Rio Grande do Norte, terça-feira, 30 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 27 de agosto de 2011

Cinema: Planeta dos Macacos – A Origem

postado por Mario Rasec

Com uma clara intenção de se impor como uma nova franquia, reativando assim a bem sucedida série cinematográfica de ficção cientifica dos anos 1970, iniciada com o clássico Planeta dos Macacos (1968) com Charlton Heston (com direito a histórias em quadrinhos e, se não me engano, um seriado de TV), o novo Planeta dos Macacos (Rise of the Planet of the Apes, 2011) deve, em minha opinião, ser visto como uma nova abordagem do universo desses símios, e não uma simples refilmagem. Além de que, toda comparação com os filmes anteriores, com exceção da fraca versão de Tim Burton de 2001, talvez possa prejudicar a plena apreciação desse novo projeto.
Entretanto, a maior diferença em relação a todas as versões anteriores, é a opção de não usar atores maquiados para interpretar os símios, mas empregar a tecnologia de captura de movimentos para dar vida aos macacos digitais, desenvolvidos pela mesma empresa que Peter Jackson criou para sua trilogia do Senhor dos Anéis (2001) e, igualmente responsável pelos efeitos de outro símio famoso, King Kong (2005), utilizando o experiente Andy Serkis para dar sentimento e vida ao macaco Cesar, com a mesma competência demonstrada em Gollum e no gorila gigante, King Kong.
O enredo se concentra em acompanhar o crescimento e o conflito interno de Cesar, símio que herdou da mãe uma alteração genética causada pelas experiências de um laboratório em busca da cura do Alzheimer, o que lhe deixa muito mais inteligente do que outros primatas da sua espécie (e mais inteligente do que certos humanos, diga-se de passagem). Um incidente faz com que o cientista Will Rodman (James Franco), a contragosto, adote o filhote, com a vã esperança de que será por pouco tempo. Logo o pequeno Cesar cativa o pai de Rodman, vivido aqui por um ótimo John Lithgow, que sofre da mesma doença ao qual seu filho tenta descobrir a cura através de um vírus fabricado em laboratório e usado em alguns primatas. Impressionado com a inteligência de Cesar, Rodman também se afeiçoa a ele, e se deixa levar numa relação de pai e filho, embora use às vezes uma coleira em volta do pescoço de Cesar, o que aborrece este, chegando a lhe fazer uma importante pergunta (através da linguagem de sinais): “O que é Cesar?”. Embora cercado de amor pelos humanos que lhe adotaram, Cesar também conhece a intolerância e a estupidez humana, assim como a decepção. Num momento em que a projeção parece ter se tornado numa espécie de “filme de presídio”, Cesar aprende o duro convívio com outros humanos e com os da sua própria espécie, se adaptando a ambos e aprendendo a superá-los enquanto seus sentimentos variam do respeito à vida (apreendido através do convívio com sua “família” humana anterior) e o ódio provocado pelos maus tratos no “depósito” de macacos ao qual foi enviado por causa de um incidente, o que faz com que uma rebelião dos encarcerados símios seja iminente.

Apesar das inúmeras referências a série clássica, como na cena em que Cesar tenta montar um quebra-cabeça da Estátua da Liberdade numa referência ao filme original de 1968, e a sutil alusão a um certo voo espacial que se perde, Planeta dos Macacos: A Origem vem com uma nova abordagem e com o claro desejo de se tornar nesta década o que a versão original foi no seu tempo (excluindo até mesmo a frustrada tentativa de Tim Burton de retomar a franquia em 2001).
Com um bom ritmo e um roteiro que permite a devida atenção ao desenvolvimento da personalidade e o conflito de um ser que busca seu lugar no mundo, o filme (apesar do clichê de “experiência que não deu certo” ou numa espécie de “síndrome de Frankenstein”) consegue agradar, mas deixa a sensação de que alguma coisa está faltando. Talvez esta sensação seja causada pelo aspecto de introdução ao qual se resume as impressões causadas pelo seu desfecho. Desfecho este que evita, propositalmente, fechar certos nós, deixando a grande tragédia humana que se aproxima para que os símios possam tomar o planeta como espécie dominante (detalhe que justificaria o título), subtendido. E, para isso, a cena entre os créditos finais serve tanto para reforçar o inexorável destino humano da nova franquia como para servir de convite para sua sequência. Sequência esta aparentemente garantida graças ao bom retorno constatado nas bilheterias.

Ficha técnica:
Título original: Rise of the Planet of the Apes
Direção: Rupert Wyatt
Elenco: James Franco, Freida Pinto, Andy Serkis, Brian Cox, Tom Felton, David Hewlett, John Lithgow.

Mario Rasec

Designer gráfico, artista visual, ilustrador e roteirista de HQs. Autor de Os Black (quadrinho de humor) e de outras publicações.

One Response

  1. Michelly disse:

    gostei mutoo deste filme apesar de smp ter qq fazer trabalhoos em sima delees este foi o filme q mais gostei de trabalhaar

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