seu toque de bola e um habilidoso e inspirado trio sulamericano de craques Messi-Neymar-Suarez. Em três confrontos na atual temporada, três vitórias barcelonistas. Por sua vez, o estilo Federer do Barcelona não se encaixa contra o Real Madrid-Nadal, que espera e sai em rápidos e mortais contra-ataques principalmente com o melhor do mundo, Cristiano Ronaldo. Na atual Copa do Rei, o Barça permanece na briga pelo título após eliminar o Atlético de Madrid, que na fase anterior havia eliminado justamente o Real. O círculo de antídotos e estratégias se repete.

A volta da terceira força veio com uma história de superação e em ótima hora. A excelência na administração de recursos e elenco do Atlético já vem influenciando outros clubes como Valência e Sevilla a crescer para disputar com os milionários num médio e longo prazo, mesmo com orçamentos bem mais modestos. Que bom! Se as coisas continuarem competitivas e emocionantes tanto no circuito masculino de tênis quanto no futebol espanhol, os amantes do tênis e/ou do futebol agradecerão!

*Texto enviado pelo amigo e colaborador Tony Vitorino Júnior

Rafael Morais

Comunicador Social pela UFRN. Experiência em assessoria de imprensa esportiva e atuação em televisão. Áreas de interesse: literatura e esportes em geral, com ênfase no futebol como a "teatrialização das relações humanas".

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