Rio Grande do Norte, quinta-feira, 16 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 20 de agosto de 2012

O Resgate do Évira

postado por Ivenio Hermes

Aqui Há Dragões

Essa é a historia inacabada dos Argonautas de Punta Crux e do Resgate do Évira. Mas vou contá-la, se me permitem, até onde eu sei.

Os Argonautas

No início, dezessete mil valentes queriam chegar à majestosa ilha de Punta Crux, seu objetivo era servir os habitantes da ilha que sofriam pela falta de segurança. Os navios da esquadra que os transportaria, somente dispunham de 830 lugares, e quem quisesse ter a sua vaga, precisaria passar por um excruciante processo de seleção, pois a viagem não seria fácil.

Antes de chegarem ao objetivo final, no meio do vasto mar do norte, os homens e mulheres selecionados pelo Império Pesariano, teriam que passar por outra ilha onde receberiam o treinamento final para desempenharem suas tarefas em seu local de destino. Foi uma longa espera até que chegassem ao local do treinamento.

Os tripulantes das três grandes embarcações olhavam a ilha onde fariam seu treinamento com olhares ávidos, e por entre as brumas que a envolvia, uma embarcação contemplou outras duas contendo os 540 primeiros argonautas desaparecerem.

Os navios Sceptri e Testudi levaram sua tripulação para o treinamento. Eles se deparam com inopinada falta de estrutura, participaram de um treinamento que não condizia com a função que desempenhariam, e após terminarem o treinamento, foram esquecidos por mais de um ano naquele lugar. Sem a atenção do Império, eles ficaram sem provisões, seus dois grandes navios apodreceram por falta de previsão e quando finalmente foram lembrados, precisaram ser buscados em embarcações menores, que as notas oficiais declaravam que seriam 87 e 85 nas duas primeiras viagens, mas que todos sabiam que não foi o que realmente aconteceu.

Os Pergaminhos Escancarados

O Império Pesariano estava com problemas. O governo não parecia conhecer seus problemas e, portanto, não poderiam providenciar soluções. Ao vislumbrarem sua situação diante do cenário mundial, e após muitas correspondências pedindo pelos argonautas abandonados, ele resolveu buscá-los, mas tinha perdido suas melhores embarcações naquele grande processo.

Com cálculos inadequados baseados nas leis de responsabilidade de navegação, enviaram o primeiro navio para resgatar os primeiros 87 homens e mulheres.

Por falta de planejamento estratégico, não buscaram informações em suas próprias bibliotecas que continham informações que dos 87 nomes que seriam resgatados, 32 já haviam se aventurado para outras paragens, temerosos em nunca serem resgatados. Hoje se encontram trabalhando em outros reinos, outros no mesmo reino inclusive, mas em diferentes funções. Alguns até vieram no navio, porém não estavam mais dispostos ao trabalho. O sangue guerreiro do início da jornada esfriara pela dor do ostracismo e diante das condições de trabalho oferecidas pelo Império.

Alertados quanto ao erro, o Império continuou seu caminho reto, repetindo o erro posteriormente, ao enviar outra embarcação para mais 85 argonautas. E sabe-se até de um barco para 21 selecionados apenas, que teria sido enviada.

Pelo menos, os tripulantes das apodrecidas Sceptri e Testudi estavam em terra firme. A dor do abandono era grande, mas aos poucos eles sabiam que seriam resgatados, talvez em botes, jangadas ou outro meio, mas eles viriam para Punta Crux. Outro grupo, entretanto, jazia perante as brumas, sem apoio, esquecidos ou em alguns casos, como se ficou provado mais tarde, nem eram conhecidos pelos próprios representantes executivos e legislativos do Império.

Eram os 290 homens e mulheres, que viviam um drama a parte nessa história, os tripulantes do navio Évira.

O Motim

A última coisa que os 290 argonautas na nau Évira viram foram seus 540 companheiros irem para o treinamento.

Sua esperança de serem chamados ardia pela força que empenharam naquela jornada. Aguardaram pacientemente o período destinado ao treinamento de seus colegas e sofreram com seu abandono próprio e com o dos colegas que aguardavam na ilha. Viram a falta de ação dos conselheiros do Império e decidiram tomar uma atitude.

Habituados a arte da guerra, não se sentiam confortáveis em somente aguardar, precisam agir e lutar. Reuniram-se, estabeleceram planos e formas de convencer o Império de que eles eram necessários, mas para isso precisavam chegar à casa Imperial de Punta Crux.

Decidiram falar com o comandante e tentaram reiteradas vezes sem obter resposta. Muitas vezes se sentiam desconhecidos, pois eram invisíveis, ninguém os notava e isso os revoltou. Já que o comandante não os representava, decidiram se amotinar.

