Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 5 de janeiro de 2012

Drogas: em busca de um salto civilizatório

postado por Daniel Menezes

Publicado originalmente em 28/02/2011

Afirmar que a ingestão de álcool mata milhares de pessoas no trânsito, que é o agente causador de assassinatos e proporciona inúmeras doenças fatais significa fechar os olhos para uma questão que, ao meu ver, é bem mais profunda – as drogas, não apenas o álcool, acompanham os homens desde o “início dos tempos” e elas também apresentam, em inúmeros casos, efeitos positivos.

As bebidas alcoólicas, por exemplo, quando bem dosadas em seu uso, tornam a vida mais leve e agradável. Podem suavizar a força neurótica das leis sociais, melhorando a saúde mental de uma sociedade. São até indicadas para prevenir determinadas doenças.

Mas por que isto sempre é secundarizado?! Porque, para além das estatísticas negativas, não pensar os efeitos positivos, não tratar realisticamente a coisa?

Michel Foucault, filósofo francês, responderia que, dado o nosso contexto sócio-histórico, em que os indivíduos são socializados para se tornarem economicamente ativos e politicamente dóceis, a discussão sobre o uso das drogas é sempre estigmatizada. Somos formados para não enxergar o óbvio – por mais que se criminalize, as sociedades criarão suas linhas de fuga através das drogas. É menos ingênuo acreditar em papai Noel do que os seres humanos, em algum dia, irão abandonar o uso das drogas.

Porém, como tendemos, pelo conteúdo pré-reflexivo, fortemente cristianizado, a fechar os olhos para o que está escancarado nos nossos rostos, tentamos explicar, por exemplo, o uso do álcool como uma questão de lascividade moral.

E por não sermos preparados para ter uma boa relação com às drogas, acabamos, ao mesmo tempo, fazendo, em muitos momentos, o pior uso possível delas. Além da própria sociedade não se organizar para produzir drogas adequadas para um consumo relativamente seguro.

É por não existir uma preocupação social, para além de qualquer falso moralismo, em educar as novas gerações para o consumo do cigarro, do álcool, maconha, etc, que uma pessoa pega um carro alcoolizado e cria situações de morte para si próprio e para os demais.

É por não nos preocuparmos, enquanto sociedade, em produzir drogas relativamente seguras, conforme um dia sonhou Foucault, que as pessoas fazem uso das piores milacrias para suportarem a realidade – crack, cocaína, ácidos, lóló, lança perfume, gás de geladeira, rolo de máquina fotográfica, etc.

Se a humanidade conseguisse dar esse salto civilizatório, que é o de ensinar a se relacionar responsavelmente com às drogas e produzir substâncias menos nocivas (com acompanhamento do Estado), com certeza, o cenário seria completamente diverso.

UM BOM ARGUMENTO LIBERAL

A liberação das drogas, como disse o economista Milton Friedman, em Capitalismo e Liberdade, desincentivaria o crime organizado em torno da venda do produto.

MAIS ESTADO, MENOS ESTADO

Ao invés de mais Estado, pura e simplesmente. Teríamos mais Estado para controle de qualidade e saúde pública (absurdo tratar um dependente como criminoso!). Mas muito menos guerra contra a venda, circulação e a violência que o tráfico gera.

ATENÇÃO!

Antes que os moralistas me ataquem, digo que não defendo o uso de drogas como necessariamente bom. Defendo uma abordagem mais racional e uma educação voltada para o uso consciente, caso alguém venha fazer uso de álcool, cigarro, maconha, etc.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

One Response

  1. Pedro Andrade disse:

    Boa reflexão meu amigo.

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