Rio Grande do Norte, quarta-feira, 08 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 18 de agosto de 2012

Percalços da igualdade

postado por Carta Potiguar

Por Paulo Afonso Linhares, Professor da UERN

 

Um dos mais preciosos atributos da democracia é o princípio da igualdade, ou seja, partindo da constatação de que as pessoas são naturalmente desiguais em inúmeros aspectos, a começar pela circunstância de que cada ser vivo tem um código genético que o distingue de todos os outros seres vivos existentes ou que já existiram. Claro, à exceção dos gêmeos univitelinos e obviamente os clones. Portanto, fora destas exceções, não há dois seres humanos com a mesma combinação genética. E mesmo aquelas pessoas – os gêmeos univitelinos – naturalmente idênticas do ponto de vista genético podem se tornar diferentes, porque foi recentemente descoberto que os hábitos e o estilo de vida mudam o comportamento dos genes (cada pessoa tem de 20.000 e 25.000 genes). Assim, as desigualdades sociais, étnicas, econômicas e culturais, finda por estabelecer desigualdade, também, onde a natureza estabeleceu parâmetros genéticos igualitários.

No entanto, a despeito das tantas diferenças, a convivência nas sociedades pretensamente democráticas por definição jurídico-política impõe a igualdade de tratamento para todas as pessoas, mesmo que em alguns casos seja preciso tratar desigualmente os desiguais para igualá-los, segundo fórmula banalizada por Ruy Barbosa. Essa regra da igualdade tanto mais vale quando se trata das questões que envolvem a participação política do cidadão e dos partidos nos processos eleitorais, isto é, de legitimação da representação política. O seu uso, contudo, deve obedecer a certos limites, pena de se tornar algo inútil quando não mesmo grotesco, em algumas situações.

No Brasil, as tentativas legais de homogeneizar coligações, partidos e candidatos, nos processos eleitorais, terminam por gerar situações que beiram o ridículo, inclusive em face da farta utilização, pelos aplicadores do direito, de medidas inequivocamente autoritárias, antidemocráticas. Os debates entre candidatos é um bom exemplo disto. Óbvio, as “acareações” (a palavra “acarear” significa pôr cara a cara duas ou mais pessoas…) que esses debates ensejam poderiam oferecer aos eleitores bons elementos para julgar os candidatos e seus propósitos (ou propostas) políticos e a partir daí basear o seu voto. Lastimavelmente isto quase sempre não acontece, por diversas razões. A primeira delas é que, pela regra da igualdade, todos os candidatos a um determinado cargo (a prefeito, p. ex.), devem ser convidados pelos promotores do debate.

A partir daí são criadas regras, inclusive para racionalizar o pouco tempo que ficará para cada pergunta/resposta, que quase sempre engessam o confronto. O absoluto despreparo de alguns debatedores, para tratar dos temas em discussão, termina por dar tinturas de bufonaria aos debates transmitidos pelas emissoras de rádio e televisão. Os candidatos e suas assessorias já sabem previamente que em nada resultará de útil e esclarecedor (para o público eleitor) esses debates.

O mais interessante é que os candidatos que efetivamente concorrem – com chance de vencer – às eleições, são os que mais se prejudicam, pois aqueles que não têm a mínima possibilidade de serem eleitos são francos atiradores, dizem o que querem, sem compromisso com a verdade ou até mesmo com a mais elementar lógica. Finda mesmo é todo mundo não dizendo nada com nada. E o eleitor, sobretudo, aquele ainda indeciso, fica sem saber para onde caminhar. Embora nos parâmetros da democracia e no respeito à igualdade, geralmente resultam os debates em medíocres e péssimos espetáculos.

Carta Potiguar

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