Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de julho de 2012

Os novos gladiadores e o duelo Silva e Sonen

postado por David Rêgo

O UFC tem consagrado lutadores como heróis. Dois homens dentro de uma arena, lutando até que um deles desista. Os gladiadores do século XXI. Amados por muitos, movem multidões aos seus duelos. Não são os novos Spartacus, mas estão mostrando-se capazes de criar novos impérios. O UFC cresce cada vez mais, e torna a “luta-livre” um novo mercado, um novo poder. Grandes e consagrados guerreiros de todo o mundo, de todas as artes, em um torneio. Parece até história de vídeo-game, Street-fighter, Mortal Kombat com fatality desabilitado, ou coisa do tipo. A imagem abaixo (feita durante a pesagem do UFC 148) descreve melhor o que tento passar.

O grande público presente durante a pesagem demonstra o grande prestígio dos lutadores de artes marciais na atualidade.

Os brasileiros no UFC 148

Já na primeira luta do card preliminar, apesar de um susto no início da luta, ao receber um golpe no rosto e começar a sangrar muito, Rafael Oliveira  massacrou Yoislandy Izquierdo no chão durante os dois últimos rounds e venceu a luta de abertura por decisão unânime dos juízes e contabiliza 15 vitórias para seu currículo.

“Eu sou pernambucano, brasileiro, só desisto quando apago”

Afirmou Oliveira em entrevista após a luta”.

Gleison Tibau por sua vez não fez igual. Apesar de vir de 3 vitórias e demonstrar bom preparo físico, não conseguiu vencer o russo Khabib Nurmagomedov. O potiguar dominou bem o primeiro round. Conseguia conter os ataques do russo, tanto no “troca-tapas” como nas tentativas de levar Gleison para o chão. Porém, teve um segundo round apagado e não definiu no terceiro e último round. No resultado final os juízes, por decisão unânime, deram a vitória para o russo. Apesar da derrota a luta foi bonita e com boa movimentação.

A luta seguinte foi entre Fabrício “Morango” e Melvin Guillard, com nova derrota para o Brasil. Com um primeiro round muito disputado e bastante movimentado, os lutadores guardaram as melhores surpresas  para o final com ótimos golpes de ambas as partes. Em todos os rounds a luta foi bastante disputada, porém, Guilard apresentava sempre uma pequena superioridade em relação ao brasileiro. Morango ainda teve uma ótima oportunidade no final do terceiro round com uma chave de perna, porém, não conseguiu finalizar e na pontuação acabou sendo vencido.

Sobre a luta de Demian Maia não há o que falar. Nocaute técnico aos 47 segundos do primeiro round. Venceu “na queda”.

O grande duelo da noite

Dentre vários duelos no último UFC, Sonen vs Silva foi quase um segundo evento dentro do mesmo espetáculo. Mesmo grandes estrelas como Tito Ortiz (que afirma que se aposentará após a luta) e Demian Maia (estreando em nova categoria) foram ofuscados pelas provocações e troca de farpas entre os rivais Anderson e Sonen.

Nos últimos dias, como forma de provocar seu rival, Silva relembrou a derrota de Sonen para Demian Maia. Para Silva, Sonen perdeu para alguém que ele espancou por 5 rounds. Maia também entrou na provocação e respondeu aos argumentos de Anderson com grande classe:

“Ele não me bateu por cinco rounds. Fez muita firula e se tivesse conseguido me nocautear, tinha me nocauteado. Não tem ninguém bonzinho que fique segurando uma luta. Ele não teve oportunidade”

Provocações, alfinetadas para todo lado, todo o bastidor para a luta estava armado. Anderson afirmou que finalizaria a luta no primeiro round. Sonen continuou as provocações afirmando que Silva não era digno de ser o detentor do cinturão. Os ânimos eram os mais exaltados possíveis. No bar em que assisti a luta o comentário pouco antes do início da luta foi: Spider, mata ele! Por favor, MATA E-L-E. O resultado deu-se no ring.

Silva já tinha advertido Sonen que ele não teria a menor chance. E assim o fez ao estilo “aikido e muay-thai”. Silva estava ao lado de Steven Seagal, consagrado mestre de Aikido, e pelo visto seus ensinamentos surtiram efeito. O primeiro round foi de Sonen, que levou Anderson para o chão e deu bastante trabalho. Porém, no segundo round Anderson Silva evitou as quedas do norte-americano e, em um determinado momento esquivou-se de um dos golpes de Sonen que perdeu o equilíbrio e abriu as portas para um massacre de um veterano lutador de muay-thai. Sem chances para Sonen que teve que engolir suas palavras que afirmou sua superioridade e reafirmou sua maturidade técnica, resistência física e velocidade. Aos 36 anos, o Spider permanece como “A lenda do UFC” em sua categoria. Depois desta luta, Sonen já pode decretar sua morte social.

 

 

 

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

7 Responses

  1. CMorais disse:

    Por qual razão eu não consigo ver atrativo algum nesses “eventos”? 

