Rio Grande do Norte, quinta-feira, 02 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 23 de julho de 2012

Convocação de Suplentes da PC Potiguar

postado por Ivenio Hermes

Reconhecer enquanto não é tarde!

1 Introdução

Em 16 de Julho de 2012 o artigo “O Mito das Nomeações” atingiu o Estado potiguar. Em seguida ganhou divulgação nacional, demonstrando através de números e estatísticas, fundamentados em dados extraídos de sites oficiais como o próprio portal do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e do Ministério da Justiça, que a situação do concurso da Polícia Civil está além da compreensão técnica.

Se tanto já foi mencionado, mostrado e provado, e não somente isso, se juntamente com os problemas apontados nos artigos, aqui mesmo foram apresentados diagnósticos de situação e identificadas soluções eficazes, por que não se percebe atitudes proativas da gestão de segurança pública em prol de evitar perda de tempo e desperdício de dinheiro público?

Futuramente, isso ensejará um novo artigo analisando (ou reanalisando, como já foi feito anteriormente em “Suplentes Insistem com Fé”) do porquê de várias nomeações da última publicação não terem sido efetivadas. Uma enorme perda de tempo diante do curto prazo até os jogos da Copa de 2014.

2 Sob o domínio do medo.

Natal, e também o restante do estado, principalmente os grandes centros urbanos descentralizados da capital, estão sofrendo com o aumento da criminalidade, que está escancarada na mídia.

Após todos os fatos divulgados na imprensa, estudos publicados e outros materiais que estão sendo difundidos nacionalmente, seriam totalmente desnecessárias afirmações como a feita pelo Sindicato dos Policiais Civis e Servidores da Segurança Pública do Estado (Sinpol) sobre o aumento da criminalidade em Natal.

Aquela casa sindical, visivelmente preocupada com situação do efetivo da Polícia Civil no Estado, que é uma das grandes causas do aumento da criminalidade, definiu “como “falsa interiorização” da Polícia”, o motivo das nomeações alegadas pela gestão estadual, o que não é novidade para quem acompanha os textos deste autor.

Repetir que Natal é a capital com maior índice de aumento de homicídios contra crianças e adolescentes entre 2000 e 2010, é uma afirmação repetitiva segundo declarou o próprio Sinpol. Entretanto, permanecer em silêncio diante de tantas pesquisas confirmadas e a inação da gestão administrativa estadual no que concerne ao quadro de policiais da Polícia Civil potiguar, é deixar de cumprir um dever de cidadão, é manter conscientemente a sociedade sob o domínio do medo.

3 Nada de novo debaixo do sol.

Em 20 de Julho de 2012, quatro dias após a divulgação nacional do artigo “O Mito das Nomeações”, o Sinpol aportou na imprensa potiguar criticando suposta a falsa “interiorização”, termo que a gestão administrativa usa como fundamentação para as convocações anteriormente realizadas (87 policiais em dezembro de 2011 e 85 em julho de 2012).

Essa “falsa interiorização” já foi demonstrada aqui nos artigos mencionados e em outros. Outros termos como “reforço no interior”, “reposição” e “reforço de efetivo”, tentam induzir o povo potiguar a pensar que essas nomeações acrescentam algo na batalha contra o crime no Estado. Ledo engano, elas apenas substituem combatentes tombados, outros justificadamente cansados de lutar e merecedores de descanso e ainda aqueles que não se identificaram com a causa e deixaram os campos de batalha.

Ainda existem opiniões incautas dizendo que a Polícia Civil não faz nada, que é uma corporação ineficiente, e outras afirmações totalmente descabidas. Palavras oriundas de pessoas que não percebem que se a PC RN está cada vez mais inoperante não por culpa de seus agentes, e sim de seus gestores, que não fornecem estudos motivadores e embasados (como o que foi aqui publicado) para que a gestão governamental perceba que está na direção errada.

