Rio Grande do Norte, quinta-feira, 09 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 28 de setembro de 2015

Até onde vai seu preconceito?

postado por Carta Potiguar

Por Handersson Barros

Hoje de manhã despertei aflito de um pesadelo. Tive um sonho bizarro em que todas as pessoas falavam a verdade, o que sentiam e o que pensavam – mas isso não seria bom? -. Nesse sonho não havia moralismo, preconceito ou o “politicamente correto”. As pessoas falavam o que vinha na telha. – mas isso é ótimo? – também pensava dessa forma até ter esse maldito pesadelo. O que vi foram pessoas falando mal uma das outras, vi xingamentos explícitos, homofobia, misoginia, machismo, transfobia, racismo e todas as formas de preconceito e opressão existentes.

Não estou aqui cantando uma ode ao preconceito ou mesmo validando sua prática; ao contrário, penso que o julgamentos-estereotipos-e-preconceitos-290269-8moralismo e seus arraigados são na verdade formas de ignorância revestidas por hábitos. Mas será que todas as pessoas têm preconceitos? Certamente sim. A categorização é uma das formas que nossa mente encontrou para economizar tempo, atenção e nos prevenir frente às adversidades. Esse artifício mental é adaptativo e utilizado com constância no nosso dia-dia. Categorizamos objetos, lugares, sentimentos e, infelizmente, pessoas. Quando uma avaliação de valor é aplicada sobre as categorias têm-se os estereótipos; quando uma avaliação afetiva é empenhada sobre as categorias têm-se os preconceitos. A expressão desses traz consigo a discriminação, esta ocorre quando indivíduos são tratados de forma diferente por pertencerem a determinado grupo, tal distinção pode beneficiar ou prejudicar a pessoa discriminada.

O problema se dá quando tentamos distinguir o afeto e o valor das coisas – se é que isso é possível -. Nesse sentido, caímos no antagonismo cartesiano razão x emoção que até hoje quebra a cabeça de muitos filósofos. Apesar de ainda haver discordância entre os cientistas sobre essa distinção, pode-se notar atualmente uma desconstrução do binômio cognição x emoção, esta última passando a representar parte da primeira. Em outras palavras, a emoção passa a ser considerada como parte da cognição.

Nesse contexto, podemos montar um breve silogismo para melhor compreender a afirmação feita no segundo parágrafo sobre todas as pessoas terem preconceitos. Vejamos bem: todas as pessoas categorizam; toda categoria trás consigo um avaliação afetiva; toda avaliação afetiva sobre as categorias resulta em preconceitos. Logo, todas as pessoas têm preconceitos. – Mas como? Eu sempre fui politicamente corretx; tenho plena certeza de não ter preconceito algum -. Dostoiévski explicita bem essa questão quando “pré-conceitua”: Todo homem tem recordações que ele não diria a ninguém, a não ser aos seus amigos. Também possui outras lembranças na sua mente que não revelaria mesmo aos seus amigos, mas apenas a ele próprio, e assim mesmo em segredo. Mas há outras coisas que um homem tem medo de dizer até a si próprio e todo homem decente tem um certo número dessas coisas guardadas na mente.” Nessas linhas o autor demonstra que existem pensamentos os quais escondemos da nossa consciência, quando tais pensamentos são preconceitos se constitui o que chamamos na psicologia de preconceito implícito. Apesar de ser mais velada, tal forma de julgamento pode nos levar a agir de forma preconceituosa com outros, mesmo sem nos darmos conta disso.

      Neste momento você deve estar se perguntando: – então como posso saber se estou agindo de forma preconceituosa com um certo grupo?- Frente a questionamentos desse tipo um grupo de cientistas da Harvard University desenvolveu o Implicit Association Test (IAT), o qual, felizmente, já foi traduzido para o português e pode ser facilmente encontrado no Google como “Teste de Associação Implícita” (TAI). Qualquer um, gratuitamente, pode realizar o teste e receber o resultado na hora. O TAI se distribui em sete modalidades: Gênero, Sexualidade, Cor da pele, Raça, Países, Idade e Peso. O teste basicamente mensura atitudes e crenças que não queremos ou não conseguimos revelar, desse modo expondo alguns preconceitos que possuímos e muitas vezes não nos damos conta.

      Voltando ao pesadelo, se o que impede uma pessoa de expressar seus reais pensamentos não existisse como seria a sociedade? Responderia que seria perfeita; até ter meu pesadelo. Pensava que a causa do preconceito fosse o moralismo chulo, mas vejo que esse serve apenas para encobrir a sua feia face. É vestindo a expressão do preconceito que o moralismo estrutura o edifício da opressão.

Admitir que fazemos prejulgamentos com relação as pessoas não equivale a aprovar ou apoiar tal prática; recusar esse fato não resolve a problemática que o constitui – por mais difícil que seja aceita-lo-.Uma melhor compreensão sobre essa temática é a via de saída para diminuir o preconceito e todas as suas reverberações na sociedade.

Carta Potiguar

Conselho Editorial

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