Rio Grande do Norte, sexta-feira, 17 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de outubro de 2010

O último urro dos conservadores – Parte 1

postado por David Rêgo

Agora, mais do que nunca, os conservadores estão com a corda no pescoço. Nunca gostei da idéia de que “nada muda (ou mudou)” ou de que “no meu tempo as coisas não eram assim”. Esses dois argumentos particularmente me irritam. Tratam-se nitidamente de cinismo ou má fé. Em um único caso eu ainda dava o braço à torcer. As questões relacionadas à violência e segurança pública.
Ao que todos falam – logo daí minha suspeita, pois só conheço consenso em 2 locais: igrejas e quartéis e não gosto de ambos – “antigamente” (leia-se na época da ditadura) as coisas não eram assim, a violência não era tão grande e blá-blá-blá e essas coisas todas que de tanto nos falarem acabamos acreditando. Mais por repetição do que por convencimento, deixe-se claro. Eis que surge a Ciência para iluminar as lembranças dos homens, estas que são falhas por natureza.
Em estudo publicado recentemente, dados apontam que existiu de fato uma aceleração da criminalidade no Brasil (a pesquisa aponta dados referentes aos anos de 1997 até o ano de 2007). Os dados apontam um crescimento da criminalidade até o ano de 2003, após isto, observa-se “uma inédita tendência de declínio” (são exatamente essas as palavras usadas, para ir ao documento clicar aqui).

Oficialmente a ditadura militar acabou em 1985 quando o Colégio Eleitoral escolheu o então deputado Tancredo Neves como novo presidente da República. A princípio isso não nos diz nada… Mas devemos levar em consideração que 2005 foi o ano de aniversário da “primeira geração pós ditadura”. A violência passa a diminuir justamente quando “a primeira nova geração” (considera-se nova geração cada ciclo de 20 a 25 anos) surge, ou seja, a violência passa a diminuir justamente com os filhos da liberdade. Aqueles que nasceram fora do regime militar são os responsáveis por esta nova nação. Ainda apesar dos políticos que ai estão, em sua maioria crias do regime militar (tá duvidando? Pega ai um livro de história e vê o que fazia Agripino e Garibaldi ou mesmo Rosalba 20 ou 25 anos atrás), estamos conseguindo mudar algo (pois se existe mudança mesmo mantendo-se os mesmos políticos, obviamente esta mudança não há de vir deles).
Para entender melhor a questão: Se uma pessoa cometia um homicídio em 1985, isto devia-se a sua formação e esta ter-se-ia dado em meados de 1960 ou início da década de 70. O mesmo ocorre com um homicida que cometeu um crime em 1995. Sua “geração” foi formada entre o início e meados dos anos oitenta, ou seja, ainda durante o regime militar. Assim como a relação inversa também pode ser feita. Os índices de homicídio passaram a aumentar de forma preocupante já em meados dos anos 80. Antes disso a violência não era tão grande… Observa-se a violência subindo de forma assustadora justamente quando a primeira geração da ditadura faz aniversário . O golpe ocorreu em 64, conta-se 20(25) anos… temos 84 (89)… não, não é apenas pura coincidência. Antes da ditadura pouca violência, após a ditadura, a violência começa a diminuir. O que se observa é o substancial aumento da violência justamente como uma herança da ditadura. Por essas e outras revolto-me ao ver pessoas ainda novas nos dias de hoje pedindo para que a ditadura volte, acreditando que os males de nossa nação devem-se à falta do autoritarismo..

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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