Rio Grande do Norte, terça-feira, 14 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 4 de janeiro de 2010

Para entender a sociologia – os clásssicos (material estudo)

postado por David Rêgo

Segue abaixo apostila seguida de lista de exercícios e respectivas respostas que servirá como um roteiro de estudos para a prova. Todo aluno que coseguir responder todas as questões tem 90% de chances de tirar uma ótima nota. É isso, abraço para todos!

Segue:

O PENSAMENTO DE DAVID ÉMILE DURKHEIM

Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês. É considerado por muitos o pai da sociologia moderna. Seus esforços concentram-se na reflexão e no reconhecimento da existência de uma “Consciência Coletiva”. Parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste. A consciência coletiva seria formada durante a nossa socialização e composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. Suas principais obras são: Da divisão do trabalho social, As regras do método sociológico, O suicídio e As Formas elementares da vida religiosa.

 

1 – O que é um fato social?

Há em toda sociedade um grupo determinado de fenômenos que se distinguem por caracteres definidos daqueles que as outras ciências da natureza estudam. Quando desempenho minha tarefa de irmão, de marido ou de cidadão, quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que estão definidos, fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Ainda que eles estejam de acordo com meus sentimentos próprios e que eu sinta interiormente a realidade deles, esta não deixa de ser objetiva; pois não fui eu que os fiz, mas os recebi pela educação. Eis aí, portanto, maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam essa notável propriedade de existirem fora das consciências individuais.

Esses tipos de conduta ou de pensamento não apenas são exteriores ao indivíduo, como também são dotados de uma força imperativa e coercitiva em virtude da qual se impõem a ele, quer ele queira, quer não. Se tento violar as regras do direito, elas reagem contra mim para impedir meu ato, se estiver em tempo, ou para anulá-lo e restabelecê-lo em sua forma normal, se tiver sido efetuado e for reparável, ou para fazer com que eu o expie, se não puder ser reparado de outro modo. Em outros casos, a coerção é menos violenta, mas não deixa de existir. Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao vestir-me, não levo em conta os costumes observados em meu país e em minha classe, o riso que provoco, o afastamento em relação a mim produzem, embora de maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que uma pena propriamente dita. Ademais, a coerção, mesmo sendo apenas indireta, continua sendo eficaz. Não sou obrigado a falar francês com meus compatriotas, nem a empregar as moedas legais; mas é impossível agir de outro modo. Se eu quisesse escapar a essa necessidade, minha tentativa fracassaria miseravelmente. Sendo Industrial, nada me proíbe de trabalhar com procedimentos e métodos do século passado; mas, se o fizer, é certo que me arruinarei. Não há inovador, mesmo afortunado, cujos empreendimentos não venham a deparar com oposições desse tipo.

Eis, portanto, uma ordem de fatos que apresentam características muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele.  Entretanto, como os exemplos que acabamos de citar consistem todos em crenças e em práticas constituídas, poder-se-ia supor que só há fato social onde há organização definida. Mas existem outros fatos que, sem apresentar essas formas cristalizadas, têm a mesma objetividade e a mesma ascendência sobre o indivíduo. É o que chamamos de correntes sociais. Assim, numa assembléia, os grandes movimentos de entusiasmo ou de devoção que se produzem não têm por lugar de origem nenhuma consciência particular.

Eles nos vêm, a cada um de nós, de fora e são capazes de nos arrebatar contra a nossa vontade. Certamente pode ocorrer que, entregando-me a eles sem reserva, eu não sinta a pressão que exercem sobre mim. Mas ela se acusa tão logo procuro lutar contra eles. Que um indivíduo tente se opor a uma dessas manifestações coletivas: os sentimentos que ele nega se voltarão contra ele. Somos então vítimas de uma ilusão que nos faz crer que elaboramos, nós mesmos, o que se impôs a nós de fora. Quando se observam os fatos tais como são e tais como sempre foram, salta aos olhos que toda educação consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não teria chegado espontaneamente. Desde os primeiros momentos de sua vida, forçamo-las a comer, a beber, a dormir em horários regulares, forçamo-las à limpeza, à calma, à obediência; mais tarde, forçamo-las para que aprendam a levar em conta outrem, a respeitar os costumes, as conveniências, forçamo-las ao trabalho, etc., etc. Se, com o tempo, essa coerção cessa de ser sentida, é que pouco a pouco ela dá origem a hábitos. A educação tem justamente por objeto produzir o ser social.

