Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 5 de abril de 2012

“Morte aos gatos”: tréplica aos argumentos do controle de zoonose com morte

postado por Daniel Menezes

Do Consciencia Blog (consciencia.blog.br)

Por Robson Fernando de Souza

 

Aceito o desafio, vindo de mim mesmo, de continuar um debate que começou carente de respeitabilidade, dada a virulência mortificista do texto que começou toda a polêmica sobre a “necessidade” de exterminar os gatos de rua. O autor daquele artigo, denominado “Morte aos gatos!”, replicou, de forma tentativamente mais respeitosa do que em sua primeira obra, às objeções sobre o controle de zoonoses baseado no ato de matar animais domésticos de rua, observando cada aspecto envolvido na questão. E, como representante do lado que defende a paz entre gatos e seres humanos, treplico-o, novamente percebendo falhas argumentativas que comprometem a lógica da ideia defendida por ele.

Assim como o outro lado, comento cada aspecto do ideário ali defendido.

 

Sacrifício em massa, controle populacional e a suposta não referência ao extermínio

Percebe-se que o autor tenta defender a moralidade do ato de exterminar animais de rua em nome da saúde humana baseando-se no (suposto) fato de que outras cidades ao redor do mundo também o fariam. No que se pode perceber de como ele se apega a isso para defender sua crença, vemos uma dupla falácia geográfica, a consistir na combinação de dois vícios lógicos:

a) Variante geográfica do apelo à multidão: O apelo à multidão afirma que algo seria bom, verdadeiro e aceitável porque uma grande quantidade de pessoas pratica ou crê nesse algo. Sua variante geográfica, usada no argumento pró-sacrifício, se baseia na ilógica premissa de que, se uma ação é praticada em muitas cidades ou regiões, ela é aceitável, boa e/ou verdadeira – no caso do “Morte aos gatos!” e da réplica que o sucedeu, a crença é de que, já que é praticado em muitas cidades do mundo, o extermínio estatal de animais de rua seria correto e ético por isso.

b) Variante geográfica do apelo à riqueza: O apelo à riqueza, por sua vez, argumenta que uma pessoa tem razão em determinada ideia simplesmente porque é rica, detentora de prestígio socioeconômico e de bens materiais valiosos. No caso da defesa da matança de gatos, usa-se uma variante também geográfica dessa falácia: segundo o autor, se o extermínio de gatos pelo Estado é promovido por cidades grandes e economicamente desenvolvidas (nos exemplos dele, importantes cidades americanas, francesas, inglesas e chilenas), é portanto automaticamente ético e aceitável.

Em seguida, fala que não usou em nenhum momento a palavra extermínio. Ele não usou, mas não é necessário explicitar uma determinada palavra para que a ideia denominada por ela seja defendida. Exterminar, segundo o Dicionário Aurélio, significa “destruir com mortandade; fazer desaparecer; eliminar matando; aniquilar”. E é isso o que a política do controle mortífero de zoonoses de fato faz com os animais de rua: destrói-os com mortandade, os faz desaparecer, elimina-os com a morte (violenta, por sinal), aniquila-os.

Não é preciso muito esforço para se perceber que, desde o sugestivíssimo título, o texto “Morte aos gatos!” defende sim o extermínio como forma de deter doenças de origem animal, ainda que não cite a infame palavra. Não é por seus objetivos, intenções e métodos que uma política de matança deixa de ser considerada uma forma de extermínio.

Ainda na seção em que ele se explica sobre a defesa da política mortífera, o autor afirma que, se não houver uma política de matança (o que ele fala com outras palavras, bem sutis aliás) por parte do Estado, os governados é que levarão a cabo tal política. Acaba-se aí incidindo numa falsa dicotomia – ou o Estado mata ou as pessoas matarão, supostamente não havendo terceiras opções ou formas de evitar as duas ações –, ignorando ou subestimando a existência da alternativa de controle populacional baseada em esterilização, adoção e educação pela guarda responsável.

Parece-lhe incabível tanto que a polícia proteja os animais de rua dos criminosos que os querem mortos, e eles sejam protegidos de violências seja lá por parte de quem for, como que o Estado seja civilizado o bastante em sua relação com os animais não humanos para buscar alternativas não violentas de controle populacional.

