Rio Grande do Norte, terça-feira, 14 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de abril de 2010

Um presídio pode dar certo? O BBB da tirania

postado por David Rêgo

Sempre me questionaram se acredito na recuperação das pessoas. Geralmente respondo que não. Não que duvide dos indivíduos em si e suas capacidades de auto-superação, não é bem isso. Quando digo que não acredito na recuperação trata-se de uma afirmação que compreende o sistema prisional como um todo.
Na prática é muito difícil recuperar alguém em um presídio. Sempre gosto de comparar situações como estas com coisas que observamos no dia-a-dia. Neste aspecto em especial comparemos o programa Big-Brother com os presídios, tendo em vista que uma coisa existe em comum: um confinamento onde pessoas são forçadas a conviver.

Pra começo de conversa você ao entrar lá já está concorrendo a (no mínimo) 1 milhão de reais.
Todos que entram sabem que ser um Ex-BBB irá facilitar sua vida para conseguir emprego, pois agora você é uma pessoa pública.
Todos que participam ficam alojados em ambientes altamente luxuosos.
Você é visto por boa parte da população nacional e recebe visita de artistas famosos e tem direito a shows particulares.
Você corre o risco de sair de lá como um ídolo.
Nunca um participante do big-brother morreu durante o programa ou sofreu agressão física.
Você tem acesso a alimentos de altíssima qualidade e de marcas famosas.
Você pode passar boa parte do dia tomando banho de pscina.
A curiosidade: Ainda apesar de tudo isso, o confinamento forçado parece criar ambientes de agressão mútua, conflitos por “bobagens”, aflições, nervosismos e formação de grupos que rivalizam.

E agora o presídio:

Pra começo de conversa ao entrar lá você concorre à (no mínimo) um vale-morte.
Todos que entram sabem que ser ex-presidiário irá dificultar sua vida para conseguir emprego.
Todos que ingressam ficam alojados em ambientes altamente precários e com higienização duvidosa.
Você quase nunca é visitado, a não ser por parentes e amigos próximos (quando muito).
Você sairá de lá estigmatizado.
Os índices de mortes e agressões são altíssimos.
É comum servir-se comida estragada.
Você tem direito a alguns minutos de banho de sol por dia.
A curiosidade: Alguns bípedes acreditam que isso pode corrigir alguém e o Brasil utiliza a prática como modelo oficial para correção de infratores.

Vai entender o Brasil. O Estado financia cursos de nível superior em bandidagem e depois ninguém entende a razão do Brasil ser o que é.
Mas enfim, seleção joga dia 10…
Copa do Mundo…
Olimpíada…
É isso….

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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