Podemos assim representar-nos, de maneira precisa, o domínio da sociologia. Ele compreende apenas um grupo determinado de fenômenos. Um fato social se reconhece pelo poder de coerção externa que exerce ou é capaz de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se reconhece, por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a toda tentativa individual de fazer-lhe violência. É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais.

 

2 – Regras relativas à observação dos fatos sociais

A primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos sociais como coisas. É coisa todo o objeto de conhecimento que não é naturalmente apreendido pela inteligência, tudo aquilo que não podemos adquirir uma noção adequada por um simples processo de análise mental, tudo que o espírito só consegue compreender na condição de sair de si próprio, por via de observações e de experimentações, passando progressivamente das características mais exteriores e mais imediatamente acessíveis às menos visíveis e às mais profundas.

Para mostrar bem o quanto essa cautela é necessária, façamos ver, por alguns exemplos, em que erros se incorre quando ela não é respeitada e sob que luz nova os fenômenos mais essenciais aparecem quando são tratados metodicamente. Se há um fato cujo caráter patológico parece incontestável, é o crime. Todos os criminologistas estão de acordo nesse ponto. Ainda que expliquem essa morbidez de maneiras diferentes, eles são unânimes em reconhecê-la. O problema, porém, deveria ser tratado com menos presteza.

O crime não se observa apenas na maior parte das sociedades desta ou daquela espécie, mas em todas as sociedades de todos os tipos. Não há nenhuma onde não exista uma criminalidade. Esta muda de forma, os atos assim qualificados não são os mesmos em toda parte; mas, sempre e em toda parte, houve homens que se conduziram de maneira a atrair sobre si a repressão penal.

Em primeiro lugar, o crime é normal porque uma sociedade que dele estivesse isenta seria inteiramente impossível. O crime consiste num ato que ofende certos sentimentos coletivos dotados de uma energia e de uma clareza particulares. Um sentimento mostra-se muito mais respeitável quando ele é sempre e uniformemente respeitado. Assim, o roubo e a simples indelicadeza não ofendem senão um único e mesmo sentimento altruísta: o respeito à propriedade de outrem.

Tais lesões serão objeto de uma reprovação mais enérgica que fará passar algumas delas, de simples faltas morais que eram, ao estado de crimes. Por exemplo, os contratos indelicados ou indelicadamente executados, que implicam apenas uma reprovação pública ou reparações civis, se tornarão delitos. É pela mesma razão que o homem honesto julga suas menores fraquezas morais com uma severidade que a multidão reserva aos atos verdadeiramente delituosos. Outrora, as violências contra as pessoas eram mais freqüentes do que hoje, porque o respeito pela dignidade individual era menor. Desse ponto de vista, os fatos fundamentais da criminologia apresentam-se a nós sob um aspecto de todo novo. Contrariamente às idéias correntes, o criminoso não mais aparece como um ser radicalmente insociável, como uma espécie de elemento parasitário, corpo estranho e inassimilável, introduzido no seio da sociedade; ele é um agente regular da vida social.

É preciso, portanto, que o sociólogo, tanto no momento em que determina o objeto de suas pesquisas, como no curso de suas demonstrações, proíba-se resolutamente o emprego daqueles conceitos que se formaram fora da ciência e por necessidades que nada tem de cientifico. É preciso que ele se liberte dessas falsas evidências que dominam o espírito. Se a necessidade o obriga às vezes a recorrer a elas, pelo menos que o faça tendo consciência de seu pouco valor, a fim de não as chamar a desempenhar na doutrina um papel de que não são dignas.

 

3 – Características do Fato social:

Exterioridade/Generalidade: Quando Durkheim defendia que o fato social era exterior, ele estava querendo enfatizar a exterioridade em relação aos indivíduos. Isto é, o fato social era formado pelo “organismo vivo” da sociedade. Daí se apresentava aos indivíduos. O que está implícito nesta concepção é a luta constante de Durkheim contra o subjetivismo.  Quando fazemos algo, não o fazemos (na maioria das vezes) por querer, mas por sermos impelidos aquilo, somos forçados a desejar aquilo.