E, no final, ele fala que isso é uma questão de saúde pública. Acontece, porém, que, quando se defende a matança de seres sencientes inocentes que podem ser tratados de formas não violentas, isso deixa de ser um problema estritamente de saúde e passa a ser uma grave questão de Ética.

 

A toxoplasmose

O autor tenta se redimir da falta de dados estatísticos que comprovassem que os gatos seriam os grandes culpados pelas epidemias de toxoplasmose em épocas recentes. Mostra então, indiretamente, a opinião de um infectologista entrevistado em 2010 pelo jornal potiguar Correio da Tarde, a qual transcrevo abaixo:

“Segundo o infectologista e professor da UFRN, Kleber Luz, a toxoplasmose pode ser transmitida de forma adquirida ou congênita, sobressaindo três formas de contágio. ‘Pode ser pela ingestão de carne crua ou mal cozida de animais parasitados contendo cistos teciduais, especialmente do porco, do boi e do carneiro; pela ingestão de alimentos ou água contaminados pelas fezes de felinos, sobretudo de gatos[;] ou por transmissão direta’, explica. Em mulheres grávidas a doença pode ser mais grave. Na congênita, quando é transmitida durante o período de gestação, e o feto consegue sobreviver, pode provocar diversas complicações como hidrocefalia, retardo mental, lesões da pele, microencefalia e disfunções hepáticas.”

Deduz-se que o autor do “Morte aos gatos!” interpretou a referência acima à transmissão direta como o grande indício de que gatos transmitiriam diretamente, pelo simples contato com seres humanos, a toxoplasmose. Mas não é isso o que se percebe. Nada no texto afirma que o contato com gatos traria o risco de se contrair a doença. Pelo contrário, é perceptível que a “transmissão direta” se trata não da relação entre humanos e gatos, mas sim da contaminação congênita de filhos de portadoras da enfermidade – o que é inclusive confirmado por artigo científico de Maria Bernadete de Paula Eduardo e equipe, publicado em maio de 2007 na revista Boletim Epidemiológico Paulista.

Ele põe no mesmo parágrafo:
“Conversei com veterinários, médicos e biólogos e todos foram unânimes em dizer, ao contrário do que foi afirmado por alguns comentaristas do site, que locais em que há muitos gatos, cria-se, sim, ambiente propício para a difusão da toxoplasmose.”
E também:
“O contato com o gato, ou o uso comum dos ambientes/utensílios pode também levar ao alastramento da doença. Um biólogo […], que fez graduação e mestrado na UFRN, lembrou o que é comumente visto pelos alunos daquela instituição: gatos dividindo bebedouros com alunos e professores (água contaminada também representa uma forma de contágio).”

Nisso ele falta com a factualidade científica – e com a verdade, no final das contas –, porque não há evidências científicas de tal forma de contágio da toxoplasmose. Os oocistos do Toxoplasma Gondii não se transmitem por via aérea, cutânea ou salivar (gatos lambendo bicos de bebedouros), mas sim por via oral – quando se come carne de animais infectados ou se bebe água contaminada com fezes de gatos portadores. Os bebedouros só poderiam transmitir a enfermidade se a água já viesse contaminada com cocô de gato desde sua fonte.

Ou seja, se um local muito populoso de gatos é um potencial foco de toxoplasmose, é porque provavelmente os felinos defecam na roça em que os vegetais de consumo local são plantados e/ou na fonte d’água de onde os moradores humanos obtêm a água para beber ou lavar as plantas a serem comidas.

Mais detalhes sobre a incubação do Toxoplasma Gondii no organismo dos gatos, segundo Maria Bernadete de Paula Eduardo e equipe:

Existem três estágios principais de desenvolvimento do parasita: taquizoítos, bradizoítos e esporozoítos. Os taquizoítos são organismos de rápida multiplicação da infecção aguda, também chamados de formas proliferativas e trofozoítos. Os bradizoítos são organismos de multiplicação lenta ou de repouso nos cistos do toxoplasma e se desenvolvem durante a infecção crônica no cérebro, na retina, no músculo esquelético e cardíaco e em outras partes. Os esporozoítos desenvolvem-se nos esporocistos dentro dos oocistos que são eliminados pelas fezes dos gatos e, por via oral, são altamente infectantes para os mamíferos, as aves e o [ser humano]. Após a ingestão pelo gato de tecidos contendo oocistos ou cistos, estes são liberados no organismo e penetram no epitélio intestinal, onde sofrem reprodução assexuada, seguida de reprodução sexuada, se transformando em oocistos que podem ser excretados junto com as fezes. Os oocistos não esporulados necessitam de 1 a 5 dias para se esporularem no ambiente, tornado-se infectivos. Os gatos são considerados hospedeiros completos, pois apresentam o ciclo extra-intestinal ou tecidual, composto por taquizoítos em grupos e bradizoítos em cistos. Os [humanos], os mamíferos não felinos e os pássaros são hospedeiros intermediários ou incompletos, nos quais ocorre apenas o ciclo tecidual extra-intestinal.

