Rio Grande do Norte, quinta-feira, 02 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 30 de janeiro de 2012

É hora de punir! Justiça ou vingança?

postado por David Rêgo

O crime é algo normal, tendo em vista que sempre ocorre e sempre ocorrerá. O fato de ser normal não significa dizer que não seja detestável. É impossível de se pensar uma sociedade sem crimes. Mesmo em uma sociedade de santos, o menor deslize de conduta irá significar um grave delito. Em sociedades como a nossa, na qual não existe oficialmente a pena de morte, a punição tem 3 objetivos básicos: sanar o dano causado; ressocializar o indivíduo; e educar a sociedade, mostrando o que acontece com aqueles que violam as normas de conduta.

Queremos justiça ou vingança?

Justiça ou vingança?

Não concordo com o sistema de cárcere para uma série de “violações de conduta”. A ideia do cárcere, em teoria, deveria estar associada unicamente ao indivíduo completamente descontrolado que, a qualquer momento e de forma intencional pode por em risco a vida ou integridade física/emocional de outrem a partir de uma ação violenta.

Políticos e empresários ladrões não têm como intenção matar ou violentar. Eles querem dinheiro de forma desonesta, mas não querem matar. Não é o ódio despropositado ou um desejo sádico pela destruição. É tão somente ganância.

A ganância quando transborda para corrupção é nitidamente um tipo de cleptomania. Já se tem o suficiente, mas ainda assim insiste-se em roubar. Políticos corruptos não deveriam ir para cadeia. Devem devolver o dinheiro roubado, ter multas severas aplicadas diretamente ao valor total de seu patrimônio. Ora, se um corrupto imaginar que, ao roubar uma quantia “X”, que corresponde a não mais que 1% de seu patrimônio, e caso descoberto perderá 30% de tudo que já somou, é claro que a prática seria inibida. Porém, faltam leis que “atentem” contra a propriedade privada, esta, em alguns momentos, merece ser violada, pelo menos aquela propriedade privada disfuncional, exagerada e extravagante. O bem individual não pode estar acima do bem comum e a falta de leis severas contra corruptos e corruptores apenas incentiva a prática.

Políticos corruptos devem aplicar suas habilidades em atividades favoráveis ao Estado, tal como, muitas vezes, os EUA fizeram com os “hackers” capturados. Quem melhor para rastrear uma fraude do que aqueles que são especialistas nelas? Tornando meus inimigos amigos, não estaria eu vencendo meus inimigos?

Estaria os reeducando, mostrando que suas habilidades podem servir para o bem geral e que a fama gerada pela boa conduta gera tantas graças e retribuições quanto montantes de dinheiro podem pagar.

Políticos corruptos devem trabalhar diariamente vigiados pelo povo e para o povo, e não gastar o dinheiro da sociedade em presídios. A tecnologia já nos proporciona dispositivos capazes de “rastrear” os percursos dos “detentos” (pulseiras de monitoramento, já utilizadas em vários estados). O cárcere não precisa ser a prisão. A prisão pode ser a própria sociedade. Um presídio sem muros, a própria sociedade por olhares, gestos e atitudes não verbalizadas criam prisões tão poderosas quanto grades de aço. São necessárias leis que eduquem e restituam ao povo o dano causado, e não simplesmente leis que encarcerem sujeitos. O cárcere pelo cárcere é pura vingança e a sociedade não precisa de vingança, precisa de justiça.

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David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

One Response

  1. Wagner disse:

    Claro que a sociedade precisa de vingança, e obviamente os corruptos merecem e devem sim ir para o cárcere, a sociedade precisa de justiça, vingança e precisa ter consciência social, aprender a votar. Vivemos a vida real, não vivemos de utopia, se vivêssemos de utopia preferiria arrancar a cabeça de um político corrupto com um machado em praça pública ao invés de vê-lo perder 30% de tudo que já somou, isso sim me parece justo, minha sede de vingança seria saciada, e serveria de exemplo para os demais.

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