Coercitividade: Quando nos referimos a coercitividade do fato social, estamos procurando ressaltar que ele é “imposto” aos indivíduos, formando-os enquanto seres sociais. Daí a força do hábito e do costume. Se a sociedade não se impusesse perante os indivíduos, ela não conseguiria impor suas regras, normas e valores, não podendo, portanto, formá-los. Isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem independente de suas vontades individuais, é um comportamento estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas.

 

4 – Estudo de caso: O suicídio como fato social

Para o autor, o suicídio é toda a morte que resulta mediata ou  imediatamente de um ato positivo ou negativo, realizado pela  própria vítima […] O que há em comum a todas as formas  possíveis dessa renúncia suprema é o ato que a consagra ser  realizado com conhecimento de causa: é a vítima, no  momento de agir, saber o que resultará sua conduta, seja  qual for a razão que a levou a assim se conduzir.

Esses óbitos constituem, portanto, um grupo definido, homogêneo, discernível de outro qualquer e que, por conseguinte, deve ser designado por um termo específico. Chama-se suicídio todo o caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir esse resultado.

Segundo Durkheim existem duas espécies de causas extra-sociais a que se poderíamos atribuir à priori uma influência sobre a taxa dos suicídios: são as disposições orgânico-psíquicas e a natureza do meio físico. :

Monomanias/loucura. O sexo. O  Alcoolismo. Raças. Hereditariedade. O clima

Em todos os casos citados acima, apesar de existirem dados que nos inclinariam a estabelecer relações, nenhum deles possui fatores que influenciem ou venham a interferir na taxa de suicídio, ou seja, não se estabelece relações causais (de causa e efeito), sendo toda associação fruto puramente de coincidências.

Ainda segundo Durkheim, “Em cada grupo social há uma tendência específica para o suicídio que não pode se explicar nem mediante a constituição orgânico-psíquica dos indivíduos, nem mediante a natureza do meio físico […] se quisermos saber de que confluências diversas resulta o suicídio considerado como fenômeno coletivo, é sob sua forma coletiva, isto é, pelos dados estatísticos, que será necessário, antes de tudo, estudá-lo. É a taxa social que se deve tomar diretamente como objeto de análise; é preciso partir do todo para chegar às partes”.

Subdivisão do fenômeno:

Ø  Suicídio Egoísta: é todo suicídio que resulta de uma individualização descomedida. O egoísmo é o estado em que o eu individual se afirma excessivamente diante do eu social e às expensas deste último.

Ø  Suicídio Altruísta: Quando um indivíduo ligado fortemente a um grupo, não distingue entre seus próprios interesses e os do grupo, sendo capaz de sacrificar-se para salvar seus companheiros. A morte é preferível a qualquer outra coisa.

Ø  Suicídio Anômico:  Manifesta-se quando o indivíduo participa de uma sociedade caracterizada pela ausência de normas, regras, etc. sendo comum em época de depressão  econômica. No suicídio anômico falta ao homem a marca do coletivo em suas paixões individuais, deixando-as assim sem freio para as regular.

 

Observações: Acontecem ascensões bruscas de curva de suicídios em período em que a sociedade se vê perturbada, seja por crises dolorosas ou por transformações súbitas, mesmo que favoráveis. O suicídio anômico e o egoísta não deixam de ser aparentados. Ambos provêm do fato de a sociedade não estar suficientemente presente para os indivíduos.

Para Durkheim a taxa social do suicídio só se explica sociologicamente. “É a constituição moral da sociedade que estabelece, a cada instante, o contingente de mortes voluntárias. Existe, portanto, para cada povo, uma força coletiva, de energia determinada, que leva os homens à morte”.

 

Referências:

DURKHEIM, D. E. As regras do método sociológico. São Paulo. Martin Claret, 2005.

DURKHEIM, D. E. O suicídio.  São Paulo. Martin Claret, 2005.

O PENSAMENTO DE MAX WEBER

 

Max Weber (1864-1920) foi um sociólogo alemão. É considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia. Sua influência também pode ser sentida na economia, na filosofia, no direito, na ciência política e na administração.  Grande parte de seu trabalho como pensador e estudioso foi reservado para o chamado processo de racionalização e desencantamento que provém da sociedade moderna e capitalista. Mas seus estudos também deram contribuição importante para a economia. Sua obra mais famosa é o ensaio A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, com o qual começou suas reflexões sobre a sociologia da religião. Weber argumentou que a religião era uma das razões não-exclusivas do porque as culturas do Ocidente e do Oriente se desenvolveram de formas diversas, e salientou a importância de algumas características específicas do protestantismo ascético, que levou ao nascimento do capitalismo, a burocracia e do estado racional e legal nos países ocidentais.  Abaixo destacamos alguns dos pensamentos weberianos.