 

Alimentação de animais de rua

O autor sugeriu também que fosse criminalizada a alimentação de animais de rua, sob o pretexto do desequilíbrio ambiental causado por eles em determinadas áreas de cidades como Natal. Mas aí fica uma dúvida: se as pessoas não os alimentarem, como esses animais irão viver?

Aliás, a resposta a essa dúvida acarreta que o próprio autor dá um tiro no pé quando faz tal sugestão. Porque, sem alimentos fornecidos pelas pessoas, os gatos irão, mais do que nunca, recorrer à predação dos passarinhos, dos tijuaçus e de outras potenciais presas. Se já matam tais animais mesmo sendo alimentados, os gatos de rua iriam fazê-lo muito mais ainda em caso de fome, de falta de alimentação vinda de mãos humanas. Afinal, eles irão querer sobreviver, não aceitarão se entregar e morrer de fome por causa de uma lei a proibir que recebam comida dos humanos.

 

O especismo e o controle de zoonoses

Ele tenta, no texto e nas respostas a comentários e ao meu texto-resposta, se redimir do fato de que arrogou uma superioridade moral para o ser humano. Mas, se para ele “o homem [sic] é mais importante do que o animal não humano”, por que ele sustenta essa crença, senão pela convicção de que os interesses e a dignidade moral dos animais não humanos seriam inferiores aos dos seres humanos? O que o faz achar que uma desigualdade de importâncias (por exemplo, a vida do ser humano ser mais “importante” e digna do que a de um outro animal) não seria uma desigualdade de consideração moral?

Adiante, na segunda metade do parágrafo em que ele tenta se defender da acusação de especista, ele diz:
“Ora, a política de controle de zoonose também parte dessa premissa para pensar a população de animais. Até porque, sem o controle, a transmissão de doenças ocorre sim. E, em determinados casos, o sacrifício se faz necessário (qual o absurdo nisso tudo?).”

Nisso ele acaba incidindo na falácia do espantalho, que consiste em imputar ao outro lado um falso argumento criticável que na verdade não foi manifestado. Porque nenhum defensor dos animais é contra a existência de uma política de controle de zoonoses e de populações de animais de rua. O que somos contra é a política do extermínio, de lhes negar o básico direito à vida quando alternativas saudáveis e éticas são totalmente possíveis. Existem políticas antizoonóticas pacíficas e éticas, como se vê abaixo.

 

A política ética para o controle das zoonoses e das populações de animais errantes

O autor acaba incidindo no equívoco de pensar que a adoção de gatos, por hoje ser baixa em comparação à de cães, será baixa para sempre. Isso não é nada que uma campanha permanente e bem elaborada de estímulo à adoção de gatos (e de cães também) não possa reverter – e, a saber, já existe em Natal uma política municipal a promover esse incentivo, inclusive prevista em lei.

A eutanásia, por sua vez, só se faz necessária quando o animal está sofrendo irreversível e intratavelmente. Porque, nesse caso, é a única maneira de acabar com sua agonia. Doenças altamente contagiosas poderiam ser lidadas com o isolamento, definitivo ou não, dos animais doentes em quarentenas e o devido tratamento – considerando que o Estado seja ético o bastante para reconhecer os tratamentos existentes para doenças do tipo como a leishmaniose visceral (também conhecida como calazar). Afinal, não há por que não se considerar cães e gatos (e todos os demais animais) sujeitos de direito, dignos do sagrado direito à vida, pela qual o Estado idealmente deveria zelar.

E a seguir ele escreve:
“É preciso pensar ainda com a cabeça do administrador público. O centro de zoonose não recebe grande quantidade de recursos. Até porque a prefeitura prefere investir em outras áreas, o que dificulta ainda mais a conjugação de todas essas ações.”

