Rio Grande do Norte, quinta-feira, 02 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 14 de março de 2013

Karl Marx, 130 anos de um legado vivo

postado por Alyson Freire

images (3)Há 130 anos morria o homem Karl Heinrich Marx (1818-1883). Mas o pensador revolucionário e sua obra persistiram ao perecimento do corpo e à “crítica roedora dos ratos”. Nem a morte, o tempo, as ideologias contrárias, a ausência de títulos universitários, os partidos burocratizados e ditadores e as experiências autoritárias do socialismo real foram capazes de enterrar Marx e o seu legado filosófico e político. Ao lado de seu amigo e interlocutor intelectual Friedrich Engels, Karl Marx foi um acontecimento no pensamento e na história da humanidade em geral e do ocidente em particular.

Junto ao seu nome, os mais diversos e antagônicos sentimentos e ideais se reuniram; admiração, idolatria, ressentimento, ódio, igualdade, liberdade, justiça, opressão, autoritarismo, dogmatismo. Se Marx, com a devida justiça, foi admirado e reconhecido pelos seus feitos intelectuais e por seu papel moral por grandes intelectuais e personalidades do século XIX e XX, foi, também, por outro lado, idolatrado e difamado com a mesma ênfase por outros tantos grandes intelectuais e personalidades do período. Seu pensamento e obra nunca foram unanimidade.

Ainda que não tenha sido o autor que cunhou o nome capitalismo, Karl Marx foi o pensador que produziu a mais fantástica síntese explicativa deste aglomerado de práticas econômicas, relações sociais, tecnologias, lógicas produtivas a que hoje chamamos de uma maneira tão simples e natural de “sistema capitalista”. Um esforço e um talento extraordinário foram necessários para conceber e reunir, numa totalidade conceitual, as conexões de sentidos e as relações lógicas entre elementos da realidade e da história que até Marx não eram de modo algum evidentes e inteligíveis. A clareza que temos atualmente das principais estruturas e da dinâmica do capitalismo a devemos à lucidez e ao talento do autor de O Capital.

Como somente os grandes espíritos são capazes, Karl Marx trouxe à superfície o sentido último de uma época, que, para o filósofo e economista, poderia ser traduzido na ideia de contradição que parecia impregnar todas as conquistas, progressos e invenções das quais se orgulhavam a cultura moderna e a burguesia. Cada uma delas trazia o seu contrário e corolário para a dominação, alienação e apequenamento do homem pelo homem e pelas coisas.

O filósofo alemão de origem judia, munido do método dialético, da noção de luta de classes e de sua teoria da alienação, do fetichismo e da exploração, revelou alguns dos principais fundamentos das sociedades industriais do século XVIII e XIX. Desvendou seus segredos e opacidades estruturantes. Em sua pena, a natureza da produção de riquezas, a natureza da divisão da sociedade capitalista, a natureza da relação do trabalhador com o seu trabalho, a natureza mistificada da realidade burguesa e a natureza do movimento da história vieram à luz de um modo novo e desconcertante.

Com rigor e sem piedade, Marx pôs à nu as mais duras realidades do capitalismo do século XIX. Mas, nem por isso, perdeu a sensibilidade. As referências e os estudos mais áridos de Aristóteles, dos economistas clássicos e de Hegel não o fizeram deixar de lado desbravadores da alma humana como Shakespeare, Goethe e Balzac, aos quais por várias vezes ele recorreu para dar vida, imagem e compreensão aos raciocínios que elaborava sobre a forma de vida e das relações sociais capitalistas.

A capacidade de Marx em desvendar realidades opacas servia não apenas à interpretação do mundo pelos filósofos e outros sábios, mas também à transformação do mundo pela classe trabalhadora. A interpretação do mundo que nos brindou Marx só fazia sentido para o pensador enquanto não se perdesse do horizonte a transformação deste mesmo mundo que ele tanto contribuiu para esclarecer.

É bem verdade que ao redor do seu nome, formaram-se estruturas burocráticas, doutrinas e seguidores a fazer inveja a qualquer grande líder religioso e político mundial. E que a interpretação “verdadeira” de seus textos e conceitos foi, e ainda é, alvo de disputas tão acirradas quanto de qualquer outra ortodoxia. Tudo isso oblitera, distorce e obscurece o pensamento de Marx, assim como, também, dificulta uma avaliação ponderada e justa acerca de sua contribuição, atualidade e limites. Porém, Marx e o marxismo resistem à ortodoxia e ao dogmatismo.

Importa entender como o pensamento e o nome de Marx estão imersos nos movimentos da história e dos interesses e lutas que a movem. Regimes foram erguidos sob a inspiração de seu pensamento, tantos outros combatidos e abalados temporariamente. A defesa de atos autoritários e violentos tomou igualmente emprestada à força mítica do nome Marx para justificar as mais atrozes barbaridades e, assim, assegurar a estabilidade de regimes totalitários e as ditaduras das elites burocráticas do partido.

Em contrapartida, as lutas sociais do século XIX e XX, das quais resultaram muitas das principais conquistas sociais e jurídicas de ampliação da cidadania e da dignidade humana, colheram no autor do Manifesto Comunista a energia política e intelectual indispensável para o êxito dos propósitos perseguidos e a formulação dos problemas que elas procuravam combater e resolver. Marx foi, e continua a ser, uma das principais fontes dos sentimentos de indignação social e política. Rebeldes, revoltosos e indignados de todas as épocas voltaram e voltarão ao seu pensamento.

Para onde se olha na história e no pensamento dos últimos séculos, uma mesma conclusão é inevitável; Marx foi um acontecimento singular na cultura e na história o qual nada nem ninguém pode ignorar. Enquanto o mundo capitalista durar e a cada nova crise desse sistema, Marx, como um cometa luminoso a rondar sempre por perto, continuará a assombrar àqueles que lutam para preservar o capitalismo a todo custo.

Alyson Freire

Sociólogo e Professor de Sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN).

One Response

  1. Dizem que o marxismo é o ópio dos intelectuais.Isso até queda do muro de Berlim era quase uma regra.Hoje os que se consideram marxistas são considerados Dinoussauros ou pessoas que são incapazes de perceber que a mudança é inexorável,ainda que para o pior.Quando estava na Faculdade conheci um colega dogmático e partidário do PSTU, quando eu queria o tirar do sério dizia que Marx estava fora de moda, e ele retrucava:agora virou prática falar mal Marx.O grande problema dos historiadores marxistas é querer explicar os fatos históricos a partir das estruturas econômicas sem levar em conta os aspectos culturais.Interesante esse meu colega me chamava de marxista,simplesmente por que eu sou um defesor do MST.Não sou,mas sou simpatizante de muitas das teses do velho Marx,porém seus presupostos quando postos em práticas foram desvirtuados ou se tornaram opressivos.Parece que estamos fadados viver sob opressões,seja, no Socialismo,seja, no Capitalismo.Este último criou uma ideologia que para muitos parece acreditar está vivendo no paraíso,quando na verdade somos escravos do poder do dinheiro e desse consumismo exagerado que deixa seus escravos doentes.

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