 

Os Três tipos puros de dominação legítima

A dominação, ou seja, a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato, pode fundar-se em diversos motivos de submissão. Pode depender diretamente de uma constelação de interesses, ou seja, de considerações utilitárias de vantagens e inconvenientes por parte daquele que obedece. Pode também depender de mero “costume”, de hábito cego de um comportamento inveterado. Ou pode fundar-se, finalmente, no puro afeto, na mera inclinação pessoal do súdito. Não obstante, a dominação que repousasse apenas nesses fundamentos seria relativamente instável. Nas relações entre dominantes e dominados, por outro lado, a dominação costuma apoiar-se internamente em bases jurídicas, nas quais se funda sua “legitimidade”, e o abalo dessa crença na legitimidade costuma acarretar conseqüências de grande alcance. Em forma totalmente pura, as “bases de legitimidade” da dominação são somente três, cada uma das quais se acha entrelaçada.

 

1 – Dominação legal

Dominação legal em virtude de estatuto. Seu tipo mais puro é a dominação burocrática. Sua idéia básica é: qualquer direito pode ser criado e modificado mediante um estatuto sancionado corretamente quando à forma.

Obedece-se não à pessoa em virtude de seu direito próprio, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. O tipo daquele que ordena é o “superior”, cujo direito de mando está legitimado por uma regra estatuída, no âmbito de uma competência concreta, cuja delimitação e especialização se baseiam na utilidade objetiva e nas exigências profissionais estipuladas para a atividade do funcionário. O tipo do funcionário é aquele de formação profissional, cujas condições de serviço se baseiam num contrato, com um pagamento fixo, graduado segundo hierarquia do cargo e não segundo volume de trabalho, e direito de ascensão conforme regras fixas. Seu ideal é: proceder sem a menor influência de motivos pessoais e sem influências sentimentais de espécie alguma, livre de arbítrio e capricho e, particularmente, “sem consideração da pessoa”, de modo estritamente formal segundo regras racionais. O dever de obediência está graduado numa hierarquia de cargos, com subordinação dos inferiores aos superiores, e dispõe de um direito de queixa regulamentado. A base do funcionamento técnico é a disciplina do serviço.

Correspondem naturalmente ao tipo da dominação legal não apenas a estrutura moderna do Estado e do município, mas também a relação de domínio numa empresa capitalista privada ou numa união de qualquer outra natureza que disponha de um quadro administrativo numeroso e hierarquicamente articulado.

 

2 – Dominação tradicional

Dominação tradicional em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhoriais de há muito existentes. Seu tipo mais puro é a da dominação patriarcal. A associação dominante é de caráter comunitário. O tipo daquele que ordena é o “senhor”, e os que obedecem são “súditos”, enquanto o quadro administrativo é formado por “servidores”. Obedece-se à pessoa em virtude de sua dignidade própria, santificada pela tradição: por fidelidade. O conteúdo das ordens está fixado pela tradição, cuja violação desconsiderada por parte do senhor poria em perigo a legitimidade do seu próprio domínio, que repousa exclusivamente na santidade delas.

A dominação patriarcal (do pai de família, do “soberano”) não é senão o tipo mais puro da dominação tradicional. Toda sorte de “chefe” que assume a autoridade legítima com um êxito que deriva simplesmente do hábito inveterado pertence à mesma categoria, ainda que não apresente uma caracterização tão clara. A fidelidae inculcada pela educação e pelo hábito nas relações da criança com o chefe de família constitui o contraste mais típico com a posição do trabalhador ligado por contrato a uma empresa, de um lado, e com a relação religiosa emocional do membro de uma comunidade com relação a um profeta, por outro.