Uma política pública dirigida à integridade dos animais não humanos e liberta do especismo – o qual pessoas como o autor do “Morte aos gatos!” carrega – poderá reverter essa situação. Não é porque um centro de controle de zoonoses recebe hoje pouca verba que assim deva ser para sempre, que a solução seja exterminar para economizar dinheiro – crença que não corresponde à realidade, considerando-se também que o extermínio acaba saindo financeiramente mais caro do que o controle por esterilização, chipagem e incentivo à adoção e à tutela responsável de animais.

 

Outros assuntos (“fundamentalismo”, vegetarianismo, testes em animais etc.)

Me abstenho de responder diretamente a essas partes. O tema a ser tratado no debate é especificamente como fazer o controle de zoonoses, se por extermínio ou por esterilização, chipagem e campanhas de adoção e guarda responsável. Temas como vegetarianismo e testes in vivo deverão ser tratados em textos à parte, que desde já me disponho a responder caso sejam publicados.

 

Sobre a reação irracional dos mais revoltados: minha posição

A indignação quase generalizada daquelas pessoas que respeitam os animais não humanos, eu incluído, é parcialmente justificável, visto que o artigo “Morte aos gatos!” usou, desde o seu título, de uma linguagem muito polemista, mordaz e provocativa, como se visasse não abrir um debate cordial e proveitoso, mas sim meramente semear a fúria dos considerados “politicamente corretos” e sacudir a bandeira de “politicamente incorreto com orgulho”, a mesma ostentada pelos Rafinhas e Narlochs da vida.

Digo “parcialmente justificável” porque parte das demonstrações de contrariedade ali vistas realmente não encontram embasamento racional e mesmo ético. Ofensas, ameaças e diversas outras formas de expressar revolta na base da baixaria e da irracionalidade não são razoáveis para nenhuma ocasião. Acabam os partidários desse ódio reativo se rebaixando ao nível de quem os provoca, ou mesmo tornando-se ainda mais baixos do que seus provocadores.

Em outras palavras, uma pessoa que ameaça de morte ou injuria com virulenta violência verbal um especista assumido não é mais ética do que o ofendido. Pelo contrário até: ela se torna oficialmente uma criminosa antiética, podendo ser denunciada às autoridades judiciais ou policiais, com toda razão, por injúria (Artigo 140 do Código Penal) e/ou ameaça (Artigo 147 do CP).

Não é com insultos e manifestações de disposição para ferir ou matar que a sociedade vai se tornar mais ética e os “politicamente incorretos” serão argumentativamente desacreditados. Isso, aliás, acaba deixando parecer que os defensores dos animais são pessoas histéricas e descontroladas, que se dispõem a agredir e intimidar para fazerem valer os Direitos Animais. Está sendo trabalhoso para a militância animalista se livrar desse estereótipo, mas infelizmente muitas pessoas – que muitas vezes não são os conservadores – acabam atrapalhando seriamente esse esforço racionalizante.

Desde já eu afirmo que não incitei qualquer ameaça ou injúria. Me restringi a convocar protestos, dada a forma revoltante com que o artigo “Morte aos gatos!” foi escrito, e me calquei na premissa, que infelizmente acabou não correspondendo à realidade, de que as manifestações de repúdio seriam geralmente comedidas e observantes à justiça. Ter descoberto que a revolta acabou parcialmente saindo da pretensão esperada me fez acrescentar a observação para que se evitassem manifestações irracionais e odientas.

Novamente demonstro minha reprovação às formas irracionais de se “defender” os animais, baseadas nas injúrias, nas ameaças, na imposição do medo, na revolta bestializada e irracional. Não é com tais métodos que os animais serão libertados da escravidão a que hoje são submetidos. Pelo contrário, a Razão e a Educação serão instrumentos sagrados para tanto.

 

Considerações finais

Dessa vez o autor do texto “Morte aos gatos” demonstrou realmente a intenção de argumentar respeitosamente – muito embora sua linha de raciocínio não respeite o direito dos gatos à vida nem os reconheça como sujeitos morais que podem ter sua convivência com os humanos harmonizada e libertada de doenças. Ainda assim, ele incidiu em falhas argumentativas que esta tréplica se dedicou a desvelar.

