Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 1 de julho de 2012

Música? Eu quero é sacanagem…

postado por Carta Potiguar

Flávio Mottinha Macedo

Que a música é uma das melhores maneiras de conhecer uma sociedade é indiscutível. Que o nível da educação nos evidencia as entranhas de um povo, também é fato. É, por isso que não me surpreendo com o atual momento da música brasileira.

crédito da imagem: Banco de imagens Google

Já observaram os sucessos do momento? Ritmos e músicas de fácil compreensão, com coreografias. Não se fala mais em “vou te seduzir”, agora é “Ai se eu pego”. Refrãos de músicas apresentam, apenas, tchu tcha tchu tcha … e assim todos cantamos e dançamos. Fica fácil para cantar, fica fácil para dançar

Mas, qual seria a razão dessas músicas de baixa qualidade (tem qualidade mesmo?) técnica fazerem tanto sucesso? Apresento-lhes a mais óbvia das respostas: a ignorância coletiva.

Pois é, meus caros, nossos sucessos refletem nossa ignorância. Afinal, como o povão vai entender boa língua portuguesa se não têm ensino de qualidade? Como vão aprender a, ao menos, reproduzir sons de qualidade se não se ensina música de verdade nas escolas?

Dessa forma, a boa música com acordes e letras dignas para serem tratadas como tal, se tornou objeto de poucos. Na verdade, raros. Raros são os que tiveram acesso ao ensino de música e boa educação que optam por seguir esta carreira. Muitos desistem por conta da exigência do mercado musical (quanto pior melhor) ou resolvem usar seus dotes para fazer fortuna com a baixa qualidade (não condeno, afinal precisamos sobreviver!)

Há boa música sendo produzida no Brasil?! Claro, e sempre tivemos. Mas não dá para exigir da população compreender música e língua portuguesa. Logo, como vamos ter qualidade? Quando vamos ter qualidade? Sinceramente, não vejo um futuro promissor nesse sentido … (isso serve para programas de TV, também)

E, assim, no país do jeitinho, continuaremos a aplaudir o rebolado (masculino e feminino) ante a bela dança a dois, a baixaria das letras de apelo sexual ante as letras inspiradas por críticas e declarações de amor, e melodias que são reproduzidas por qualquer recém nascido com seu chocalho ante aos sonoros acordes rebuscados da verdadeira música brasileira.

Ah! Esqueci de dizer que a nossa música chega ao mundo inteiro, até mesmo antes de nós. Arquemos com as conseqüências …

Carta Potiguar

Conselho Editorial

2 Responses

  1. Marcus Varela disse:

    A música é uma percepção do mundo, pois a
    música ecoa pelo mundo como uma presença obrigatória. A música é uma
    dimensão do mundo. Uma dimensão repleta de sentidos, significados,
    valores, ensinamentos, percepções… Uma dimensão que proporciona ao
    mundo uma beleza própria, uma beleza à parte. A música somos nós,
    traduzidos sonoramente, simbolicamente. A música não traz conceitos
    fechados, não existe no mundo visual, não possui o poder de representar
    nada de concreto. Como diz Oliver Sacks, a música não tem uma relação
    necessária com o mundo. Mesmo assim, o nosso mundo precisa de música. De
    boa música.

    Podemos analisar o mundo através da música. Podemos
    dizer quem somos, ou quem julgamos ser, pela música que fazemos. Ela
    reflete nossos valores, crenças, sonhos, desejos… Como anda a música
    do mundo? Responder essa pergunta é dizer também como anda a humanidade.
    A música de hoje reflete uma humanidade superficial, consumista,
    hedonista, e tecnológica. É claro que existe um outro lado, mas ele
    parece cada vez mais isolado, mais distante do famigerado senso comum. É
    preciso educar o mundo através da música. Educar o mundo para a música.
    Educar o mundo da música e a música do mundo. Ela pode ser muito mais
    do que sons organizados. Pode revestir-se de uma verdade libertadora,
    conferindo uma perspectiva inteiramente nova à vida daqueles que se
    dispuserem a ouvir com um pouco mais de atenção.

    A
    música oferece ao tempo a oportunidade de experimentar por um instante
    as infinitas alegrias e dores humanas. Transforma os ouvidos em órgãos
    vitais e lhes transfere o poder de perceber o tempo nos retribuindo e
    nos tornando imortais.
     

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