Ratificando as publicações e estudos aqui publicados, o Sinpol deu um passo ousado e corajoso ao afirmar que as nomeações estão sendo usadas como medida populista e publicitária “causando na opinião pública de forma proposital uma errada impressão de que o Governo está investindo na interiorização e, portanto, ampliando o serviço”, o que não é nada de novo debaixo do sol.

4 Reconhecer enquanto não é tarde

Uma das soluções mais evidenciadas nos textos deste autor é a utilização dos suplentes do concurso de 2009, atualmente em vigência. As vantagens para os cofres públicos e para a dinamização do processo de refrigério do efetivo policial não são poucas, talvez por isso, estratégia de convocação semelhante a essa, seja praticada em órgãos federais de segurança pública.

Aliás, vale lembrar que o Estatuto da Polícia Civil que prevê a convocação de até três vezes o número de vagas existentes. E no artigo “O Mito das Nomeações”, foi até demonstrado com o seguinte cálculo:

“seria a operação 438 x 3 = 1314 aprovados e não foram aprovados nem 2 X o número de vagas? Já que existe atualmente a irrisória quantidade de 292 suplentes que ainda não fizeram o curso de formação, distribuídos entre 90 delegados, 53 escrivães e 149 agentes, qual a necessidade de um novo concurso?”

Agora, o Sinpol finalmente parece reconhecer a necessidade da convocação dos suplentes, ou pelo menos, de se manifestar a respeito desse tema.

Além dos 307 policiais que estão formados desde 2010, o Sinpol diz que devem ser “convocados outros quase 300 aprovados deste mesmo concurso de 2009, que aguardam a última etapa, que é o curso de formação”. Outra atitude louvável daquela casa sindical que dá um exemplo para outras entidades, inclusive da própria administração, pois a viabilidade de chamar esses tão necessários futuros policiais é algo que a gestão de segurança pública ainda pode reconhecer enquanto não é tarde.

5 Aguardando outros segmentos

Ao manifestar-se através da mídia, o Sindicato dos Policiais Civis e Servidores da Segurança Pública do Estado (Sinpol), mostrou que está atento aos estudos divulgados sobre a criminalidade e o quanto isso diz respeito a Policia Civil.

A sociedade também não está alienada.

A segurança dos cidadãos do Estado do Rio Grande do Norte está e estará em constante ameaça enquanto não houver atitudes proativas da gestão administrativa, não somente para evitar que os índices de criminalidade aumentem, mas pela própria obrigação do Estado.

Por enquanto, o povo aguarda que outros segmentos representativos sigam o exemplo do Sinpol em defesa de um melhor serviço de segurança pública no Estado Potiguar.

 

 

Fonte:

Sinpol analisa aumento da criminalidade em Natal – Matéria publicada em 20 jul. 2012 e consultada em 21 jul. 2012

http://tribunadonorte.com.br/noticia/sinpol-analisa-aumento-da-criminalidade-em-natal/226261

 

Referências de artigos do autor:

HERMES, Ivenio. O Mito das Nomeações: Os Falsos Reforços Para a Polícia Civil. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em: <http://www2.forumseguranca.org.br/content/o-mito-das-nomea%C3%A7%C3%B5es-na-pc-potiguar>. Publicado em: 16 jul. 2012.

HERMES, Ivenio. O Mito das Nomeações: Reforços Para a Polícia Civil . Revista Carta Potiguar. Disponível em: <https://www.cartapotiguar.com.br/2012/07/16/o-mito-das-nomeacoes/>. Publicado em: 16 jul. 2012.

HERMES, Ivenio. Suplentes Insistem com Fé: A Vontade dos Suplentes do Concurso da Polícia Civil Potiguar versus Gestão de Segurança Estadual. Revista Carta Potiguar. Disponível em: <https://www.cartapotiguar.com.br/2012/05/08/suplentes-insistem-com-fe/>. Publicado em: 08 maio 2012.

 

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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