Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 17 de março de 2015

Futebol de terno e gravata: O que falta para ABC e América terem uma gestão profissional de verdade?

postado por Rafael Morais

Imagem.ashxSe por um lado o “futebol dito moderno” deixou pra trás muito da emoção e do sentido lúdico que o esporte proporciona, por outro, há cada vez mais a busca por um profissionalismo além do papel. A última moda do futebol brasileiro, e isso já vem ocorrendo de uns cinco anos pra cá, e é algo que materializa o que eu afirmei nas linhas anteriores, é a profissionalização dos departamentos de futebol.

É algo que boa parte dos clubes médios e grandes já adotam há algum tempo. Funcionou em alguns, como no caso do Cruzeiro, que domina o futebol brasileiro há duas temporadas. Inclusive, já existe um mercado vasto de profissionais exercendo a função de Diretor de Futebol. O grande nome do momento é sem dúvida Alexandre Mattos, bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro e atual Diretor do Palmeiras, que o contratou a peso de ouro para a temporada 2015.

É o futebol vestindo terno e gravata. O que está ocorrendo é que os clubes estão contratando profissionais remunerados com conhecimento técnico, administrativo e contábil para exercer a função e cuidar de contratações, planejar formações de elencos, definir orçamentos, traçar objetivos e metas, mediar conflitos e outros assuntos que possam surgir no dia a dia. Na verdade a função sempre existiu, só que antes era exercida por diretores voluntários, os chamados abnegados, muitas das vezes sem a capacitação adequada para alcançar bons resultados.

E como eu comentei anteriormente, os clubes menores também têm aderido a essa estratégia. Aqui em Natal, por exemplo, o ABC acertou com Rodrigo Pastana, que já exerceu o cargo em clubes de Santa Catarina, euquanto que o América atualmente não possui um diretor remunerado na função, Eliel Tavares trabalha voluntariamente, mas num passado recente teve Sérgio Papelin. Só que infelizmente isso não tem sido suficiente para o crescimento do futebol potiguar, tendo em vista os seguidos fracassos – más campanhas, endividamento, rebaixamentos – dos clubes do Rio Grande do Norte nas competições quem disputam.

Mas por que isso acontece? Não é tão difícil chegar a uma conclusão. É evidente a necessidade e louvável a adoção do diretor remunerado de futebol. Isso inclusive é uma tendência mundial. A figura do diretor remunerado e capacitado liberta o clube de ações viciadas de antigos diretores despreparados. Por mais de uma vez, principalmente depois que me afastei dos bastidores do ABC, onde trabalhei por vários anos e fui testemunha do que estou relatando, cobrei a profissionalização da gestão dos nossos clubes. Sempre disse em alto e bom som que precisamos dos nomes certos nos cargos corretos. Cada qual no seu departamento, com suas metas e buscando os seus resultados.

E é nesse ponto que eu encontro a explicação para que os nossos clubes não conquistem grandes feitos. O que ocorre é que aqui a profissionalização é realizada ainda de forma muito tímida e fragmentada. A gestão esportiva não pode ser encarada apenas através de um departamento, mesmo que este seja o núcleo mais importante de uma agremiação. Assim como o departamento de futebol, os diversos setores devem também ter profissionais capacitados. E mais, devem conversar entre si. Ter um planejamento unificado. A principal fonte para a conquista das vitórias ou derrotas dos clubes são os jogadores. Para contratá-los, é preciso ter renda e investimento, e isso não é proporcionado unicamente por um Diretor de Futebol.

ABC e América precisam promover uma profissionalização mais ampla. É necessário que os demais departamentos também recebam profissionais remunerados, comprometidos com os resultados. O Cruzeiro campeão brasileiro, o Corinthians e o Inter, campeões do mundo, e até o Palmeiras de 2015, não conquistaram o sucesso por acaso. Há muito mais que apenas um diretor de futebol envolvido. O Palmeiras, recentemente, chegou aos 100 mil sócios e possui a camisa mais valorosa do Brasil. Fica a dica: de nada vai adiantar pagar um salário alto a um Diretor de Futebol se ele não tiver o respaldo técnico e financeiro de outros setores para formar um time vencedor dentro das quatro linhas.

Rafael Morais

Comunicador Social pela UFRN. Experiência em assessoria de imprensa esportiva e atuação em televisão. Áreas de interesse: literatura e esportes em geral, com ênfase no futebol como a "teatrialização das relações humanas".

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