Mas foi aí que tiveram a maior surpresa: o navio Évira estava à deriva, sem comandante, sem navegadores, sem ninguém que orientasse aqueles argonautas abandonados ao próprio destino.

Guerreiros também choram, e foram nas lágrimas de um dos homens do Évira que uma grande força o revigorou os outros. Eles já possuíam uma organização, mas precisavam de alguém que se lançasse nas águas e fosse procurar ajuda, pois seu motim de nada valia, pois eles não tinham um comandante.

O Grupo Operação Évira

Os representantes do argonautas esquecidos entre as brumas diante da ilha de treinamento, denominados Operação Évira, saíram em busca de ajuda.

Tentando conscientizar os mais diversos segmentos da sociedade Pesariana, eles falaram com legisladores, escribas, fariseus, cobradores de impostos, representantes da plebe e nada conseguiram além de promessas vazias que não se concretizavam.

Os grossos cascos do Évira apodreciam e corriam o risco de perder sua capacidade de resistência ao mar e naufragar, portanto o tempo era precioso demais.

Estudiosos daquela situação se sensibilizaram e começaram a difundir seus estudos para outros que começaram a perceber a importância estratégica dos homens do Évira. Um grande evento se aproxima de ocorrer no Império, eram os jogos mais populares entre as nações do mundo, e justamente Punho Crux seria responsável por grande parte da segurança daquele evento.

Prontos para serem treinados, muitos deles já eram inclusive pagos pelo próprio Império Parasiano em outras funções. Eram 290 argonautas esperando pelo chamado às armas.

O grupo Operação Évira não imaginava que ao tentar conseguir ajuda para seu grupo, fomentaram pesquisas de estudiosos cujos resultados ajudavam os companheiros deles das naufragadas Sceptri e Testudi, a serem logo resgatados.

Os estudiosos por sua vez, desprendiam recursos próprios, tempo, amizades e outros meios para fazer a causa do grupo Operação Évira ecoar e surtir resultados.

O Resgate do Évira

Essa história ainda não terminou, como mencionei no inicio, e se você leu até aqui é porque me permitiu contá-la até onde eu sei, portanto, tenha um pouco mais de paciência e leia o restante do meu relato.

Não se pode mais afirmar que ainda existem 290 argonautas na embarcação, pois muitos já desistiram também.

Contam que últimos estudos desencadearam eventos que levaram a uma grande sensibilização dos representantes do povo. Esses representantes cobraram uma solução da casa Imperial e acredita-se que agora é um momento oportuno para o resgate.

Eu queria poder terminar essa história aqui e com um final feliz para todos os argonautas, principalmente os da nau do Évira, mas ainda não posso.

Hoje enquanto me despedia de um dos membros do grupo Operação Évira, ele estava com um mapa nas mãos e cheio de esperança, isso me emocionou, confesso.

Ele estava apressado como sempre e indaguei para onde ele partia e que mapa era aquele. Ele, colocando o pequeno bote no mar, disse que estava indo avisar aos outros, levar esperança, motivar seus colegas. Sobre o mapa, ele o abriu e me mostrou, era a rota marinha pela qual iriam navegar até que conseguissem chegar a Punta Crux.

Como o mapa era novo e a rota nunca antes trafegada, percebi vários pontos marcados com a frase “Hic Sunt Dracones” e de novo perguntei se o jovem argonauta sabia do que se tratava.

Eu não me surpreendi, pois sei da capacidade e Inteligência dos homens e mulheres do Évira, mas a resposta dele veio rápida e afiada, preparada para uma ocasião como aquela. Ele me respondeu:

“Essa frase vem do latim e significa “Aqui há dragões”, elas são usadas para designar áreas desconhecidas ou perigosas de um mapa, e substituem aquelas serpentes marinhas semelhantes a dragões ou outros animais mitológicos que eram usadas nos mapas antigos. E antes que o senhor me pergunte professor, nem eu nem meus amigos tememos isso, pois o que mais temos visto desde que embarcamos nessa jornada foi essa frase, e temos destruído um por um dos dragões que têm aparecido”.

E assim ele partiu, destemido, rumo às partes perigosas do mapa, e sei que o verei voltar, mas vê-lo partindo em meio às brumas, me fez experimentar algo da sensação que os argonautas do Évira sentiram ao ficarem para trás. Talvez, se todos sentissem o que eu senti, ele não precisasse mais fazer viagens de ida e volta levando esperança, bastaria apenas uma, a definitiva, e em suas mãos não mais um mapa, e sim a portaria Imperial do Resgate do Évira.

 

Questionamento: se para um bom entendedor “meia palavra basta” ou “pingo é letra”, o que me diriam de um texto inteiro? Será que desta forma, alcançaria até os mais inalcançáveis?

Referência: Hic sunt dracones http://pt.wikipedia.org/wiki/Hic_sunt_dracones

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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