Rio Grande do Norte, quinta-feira, 16 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 24 de agosto de 2012

Não vou lutar contra o que eu sinto

postado por Ivenio Hermes

Porque Escrevo Como Escrevo

Sendo Persistente ou Insistente

Não sei quantas vezes ainda abordarei alguns temas relacionados com a segurança pública, não sei quantas vou falar de temas como direitos humanos, cidadania, liberdade de fé, e usarei argumentos novos para defender ou enfatizar assuntos que por aqui já passaram, mas que continuam incomodando não somente a mim, mas muitos outros seres humanos.

Não uma questão de ser um tema repetitivo, porém, uma questão de persistir, de permanecer engajado e firme dentro de seus ideais, sabendo quando recuar e sabendo quando avançar, procurando descobrir quando melhor falar e quando melhor calar.

Conheço muitos que persistiram e conquistaram, e conheço muitos que não, pois acreditaram que a vitória estava garantida antes do tempo e pararam, se acomodaram e perderam.

Existe certa estratégia no ato de persistir, senão ele se transforma num insistir chato, sem conteúdo, que não apresenta nada de novo, até que ninguém mais se interessa pelo que aquela pessoa fala.

Embora na semântica dos dicionários haja uma aproximação entre os significados dessas palavras, (o Priberam, por exemplo, persistir é perseverar, ser firme ou constante, enquanto insistir é instar com porfia, teimar, persistir e perseverar) há certamente uma diferença entre elas que é a estratégia empregada, os meios e a escolha do momento correto.

Tenho observado isso acontecer, sentido isso acontecer, e…

Não vou lutar contra o que eu sinto.

Sendo Majestosamente Humilde

Nasci em berço esplêndido, culturalmente falando, mas nunca fui, não sou, como não é minha meta na vida, provavelmente nunca serei rico. A educação e valores que me ensinaram foram diferentes, e não somente eu como meus irmãos, éramos tidos como se fôssemos por causa disso.

Acho que minha primeira namorada fez essa confusão, pois percebi que ela temia que eu fosse até a casa dos pais dela. Um dia decidi viajar até a cidade onde eles moravam para conhecê-los pessoalmente.

Eu e ela tínhamos apenas 14 anos e estudávamos juntos num internato, mas eu era destemido e fui. Sem ela, pois o internato não permitiria que viajássemos juntos.

Cheguei à casa dos pais dela era sexta-feira quase 13 horas. Noutra ocasião, se for o caso, conto mais detalhes que agora não são oportunos. O que importa é que conheci a família toda e principalmente o temido sogro, que de temível não tinha nada.

Foi um dos melhores fins de semana da minha vida. Na sexta-feira ainda aquele homem, agricultor de mãos calejadas pelo trabalho duro, me convidou para sair e andei de carroça pela cidade, ele me mostrou como conduzia sempre sutilmente relevando minhas limitações de menino de cidade grande. Eu conduzi cheio de orgulho aquela carroça pela cidade.

Dormi numa rede num quarto cheio de bananas, e noutro dia fizemos uma refeição deliciosa e fomos à igreja. Na tarde tranquila em sua casa ele me contou diversos episódios de sua vida e eu ficava pasmo de ver a forma concatenada de ele narrar fatos e destacar pontos de fundo moral relevante. Eu estava diante de um sábio!

Senti que devia estar com ele cada minuto para aprender mais, era uma oportunidade que talvez eu não fosse ter mais de aprender a ser um pouco do que ele era: majestosamente humilde.

Senti isso naquela época como se ainda sentisse hoje, portanto…

Não vou lutar contra o que eu sinto.

Uma Oportunidade Pode Ser Única

Senso de oportunidade é algo que precisamos cultivar, pois algumas chances surgem nas nossas vidas e podem ser únicas. Dizem que a oportunidade é um lindo ser que passa por nós velozmente, se não o seguramos ao se aproximar o perdemos para sempre, pois não possui cabelos atrás da cabeça para podermos segurá-la.

O sogro me ofereceu a chance de passar um dia extenuante colhendo laranjas, e ele fez questão de me explicar como era o serviço, ou ficar em casa e interagir com os cunhadinhos com quem eu já tinha estabelecido afinidade. Vi a carinha triste deles quando optei pelo laranjal, então, fiquei até tarde no sábado a noite brincando e passeando pela cidade com eles para compensá-los, mesmo sabendo do desafio que me aguardava no dia seguinte,

No domingo saí com o sábio de carroça para colhermos as laranjas, e novamente ele cheio de paciência me mostrou como se fazia. E as longas horas de trabalho sob o sol tórrido pareceram curtas. Foram curtas as horas que passamos juntos naquele domingo até o momento de ter que viajar para voltar para o internato.

