Rio Grande do Norte, domingo, 05 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 5 de maio de 2021

Para cada notícia falsa, uma checagem de fato: sobre o cansaço na pós-verdade

postado por Joao Paulo Rodrigues

Já tem algum tempo que as notícias falsas têm me incomodado. Na verdade, elas têm me deixado agoniado. Aprendemos cedo, assim que surgiu a tal da “pós-verdade”, que devemos checar cada informação que se pretende verdadeira, a fim de saber se ela corresponde aos fatos.

Apesar de ser cansativo, checar os fatos de uma informação é um hábito saudável. O que me incomoda mesmo é o esvaziamento da informação, ou melhor dito, o esvaziamento da comunicação. Outro dia, me peguei lendo umas três notícias, sem lhes dar a devida atenção. Elas me pareceram interessantes, porém, me vi na necessidade de checar se correspondiam aos fatos – não importa se a informação advém de um jornal respeitável ou se é proveniente de um blog sem atestado de credibilidade; temos de conferir as informações lidas.

Veja, reitero, não estou reclamando da necessidade de atestar a veracidade de uma informação. Não tenho a menor preguiça de pesquisar sobre os temas e informações que me interessam. O que tem me deixado “fastiado” é a falta de sentido que se atribui às notícias e aos comunicados.

Quer dizer, o novo procedimento metodológico é ler uma matéria de jornal, por exemplo, atestar sua veracidade para, só depois, voltar ao texto e ler com a leveza de que pelo menos o conteúdo que está ali é procedente, de modo a ser possível esboçar alguma opinião.

Talvez seja um mal-estar de pouca importância. Talvez não tenha importância alguma. Mas, sei lá, senti que algo mudou na era da “pós-verdade”, para além da realidade das fakes news. Não é a suspensão de opinião aligeirada que me afeta, é a perda de sentido conferido às comunicações, de qualquer natureza, que fadiga.

Essa percepção me veio à mente porque sempre me achei crítico em relação ao que se produzia em termo de comunicação informativa. Entretanto, não tinha me dado conta de que pelo menos havia substância nos escritos. Hoje, nem isso se tem mais.

Contudo, o que fazer, desistir de ler, desistir de checar as informações? Pelo contrário, temos de continuar a chegar os fatos, a partir de novas metodologias de abordagens, e compreender que talvez Bauman, o sociólogo da liquidez, estivesse certo quando parafraseou Marx, ao assentir que “tudo que é sólido se desmancha no ar”.

Joao Paulo Rodrigues

Graduado, especialista, mestre e doutorando em Filosofia (UFRN). Especializando em Literatura e Ensino (IFRN) e curioso pela ciência da grafodocumentoscopia.

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