 

3 – Dominação carismática

Dominação carismática em virtude de devoção afetiva à pessoa do senhor e a seus dotes sobrenaturais (carisma) e, particularmente: a faculdades mágicas, revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória. Seus tipos mais puros são a dominação do profeta, do herói guerreiro e do grande demagogo. O tipo que manda é o “líder”. O tipo que obedece é o “apóstolo”. Obedece-se exclusivamente à pessoa do líder por suas qualidades excepcionais e não em virtude de sua posição estatuída ou de sua dignidade tradicional; e, portanto, também somente enquanto essas qualidades lhe são atribuídas, ou seja, enquanto seu carisma subsiste. Por outro lado, quando é “abandonado” pelo seu deus ou quando decaem a sua força heróica ou a fé dos que crêem em suas qualidades de líder, então são domínio também se torna caduco.

É evidente que a expressão “carisma” é empregada aqui num sentido plenamente livre de juízos de valor. Para o sociólogo, a cólera maníaca do “homem-fera” (berserker) nórdico, os milagres e as revelações de qualquer profeta de esquina são “carisma” com o mesmo título que as qualidades de um Napoleão, de um Jesus ou de um Péricles. Porque para nós o decisivo é se foram considerados e se “atuaram” como tal, vale dizer, se encontraram ou não reconhecimento. O pressuposto indispensável para isso é fazer-se acreditar: o senhor carismático tem de se fazer acreditar como senhor “pela graça de Deus”, por meio de milagres, êxitos e prosperidade do séquito e dos súditos. Se lhe falha o êxito, seu domínio oscila. Esse conceito carismático da “graça divina” teve conseqüências decisivas onde vigorou. O monarca chinês via-se ameaçado em sua posição tão logo a seca, inundações, perda de colheitas ou outras calamidades punham em tela de juízo se estava ou não sob a proteção do céu. Tinha de proceder à auto-acusação pública e de praticar penitência e, se a calamidade persistia, ameaçavam-no de queda do trono e ainda eventualmente sacrifício. Sem dúvida, a autoridade carismática é uma das grandes forças revolucionárias da história, porém, em sua forma totalmente pura tem caráter eminentemente autoritário e dominador.

 

Referências

WEBER, Max. Coleção Grandes cientistas sociais. Org. Gabriel Cohn. São Paulo : Ática, 1982.

O pensamento de Karl Marx

 

Karl Heinrich Marx (1818 – 1883) foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista.

O pensamento de Marx influencia várias áreas, em uma pesquisa realizada pela Radio 4, da BBC, em 2005, foi eleito o maior filósofo de todos os tempos.

A luta de classes foi a denominação dada por Karl Marx, ideólogo do comunismo juntamente com Friedrich Engels, para designar o confronto entre o que consideravam os opressores (a burguesia) e os oprimidos (o proletariado), consideradas classes antagônicas, no caso específico, existentes no modo de produção capitalista. A luta de classes se expressa nos terrenos econômico, ideológico e político e segundo Marx é o motor da história.

Para o filósofo alemão, no modelo capitalista a principal forma de exploração do trabalhador é através do lucro, ou seja, do trabalho não pago (lucro e mais valia são sinônimos).  O lucro do capitalista vem da parte do valor produzido pelos trabalhadores que não lhes foi pago por meio dos salários. É o trabalho não-pago (mais-valia), embolsado pela burguesia. Já a taxa de lucros é a relação entre a mais-valia e o capital total envolvido na produção. Esse é o objetivo essencial do capitalista. O retorno aumentado do investimento realizado.

Na teoria social é possível distinguir três elementos principais. Primeiro, uma análise dos principais tipos de sociedade humana e sua sucessão histórica, em que se dá lugar de destaque à estrutura econômica, ou “modo de produção”, na determinação da forma completa da vida social: “O modo de produção da vida material determina o caráter geral dos processos sociais, políticos e espirituais da vida”. O próprio modo de produção é definido em termos de dois fatores: as forças produtivas (a tecnologia disponível) e as relações de produção (o modo como a produção é organizada e, em particular, a natureza dos grupos que possuem os instrumentos de produção para o processo produtivo). A partir dessa análise, surgiram duas idéias fundamentais da teoria marxista: uma periodização da história, concebida como um movimento progressivo através dos modos de produção antigo, asiático, feudal e capitalista moderno, e uma concepção do papel das classes sociais na constituição e transformação das estruturas sociais.