Vislumbro aqui que a opinião defensora da velha política de sacrifícios é algo cada vez mais minoritário e residual, que vem sendo abandonado e substituído pelo zelo a todas as formas de vida senciente, incluídas a humana, a felina, a canina e todas as demais. É possível controlar, ou mesmo zerar, com paz a população de animais errantes, e isso passará obrigatoriamente pela superação do pensamento tradicional de que a vida animal não humana é algo descartável e menos importante do que a humana.

Manter-se em guerra contra os cães e gatos abandonados não resolverá nenhuma zoonose. Só irá enxugar gelo e manter o ser humano em um estado de bruteza e cegueira ética, no qual não se reconhece que a violência do tratamento da vida animal como coisa descartável, seja pela mercantilização de animais domésticos, seja pelo extermínio dos errantes, é a grande e fundamental causa da origem e perpetuação das zoonoses que afligem o ser humano.

E termino com uma mensagem: o especismo deve sempre ser criticado e ter seus vícios argumentativos desmontados. E isso deve ser feito do alto da racionalidade humana e do respeito aos seres sencientes. Não com baixaria e violência verbal.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

13 Responses

  1. João Bittencourt disse:

    Belissimo texto. Entendo que Daniel Menezes poderia ter discutido o problema da superpopulação de gatos ponderando as várias possibilidades existentes de controle da mesma. Sugerir a morte como única opção é cair na falácia especista que coloca os humanos como os únicos seres que possuem direito à vida, o que do ponto de vista ético, é inaceitável.

  2. Daniel Menezes disse:

    Você esqueceu de introduzir, joão…

    na frase “do (meu) ponto de vista ético”… 

    Caro, confesso que nunca havia me deparado com fundamentalismo tão forte quanto o que bati de frente… por isso, para mostrar minha impressão sobre o ocorrido… transcrevo um comentário que fiz para um amigo. É um desabafo de quem já recebeu centenas de emails, tweets e até mensagens de cel com ameaças, achincalhamentos, etc…:
    Exalaram os mais diversos preconceitos…
    Se a pessoa prega sacrifício de animais como eu é porque é “fresco é quer levar pau no..”, como alguns falaram nos comentários.
    Se a pessoa prega sacrifício é porque é um autoritário, que não vai deixar o contraditório aparecer (eles alegaram que eu não deixei eles se manifestarem, mesmo tendo aprovado todos os comentários e publicado os textos de robson)”.
    Em resumo, são preconceitos contra pobres, pessoas sem escolaridade, homossexuais, etc… Mas como é em defesa dos gatinhos, vale né…
    Esse milenarismo, travestido de bondade, se chegar um dia ao poder, acaba com tudo…
    Sua expressão mais crua é o anarco-primitivismo, que prega a morte dos homens e o retorno as florestas do passado. 
    Espero que você, que tem formação laica e científica, não caia em todo esse obscurantismo.

    Do Paulo Eduardo
    “Parece que ninguém entendeu o que Daniel Menezes quis dizer. Pelo que entendi, ele não defende os maus-tratos, de jeito nenhum! Mas defende a não alimentação de gatos e o sacrifício do excesso deles. Afinal, todos temos que adimitir que várias doenças podem se propagar através de gatos. Moro em Mirassol, um tranquilo bairro da zona sul de Natal. Creio que, para cada habitante do bairro, existam 3 ou 4 gatos. É um número muito grande de felinos! Na minha rui, toda tarde as 4 e meia uma senhora aparece em seu carro e despeja sobre uma calçada uma grande quantidade de ração. É nescessário?? O governo brasileiro deveria fazer um “controle de gatos”. Acho que a falha do sociólogo foi ter como título de seu texto a frase “Morte aos gatos!”. Se não fosse por esse detalhe, acho que as reações seriam diferentes.”

