Rio Grande do Norte, quinta-feira, 02 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de abril de 2010

A triste saga de quem faz concurso – Parte 1

postado por David Rêgo

É fácil irritar-se com concursos públicos. Já começa pelos editais. Muitos são sempre completamente insanos. Sempre lhe pedem para comprovar a mesma coisa 10 vezes sem absolutamente nenhuma necessidade. Tudo começa, na realidade, quando você tem que ligar para o local pois o edital (apesar de enorme) não é claro o suficiente. Ligo para o local, me vem a fulana:
– Bom dia
– Bom dia, a Sra. poderia me tirar uma dúvida?
– Pois não Senhor?
– Eu preciso mesmo enviar comprovante de segundo grau, diploma de graduação e diploma de mestrado? E o currículo modelo CAPES/CNPQ que vocês exigem, eu preciso também enviar os comprovantes em anexo ou basta o currículo?
– Precisa sim senhor.
– Precisa sim o que querida?…
– Hã?
– Os Documentos são todos necessários Senhor…
– Você sabe me informar a razão?
– Sâo as normas do edital Senhor.
– Certo agora eu já sei que são as normas, você poderia me explicar a razão da norma ser assim?
– Solicitamos pois precisamos dos comprovantes Senhor.
– Comprovantes de que?
– De que o Sr. possui habilitação para fazer o concurso Senhor.
– Certo, mas se eu tenho diploma de graduado, pra que o do segundo grau? Existe algum graduado sem segundo grau ou você quer ver minhas notas?
– Não senhor, não queremos ver suas notas. E não conheço nenhum graduado sem diploma de segundo grau, não que eu saiba senhor, mas são as normas…
– Ok, bom dia então e brigado viu…

Isso é como termina geralmente…
Assim é como eu queria que acabasse:
– Não que eu saiba senhor, mas são as normas…
– Já que você não sabe, chama ai o chefe, chame ai quem sabe pra me explicar pois estou sem entender….
– Vou transferir a ligação Senhor…
– Brigado.
(Uma voz masculina e rouca atende)
– Bom dia…
– Bom dia, o Sr. poderia me tirar uma dúvida? Pra que enviar esse monte de papel? Vocês tão querendo ganhar dinheiro vendendo o kilo do papel é isso?
– Como é?
– Isso mesmo! Pra que essa ruma de papel? Você tá doido por acaso? Pra que todo mundo mandar isso se vocês só vão verificar os que passarem? Por que não exige isso só dos que passarem e assim evitam uma série de gastos desnecessários (nessas horas ninguém pensa na natureza, no tanto de papel que se estraga com essas bobagens), pra que servem todos esses termos que temos que assinar, se na prática eles não servem para nada? Se ao imprimir meu currículo eu assino um termo onde sou responsável por todas as informações e que serei processado por crime federal caso minta no currículo, por que ainda assim tenho que enviar a cópia dos certificados? Se tais termos não servem para nada, pra que isso, pra dar a impressão que é sério? Se eu tenho um diploma de mestrado, eu não preciso de diploma de graduado, pois é impossível ser mestre sem ser graduado assim como se eu tenho carteira de habilitação ou identidade eu não preciso de cópia de certidão de nascimento, pra que danado você pede esses documentos repetidos sua anta? Me responda, por favor!
– Olhe rapaz você olhe o respe…
– Vá se rear! Tu-tu-tu-tu
(Alguém se habilita a passar o trote?)
🙂

Enfim, isto é o que se chama de burocracia burra, ou seja, não tem o menor objetivo de facilitar as coisas, mas complicar sem razão para tal (pasmem mas a “burocracia” foi criada para isso, para gerar funcionários especializados que fazem um serviço de forma mais eficiente, aliás, não é em todo canto que burocracia tem sentido pejorativo, em muitos locais burocracia tem significado de eficiência)..

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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