Fomos de carroça para a rodoviária e ele me deixou conduzir. Na área de embarque ele fez uma oração comigo e na hora de nos despedirmos ele me puxou e me abraçou. O corpo do menino Ivenio de 14 anos sumiu no abraço daquele gigante. Foi quando ele me disse mais palavras inesquecíveis, nunca antes compartilhadas nem com a filha dele.

Ele me falou que gostara de mim e outras coisas incríveis que não direi, pois esse texto ficará tendencioso, mas o melhor foi ele dizer que eu e a filha dele éramos jovens para um relacionamento, porém ele oraria pela menor possibilidade que existisse de dar certo, pois eu seria um ótimo marido para a filha dela por tudo que ele observara de mim.

Eu nunca mais o vi. Alguns anos depois ele faleceu vítima de um acidente enquanto abria uma clareira para o cultivo. A morte não foi instantânea e se deu pela dificuldade de acesso ao socorro. Enquanto era conduzido para o local com socorro mais próximo, ele foi explicando ao filho, (meu primeiro cunhado, amigo e irmão até hoje, quem me narrou os fatos com detalhes), as ações que deveria ser tomadas caso acontecesse o pior.

Uma oportunidade pode ser única, tive certeza disso. Era uma questão de opção e eu queria aprender mais da experiência de vida daquele homem, um verdadeiro sábio do conhecimento prático e da fé.

Senti isso quando ele me deu as opções naquela noite como se sentisse hoje, por isso…

Não vou lutar contra o que eu sinto.

Celebrando Uma Oportunidade Não Desperdiçada

Durante essa semana recebi algumas perguntas sobre os textos da série Évira, a mais recorrente era sobre o motivo de terem sido divididos em três partes, uma mente mais astuta quis entender o que era aquela terceira parte antes da parte final. O interessante é que ninguém teve a curiosidade de saber o que significava a palavra Évira.

Por mais que eu explicasse o motivo da divisão de artigos grandes em séries de artigos menores, alguns se recusam a entender. Vejamos se você entende.

A série Évira, bem como outras que já lancei anteriormente, são baseadas em pesquisas e estudos longos e que geram longos artigos. Para deixa-los mais curtos, ou eu atropelaria certas informações ou publicaria em forma de artigo científico, o que seria ótimo para mim. Infelizmente, esse não é meu objetivo, ou seja, comunicar e levar o conhecimento da segurança pública, direitos humanos, direito, etc para todos e de forma que todos entendam;
 
 
Textos longos cansam (e os meus não são curtos), dividi-los é uma forma de atrair mais pessoas;
 
 
A Série Évira especificamente, havia um objetivo a alcançar que não poderia se conquistado de uma só vez, eu precisava saber quando era melhor falar e quando melhor calar, essas pausas eram essenciais para despertar reações;
 
 
O motivo de Lançar a metáfora “O Resgate do Évira” antes do último artigo foi estratégico. Eu sabia o que escrever, porém, procurando ser majestosamente humilde, segui o conselho de um perito e segurei o texto final. Publiquei esse outro que era tão precioso, pois faz parte de outro projeto, em prol de um benefício maior.

Durante a semana conversei com algumas pessoas sobre meus artigos. Comentaram da série Mapas Potiguares, do “Um Estudo em Vermelho” e da série Évira e da repercussão deles.

O melhor de tudo durante a semana atribulada veio num convite, para eu não ser somente colunista, mas membro do conselho editorial de uma importante revista digital. Foram mais de quatro horas de reunião e tudo ficou acertado. Somente aguardo o momento de ser comunicado oficialmente.

Perguntei se eu poderia postar meus textos sobre reflexão e combate ao preconceito nas páginas da revista e a resposta que tive foi um empolgado “sim”. Senti naquela hora que Deus que colocou no caminho de pessoas honestas para que se faça um trabalho em conjunto maior, gigante, abençoado.

Eu emprestei minha fé para cada coisa que falei aqui.

Sim, eu sinto fé e sabe de uma coisa?

Não vou lutar contra o que eu sinto.

 

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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