O segundo elemento é um esquema explanatório que abrange as mudanças de um tipo de sociedade para outro, no qual dois processos têm importância crucial. Por um aspecto, as mudanças são provocadas pelo progresso da tecnologia, e o próprio Marx enfatizou isso quando escreveu que “o moinho manual nos dá uma sociedade com senhores feudais, o moinho a vapor, uma sociedade com capitalistas industriais”. Por outro aspecto, porém, as transformações sociais são resultado de lutas de classe conscientes; mas os dois processos estão intimamente relacionados, uma vez que o desenvolvimento das forças produtivas está preso à ascensão de uma nova classe, e a classe dominante existente torna-se cada vez mais um obstáculo a um maior desenvolvimento.

O terceiro elemento é a análise do capitalismo moderno. O capitalismo é concebido como a forma final da sociedade de classes, em que o conflito entre burguesia e proletariado se intensifica continuamente junto com as contradições econômicas do capitalismo, que se manifesta em crises recorrentes, e o processo de socialização da economia é acelerado pelo desenvolvimento de cartéis e trustes. Essa análise e o crescimento de partidos socialistas de massa levaram necessariamente a uma preocupação com as formas que poderia assumir uma transição para o socialismo e à elaboração de uma doutrina política marxista que ajudaria a integrar e orientar o movimento da classe operária.

 

Materialismo Marxista

Em seu sentido mais amplo, o materialismo afirma que qualquer coisa que exista é apenas matéria, ou pelo menos depende dela. (Em sua forma mais geral, ele pretende que toda a realidade seja essencialmente material; em sua forma mais específica, que a realidade humana assim é). Na tradição marxista, o materialismo normalmente é do tipo não redutivo mais fraco. O materialismo pode ser encarado como uma operação de contenção contra formas de idealismo que afirmem a existência de entidades abstratas, tais como valores universais (a não ser que identificados como propriedades de coisas materiais). Seres ou mentes sobrenaturais (a não ser que identificados como, ou pelo menos baseados em processos corpóreos); e contra explicações que invoquem tais entidades. Os materialistas, assim, excluem a possibilidade da existência incorpórea e são metafisicamente orientados contra o dualismo.

 

Questões para estudo acompanhada pelas respostas

Atenção: não é necesário “decorar” as questões, mas aprendê-las, lembrem-se que o vocabulário aqui utilizado é o de um professor de sociologia, alguém que passou, no mínimo, 5 anos apenas estudando este assunto. É preferível que o discente responda as questões com suas próprias palavras.

 

1 – O que estuda a sociologia?

Os fatos sociais

2 – O que é fato social?

São todas as maneiras de agir, pensar e sentir as quais não chegaríamos naturalmente.

3 – Quais as características do fato social?

Coercitividade, exterioridade/generalidade e objetividade

4 – Cite exemplos de fatos sociais.

Escola, Família, Moda, Religiões etc.

5 – O que é corrente social?

É uma energia anônima de ordem coletiva que nos impele à ação.

6 – Cite exemplos de correntes sociais.

Vaias, aplausos, violências generalizadas etc.

7 – “O fato social é passível de exercer coerção sobre os indivíduos”. Explique a afirmação.

O fato social “impele” os indivíduos a ação sob a pena de sanções que irão forçar ao máximo o indivíduo a adptar-se aos padroes em sociedade.

8 – O que acontece aos que não ajustam-se aos fatos sociais?

Sofrerão desconfortos ou preconceitos. A cultura pune com a violência simbólica (e por vezes física) todos que não ajustam-se aos fatos sociais.

9 – Os fatos sociais são todos eles éticos?

Não. Ao observarmos com frieza poderemos notar que muitos dos nossos hábitos que enquadram-se como fatos sociais não são propriamente éticos, a julgar a cultura machista que vivemos durante longo período entre outros exemplos.

10 – O que é suicídio de acordo com Durkheim?

É toda ação positiva ou negativa realizada pela própria vítima. O que há em comum a todas as formas  possíveis dessa renúncia suprema é o ato que a consagra ser  realizado com conhecimento de causa: é a vítima, no  momento de agir, saber o que resultará sua conduta, seja  qual for a razão que a levou a assim se conduzir.

11 – Quais os tipos de suicídios? Descreva-os.

Suicídio Egoísta: é todo suicídio que resulta de uma individualização descomedida. O egoísmo é o estado em que o eu individual se afirma excessivamente diante do eu social e às expensas deste último.

