Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de maio de 2019

O COMEÇO DO FIM #15M

postado por Mateus Venceslau

A crise nas democracias liberais evidenciam sua alta rejeição a ela, não a democracia, mas sim a democracia liberal. Sua crise de legitimidade e representação levaram e levam milhares de pessoas as ruas, como na Espanha, Reino Unido e por toda Europa, inclusive na América Latina. Em 15 de maio, vimos que, não há mais como governar sem o povo (se é que algum dia se governou com e para o povo), calcula-se, segundo os organizadores das manifestações, que em média 1,5 milhões de pessoas estavam nas ruas em mais de 200 cidades para protestar contra o corte de mais de 30% na educação. Tais manifestações são as maiores desde as manifestações que fomentaram o golpe parlamentar que depôs a Dilma Rousseff.

As demandas latentes, de uma sociedade tão marcada pela desigualdade só precisam de uma medida impopular diante de uma crise de legitimidade para que, tal sociedade tome as ruas. O que ocorreu em 2019 dia 15 de maio foi não só protestos contra os cortes na educação, mas atos de repúdio ao novo governo autoritário instalado no Brasil.

Não foram várias pautas, foi apenas uma, a da educação, que foi capaz de mobilizar 1,5 milhões de pessoas a irem as ruas protestarem contra os cortes.

O desgoverno de Bolsonaro já demonstra seu fim, a partir do momento em que ele não sabe para onde caminhar, assim como um bêbado caminha, a passos tortos. Pois, demandas latentes da sociedade não estão sendo escutadas, mas sim atacadas. 15 de maio ficou claro, que seu governo começa a ruir pelas mãos do povo. Não há como esperar melhoras de um governo fascista e autoritário que chama sua população de “idiotas úteis”, não há como haver representatividade em um governo desses, que governa para uma ínfima elite. Este governo, começou fadado ao seu fracasso, a cada passo que ele dá com suas medidas impopulares ele afunda cada vez mais rumo ao seu fim.

A crise que o Governo anuncia como desculpa para cortes de gastos, não é uma crise, mas um projeto ultraliberal. Modelo este que já se comprovou fracassado por todo o globo e o mesmo modelo que leva milhares de pessoas as ruas para derrubar um governo.

Vemos os movimentos estudantis atuarem em massa desde o seu surgimento, na ditadura militar, na ocupação das escolas entre 2015 e 2016 e agora contra os cortes na educação. Isso mostra a força de tais movimentos e sua capacidade de mobilização, 15 de maio mostra que eles não sumiram e que não estavam tão enfraquecidos quanto dizem.

Nas ruas víamos em sua maioria estudantes e professores, porém várias outras áreas e movimentos se juntaram em uma luta unificada em defesa da educação. Pode-se notar que, agora os movimentos sociais com todas as suas diferenças se unem contra o Governo autoritário, as diferenças desses movimentos sociais agora são menores comparadas as diferenças com os ideais do governo.

O fim do Governo começa pelas ruas, quando a massa da população toma as ruas pela educação. E como ela tomará as ruas em vários outros atos que estão para ocorrer.

O fim começou com a crise nas democracias liberais, que tentaram conciliar direitos sociais com a exploração do mercado. Esses pactos não funcionam mais, democracia e liberalismo foi e continuará sendo uma união problemática, onde a crise é o único meio operante, onde sua representação estará sempre a prova.

O que vemos ocorrendo no Brasil, e o que vimos em 15 de maio é a prova dessa ruptura entre a imagem de governados e governantes, não há mais consenso.

Observando o cotidiano, pós 15 de maio, presenciei inúmeras cenas de pessoas conversando sobre o ato e sobre a situação política brasileira, o assunto mais falado no cotidiano brasileiro não é mais a novela ou a fofoca, mas a política, a sociedade em que vivem. Uma população que emergente da paralisação do imaginário, agora debate política, vai as ruas, agora a política é o assunto central de suas conversas.

As contradições internas do próprio governo são alimentos para emergir questionamentos e ódio da população com seus governantes. A saída para se governar? O autoritarismo, os cortes de gastos e a repressão contra grupos minoritários é a forma que tal Governo consegue operar. Mas esse seu modo de operar é o que colocara fim nele.

Por fim, agora temos uma sociedade descontrolada, em que não aceita mais a velha política e não aceitara qualquer medida impopular tão facilmente, muito menos seu representante que não os representam. As vias institucionais não são mais o meio, agora o meio se tornou a rua, tomar as ruas e mostrar que a população tem poder, tem voz e deve ser ouvida. Os embriões da liberdade (Manuel Castells, 2018) são os jovens que lutam contra esse Governo fascista e autoritário, são eles que irão mostrar que com educação e os direitos sociais não se brinca, nem muito menos ataca, Bolsonaro decretou o fim de seu governo antes mesmo de tomar posse.

Mateus Venceslau

Graduado em Ciências Sociais pela UFRN. Mestrando em Ciências Sociais pelo PPGCS-UFRN. Pesquisador associado ao Grupo de Pesquisa Social (GPS) e membro do Observatório da Democracia no RN.

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