Rio Grande do Norte, quarta-feira, 01 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de janeiro de 2020

Severino

postado por Túlio Madson

Severino

Há muitos severinos nesta freguesia, já dizia o poeta. Há certa sabedoria popular manifestada na escolha dos nomes mais comuns de uma região, refletem os anseios e o imaginário local. Se a existência é severina, esta terra é mais. Pensei em escrever sobre severinos e nas minhas andanças virtuais vi que hoje é dia de São Severino. Se fosse místico diria que era sinal dos céus, como não sou, tornou-se mais uma motivação para escrever estas linhas em defesa da necessidade de cultivarmos certa severidade. Quando a severidade é serena, ela é severina. Uma severidade assertiva.

Asseverar (ad-severar) não é pedir, pois afirma, nem interrogar, pois exige certeza, tampouco é declarar ou exclamar, já que é preciso comprometimento; o que a distingue destas categorias é certa segurança, certa convicção sobre a afirmação proferida. Asseverar é mais do que afirmar, pois exige uma vinculação com o enunciado proferido. Mas cuidado, o assertivo não é o que está sempre certo. Toda asserção pode ser verdadeira ou falsa, o que garante seu caráter assertivo é a sinceridade, o comprometimento e a responsabilidade pelos seus enunciados. São Severino tinha vida monástica, severa, mas quando diante dos reis era preciso ser assertivo, ele também o era.

O assertivo é severo porque é honesto com suas convicções. A severidade que gera teimosia ou intolerância não é assertiva, daí a necessidade da honestidade com nossas convicções. A convicção que é apenas resistência ao novo, tende a segregação e a imobilidade; já a convicção que sabe ser resiliente, moldar-se ao fluxo dos acontecimentos, traz segurança e serenidade. É preciso estar convicto de modo sereno, isto é, de modo leve, é preciso sorrir de nossas certezas. Nem totalmente passivo a ponto de se perder nas convicções alheias; nem totalmente ativo a ponto de não considerar o outro: a resultante deste equilíbrio produz o assertivo.

Os severos severinos, assertivos, continuam vivendo sertão adentro, adaptando-se, em outras vidas e outros nomes. Precisamos aprender sua lição:

É preciso ser severo, sem deixar de ser sereno.

Túlio Madson

Colunista na Carta Potiguar desde 2011. Professor e doutorando em Ética e Filosofia Política pela mesma instituição. Péssimo em autodescrições. Email: tuliomadson@hotmail.com

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