Suicídio Altruísta: Quando um indivíduo ligado fortemente a um grupo, não distingue entre seus próprios interesses e os do grupo, sendo capaz de sacrificar-se para salvar seus companheiros. A morte é preferível a qualquer outra coisa.

Suicídio Anômico:  Manifesta-se quando o indivíduo participa de uma sociedade caracterizada pela ausência de normas, regras, etc. sendo comum em época de depressão  econômica. No suicídio anômico falta ao homem a marca do coletivo em suas paixões individuais, deixando-as assim sem freio para as regular.

12 – Quais os fatores orgânicos-psíquicos que não influenciam nas taxas de suicídio de acordo com Durkheim?

Clima, hereditariedade, loucura/monomania, raça e sexo.

13 – O alcoolismo influencia nas taxas de suicídio? Explique.

Não. Ao observarmos as taxas de suicídio em locais com alto índice de alcoolismo e com baixos índices de alcoolismo não podemos estabelecer relações causais (de causa e efeito) entre o consumo de álcool e as taxas de suicídio.

14 – A loucura influencia nas taxas de suicídio? Explique.

Não. Ao observarmos as taxas de suicídio em locais com alto índice de loucura e com baixos índices de loucura não podemos estabelecer relações causais (de causa e efeito) entre a loucura e as taxas de suicídio.

15 – Por que o suicídio é considerado um fato social?

É assim considerado pois exerce sobre o indivíduo uma força que o “impele” a cometer um ato de renúncia suprema. Não apenas isto. As taxas de suicídios são sempre constantes (exceto em períodos de guerras ou grandes crises), atingindo sempre um número mais ou menos constante da população.

16 – O que é tipo ideal?

É uma abstração criada pelo cientista para melhor compreender a realidade. O tipo ideal apenas existirá no campo das idéias e tem como objetivo auxiliar o cientista a melhor compreender a realidade através do “exagero” de determinadas características da vida social.

17 – O que é dominação de acordo com Max Weber?

É a probabilidade de encontrar obediência a um mandato. É a capacidade que uma pessoas possui de convencer outra pelo simples ato da “fala”. É de se deixar claro que o poder/dominação diferencia-se da violência. A violência, comumente, é utilizada quando o poder falha.

18 – Quais os tipos puros de dominação/poder de acordo com Max Weber?

Dominação legal, tradicional e carismática.

19 – Que característica, de ordem religiosa, auxiliou no fortalecimento do capitalismo moderno?

O “ethos” (maneira de se portar, maneira de ser) do protestantismo ascético.

20 – O que é “modo de produção”?

É a maneira como uma sociedade organiza-se para a produção e reprodução das riquezas materiais.

21 – Quais os modos de produção que existiram no decorrer da história?

Asiático (ou comunismo primitivo), Escravista, Feudalismo, Capitalismo, Socialismo/Comunismo.

22 – O que é luta de classes de acordo com a teoria Marxista?

É o confronto constante que existe entre opressores e oprimidos dentro dos modos de produção.

23 – O que é lucro? Como ele manifesta-se?

É a exploração do homem pelo homem. O lucro é também conhecido por “mais-valia” e manifesta-se a partir do trabalho não pago, ou seja, a partir da exploração do trabalho (mão-de-obra).

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

7 Responses

  1. JESSICAANJOSSOARES disse:

    TU JURA QUE O POVO VAI LER ISSO TUDINHO….EU LI SO A PRIMEIRA PARTE! RS

  2. Paulo Eduardo disse:

    Jessica, só você mesmo. Um assunto tão importante (e interessante!) como a sociologia…É triste ver que existem mentes tão dementes quanto a sua…:(((
     

  3. Leo disse:

    Vish, fiquei idosa só do tempo que levei pra terminar esse texto…

  4. Olavo disse:

    Ei Paulo só nao precisa bajular o professor kkkkk

  5. Gusstavo disse:

    cara da sono  na primeira linha :S

  6. Paulo Eduardo disse:

    SHAUSHHaushaushuashuahsuUASHuashuashuASHUhsuaHUa ~le vagabas~ aqui hein??

  7. Fidel Oliveira disse:

    Achei muito interessante, me ajudou um pouco na pesquisa. Acho que a parte do Max Weber poderia ter recebido um pouco mais de atenção e não dado toda para o Emile Durkheim, mas tudo bem. Foi uma ótima leitura.

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