    teve todo um debate em textos posteriores. Textos favoráveis e contrários… Tudo feito de modo extremamente democrático e aberto, conforme você, que é nosso leitor, sabe que é clausula pétrea nesse site…Mas esse povo é fundamentalista totalitário…Não querem debater. Querem eliminar quem não pensa como eles.Pensam assim: “como vocês não podem perceber que eu estou completamente correto?!”Falam em defesa da vida, mas argumentam ameaçando, achincalhando, etc.São a contradição em pessoa. Por isso, conforme pesquisei, gente que não comunga do fundamentalismo vegan (carnívoros são assassinos)/vegetariano (o homem nunca precisou de carne)/defensores (apenas) dos animais não quer nem discutir com eles.Eles criminalizam os centros de zoonose que salvam as nossas vidas pelo mundo… Ficam, pior do que o evangélico mais fervoroso, querendo nos convencer de que comer um bife bovino é um sacrilégio.Me questiono se um vegan, que rechaça o uso de animais para qualquer coisa, anda de carro, ônibus, come massas, faz tratamento médico, toma remédio, etc… Pq tudo isso leva animal. Mas não se preocupe, eles tem um malabarismo mental para justificar o uso seletivo de animal… (já soube que os mais “xiitas”, compreendendo o primitivismo implícito em sua fé, vão morar na floresta e abandonam a civilização e suas conquistas).Se vc prestar bem atenção, são inúmeros os comentários que valorizam os animais e desvalorizam a vida humana (me refiro aos comentários do texto anterior “morte aos gatos”). Tudo isso é fruto de uma relação social contemporânea isolada, em que uma pessoa canaliza seu sentimento para um animal irracional, que ela acha que também tem sentimentos como os nossos (rs), e cria repulsa contra os demais de sua espécie. É a vitória do homem atomizado.
    Na tréplica, o Robson deseja que a gente faça abrigos para animais com doenças crônicas e até terminais, rs. Nega o sacrifício, que é necessário e já salvou muitas vidas humanas, a todo custo…E querem aplicar os recursos do estado, que não dá nem para atender os humanos doentes, em abrigos para animais. Ongs, alias, muito bem alimentadas pelas tetinhas da viúva. No RN, duas mulheres morreram semana passada em decorrência da falta de leito de UTI, mas fazer abrigo pra gatinho e ficar esperando uma adoção é mais importante, mesmo que a taxa de adoção de gato seja baixíssima.Esse povo não quer argumentos, quer adesão. Não querem debate, querem assimilação ou eliminação de quem não comungue da doutrina deles.Bem, o debate continuou de modo respeitoso nos textos abaixo…Abç, caríssimo e obrigado por ter lido o meu texto, preocupado em tentar entendê-lo.Ah… De fato você tem razão também quando diz que meu título foi infeliz…Mas foi proposital… Quis mexer com esses politicamente corretos fascistas do bem.

    • João Bittencourt disse:

       Caro Daniel,

      Sou contrário a qualquer tipo de fundamentalismo, seja ele “obscurantista” ou “iluminista”. Não pense que partilho dos comentários em tom de ameaça dirigidos a você ou a qualquer outra pessoa que sugere a matança de animais como medida de controle de doenças. Não acho que se indignar contra os maus-tratos infligidos aos animais supõe o esquecimento das inúmeras formas de sofrimento infligidos aos seres humanos. Os vegetarianos não são anti-humanos, o que criticamos é um ponto de vista que despreza os não-humanos. Engraçado que grande parte dos meus amigos “humanistas convictos” dizem a mesma coisa: “Isso é um absurdo! Como é possível que alguém faça passeata para pedir o aumento da punição contra os maus tratos infligidos aos animais, enquanto inúmeras crianças passam fome em nosso país! Ok, concordo com eles, acho um absurdo que crianças passem fome, mas quem disse que não podemos lutar pela diminuição do sofrimento de humanos e não-humanos? Também não se pode generalizar e colocar todos os “vegetarianos” no mesmo saco sob o rótulo de “xiítas”, “fascistas”, ou qualquer outra expressão semelhante. Outro dia, vi um cartaz circulando na internet intitulado “A morte do alface”, e que dizia: “vegetarianos: comam pedras”. Uma piada de péssimo gosto, diga-se de passagem. Tive a mesma impressão que você, e pensei: “Se fosse um comentário racista, homofóbico ou misógino”, tod@s teriam se indignado, mas como o vegetarianismo e o respeito aos animais não-humanos é algo secundário, tod@s deram risada; e o mais interessante é que a pessoa que postou vive divulgando textos a favor das minorias em suas mais diversas expressões, para mim, um contra-senso. Pode ficar tranquilo que não vou cair em divagações obscurantistas, mas também é preciso ter cautela com a defesa exagerada do cientificismo, pois, como disse outro dia o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, nada é mais obscurantista que um iluminísta ultra-iluminado. Espero que as ameaças tenham parado e que a boa discussão volte a reinar entre os leitores e colunistas da carta potiguar. Abraço.

  3. Lendo todos os comentários e textos, desde o lamentável “antigatos” até replicas e tréplicas, não poderia deixar de notar a qualidade argumentativa do Robson Fernando de Souza, algo realmente inspirador.