  2. Para mim, UFC é aula gratuita de violência. As pessoas se chocam com as atrocidades da vida moderna (assaltos, homicidios, acidentes, violência doméstica etc.) e depois pagam para assistir uma luta em que 02 seres humanos se debatem até a exaustão para mostrar quem é o melhor. Sem falar que sair da luta com o nariz quebrado, uma fratura no maxilar ou um corte no supercílio é um detalhezinho despercebido… Mas eu, particularmente, acho chocante a cena da pessoa sangrando, suada, cansada e partindo cheia de ódio pra cima do oponente e o povo gritando, estimulando, torcendo para o massacre se concretizar. Ninguém me convence de que ali é só a competição. Existem as técnicas, mas a raiva, a ira, o desejo de maltratar o adversário é um ingrediente indispensável nesse tipo de esporte. Quem vai acreditar que Anderson SIlva não lembra dos chingamentos de Sonnen da hora da luta? Em seu artigo, David, você diz: “O UFC cresce cada vez mais, e torna a “luta-livre” um novo mercado, um novo poder”. É isso que importa: dinheiro e poder. Então vamos parar de ser hipócritas e assumir que se a violência dar lucro, VIVA A VIOLÊNCIA!.

    • Mesmo bem antes do dinheiro o duelo já é praticado diariamente nas academias. Existem pessoas que gostam de artes-marciais, existem pessoas que gostam de provações físicas e não entendo a razão para ser contra algo com regras que impede violações físicas mais severas, juízes par acabar a luta instantaneamente caso observe algum problema etc.
      Quanto ao desejo de maltratar ser indispensável… talvez seja preciso ver mais lutas e conhecer melhor os lutadores antes de afirmar isso. O caso Anderson vs Sonen, em que houve real desentendimento, não é a norma do jogo. Prova disto é ver como foram as lutas no Card preliminar do UFC 148. Em alguns casos os lutadores simplesmente “começam a conversar” um com o outro, bater um papo, como quem acabou de jogar um futebol…
      E bem… quanto a luta livre ter tornado-se um mercado, um novo poder… trata-se apenas de um novo esporte que entrou no jogo além dos que aí já estão. E sim, alguns podem ver como violência, já que não compreendem o sentido presente num duelo de artes marciais, talvez taxar algo simplesmente como violento resolva. Neste caso,a violência da lucro. Mas ainda prefiro esse tipo de violência, que exige treinamento severo, vida altamente disciplinada, estudos severos e intensos tanto da mente como do corpo (Steven Seagal é mestre de Anderson Silva, nada mais, nada menos que um “grão-mestre” do Aikido atual, tendo fundado seu próprio estilo e esta arte marcial é famosa justamente por zelar pela paz e é sempre necessário ler muito para entender a arte, já que é também uma filosofia), meditação etc. etc. etc…
      A “aparência” são socos, chutes, pontapés e sangue. Mas isso é aparência, só quem acompanha atletas da área para saber o que representam aqueles momentos de “violência” (consentida, lembremos… vejo problemas na violência “injusta” e feita de forma a prejudicar alguém, não é o que ocorre no UFC).

      • Damião disse:

        Oi, David, o que eu lamento foi que o MMA acabou com o boxe, acho muito mais bonito. É preciso ver as estatísticas, acho que o UFC, com suas regras, que ainda podem melhorar, não é o esporte mais letal. Corridas de automóvel, por exemplo, produz muitas mortes. 

  3. Daniel Menezes disse:

    Sueli,

    antes da profissionalização do MMA, os meninos brigavam no meio da rua. Lembro de um show que fui no Imirá de Charle Brown Jr, que duas academias combinaram uma briga lá e quase se mataram. Um verdadeiro palco de guerra.
    Veja… Ao invés de lutar em festas e no meio da rua, agora a “violência” foi “esportificada”. Eles “brigam”, mas com regras claras e com limites objetivos.
    Bem, tenho uma visão positivo a respeito desse processo, pois vejo, na verdade, uma pacificação através do esporte de uma violência que ocorria nas ruas… abç.

  4. CMorais disse:

    Poxa, respeito as opiniões…Mas “violência esportificada” é meio incongruente. É violência, ponto. Mas será um esporte tão somente pela existência de regras? Eu entendo muito pouco de artes maciais, já fiz aulas de defesa pessoal, e lá eu via um respeito mútuo entre os atletas, mesmo inábil eu achava algo “bonito” de se ver, mas isso chamado UFC, MMA, enfim, fica no campo do gosto pessoal, penso eu. Mas a tão só existência de regras não me convence sobre a qualidade esportiva desses eventos…fosse pelas regras, constitucionais, por exemplo, nosso país seria bem mais justo socialmente. Parabéns aos participes do debate. Abraço!  

  5. Parabéns, amigos, pelo nível do debate. Nesse caso, Daniel e David, nossos pontos de vista divergem, mas quero registrar o agradecimento pela atenção de vocês. O gosto/preferência por esse ou aquele esporte é realmente uma escolha pessoal. Eu não me identifico com MMA/UFC, pelas razões já apresentadas. Abços.

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