    Por outro lado, não me surpreendo com o texto que convida o leitor a apoiar a eliminação de gatos, pois não faltam textos especistas que apelam para ideia do homem como centro do universo, são abundantes os discursos falaciosos vendidos como verdades absolutas, são convites ao anacronismo, ao retrocesso, a busca de soluções dignas da idade média. E como era de se esperar, clichês não poderiam faltar, neste caso, são as inversões de valores que estão demasiadamente presentes nos textos do Daniel Menezes.

    Mas não me aborreço, foi um texto medíocre que me proporcionou o prazer de ler preciosidades, por isso brindo, nem tudo está perdido.

    • Robson Fernando de Souza disse:

      Obrigado, de coração, Pedro. Infelizmente, mesmo em épocas de avanços dos Direitos Animais como a nossa, ainda temos que lidar com textos tão retrógrados como os que respondi.

  4. lucas disse:

    pqp tanta coisa mais importante acontecendo no rn, tantos problemas realmente importantes para serem resolvidos, e o site sendo pautado por meia duzia de faz nada que sao incapazes de se moverem por causas importantes mas fazem uma arruaça dessas por causa de gatos, e ainda se acham os super humanos. sou a favor do controle, é minha opiniao e respeito quem pense diferente

  5. Daniel Menezes disse:

    obg,

    lucas.

  6. Onguecaesegatos disse:

    Professor Daniel Menezes, sou professora aposenta da há seis anos da Escola Agrícola de Jundiaí, acredito que ser professor, é ser um transmissor de conhecimentos. Não sou apenas professora, sempre atuei como EDUCADORA. Um educador transmite valores morais e éticos aos seus alunos, como por exemplo: o respeito aos seus semelhantes e sobretudo à natureza, o que inclui os animais, é lógico!! Os currículos escolares deveriam ter obrigatóriamente, no ensino fundamental, a transmissão destes valores éticos e morais, já que algumas famílias não passam para seus filhos estes valores: tivemos a poucos meses um exemplo real, noticiado pela mídia: àquela enfermeira desequilibrada que assassinou uma cadelinha , na frente do filho de três anos!!!! Que animais somos nós? RACIONAIS? Quanto à questão da transmissão da toxoplasmose por gatos, digo-lhe: Coordeno uma assossiação de proteção a animais aquí em Macaíba, recolhí muitos gatos de rua, e todos os dias divido a minha cama com nove gatos, abraço=os, beijo-os todos os dias, tenho contato direto com suas fezes, tanto nos pés, quando vou lavar os gatis, tanto nas mãos, quando vou apanhar suas fezes no meu banheiro, com papel higiênico, e sem luvas!!! Faz muito tempo que eu realizo este trabalho, com muito orgulho e acima de tudo, muito amor!!!! NÃO TENHO TOXOPLASMOSE!!!!

  7. Gisele Oliveira disse:

    Pôxa, o que dizer? Perfeito, Robson. Artigo bem fundamentado, educado, direto e completo!
    Parabenizo ao Sr. Daniel Menezes por ter publicado tal tréplica.

  8. QUEM NÃO MEDE AS CONSEQÜÊNCIAS DO QUE DIZ, NO MÍNIMO, OUVE O QUE NÃO QUER… MAIS RESPONSABILIDADE, SR. EXTERMINADOR DE GATOS…

  9. Izumi Curtis disse:

    quando a gente não quer que cresça a população seja de gatos ou de caes ou mesmo humana a saida mais barata é matar, mais esquecem que os ditos bichinhos estão na rua porque um dito ser humano os colocou la,porque não quiz gastar com uma simples castração ou porque o bichinho ficou doente e só serviu enquanto foi saudavel,é triste e vergonhoso ver como gatos e cachorros são tratados com preconceito e crueldade o que é pior sem nenhuma lei que os proteja 

    • Daniel Menezes disse:

      Abandono de animal também é proibido, caríssimo.

      Também sou favorável a tal legislação. O problema diz respeito a fiscalização da prática.

      Mas sou favorável a ela.

      Crio uma cadela com zelo e cuidado, e caso eu a abandone, estarei cometendo um crime.

  10. Sales disse:

    Os textos do Sr. Robson me parecem deveras pedantes… Que tal mudarmos de assunto? Operação Judas?

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