Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 7 de outubro de 2012

A farsa da democracia política

postado por Gustavo Barbosa

Imagino a quantidade de cestas básicas que neste domingo foram distribuídas no Felipe Camarão, no Loteamento José Sarney, em Mãe Luiza e em Soledade II. Imagino a quantidade de sacos de cimento, armações de óculos, dentaduras e valores em dinheiro que foram oferecidos em Nova Natal, na Vila de Ponta Negra, no Bom Pastor e na Cidade da Esperança.

A torneira jorra com força total no dia das eleições, é o que dizem. É esse o melhor momento para estocar o coração da república e para tripudiar da democracia, cooptando os infelizes que, desprovidos de dignidade e de oportunidades básicas, não conseguem dar a devida importância ao seu voto.

Serão eles realmente os culpados, ou as vítimas de um ciclo vicioso retroalimentado por corruptores que se reelegem sucessivamente por meio da manutenção da miséria cultural e econômica de milhões de pessoas cruelmente alijadas de seus direitos mais fundamentais?

Impossível não lembrarmos dos ensinamentos do velho barbudo de vermelho (que, é pertinente que se diga, não se trata do papai noel): democracia política sem democracia econômica não passa de uma farsa, de um engodo, de uma enganação. Mas qual o interesse de um sistema político e econômico excludente em garantir que ambas coexistam se, assim, será posto em xeque o funcionamento das suas próprias engrenagens? Qual o interesse em impedir que se continue com o financiamento privado de campanhas se isso, vejam vocês, cometerá o disparate de democratizar o pleito e de garantir maior isonomia entre os candidatos? E o pior: por que a sociedade é doutrinada a demonizar as vítimas da exclusão ao passo que abstém na compreensão de que o problema é sistemático, estrutural e de que o buraco está muito, mas muito mais embaixo?

Nisso tudo, onde entra o papel e a responsabilidade dos meios de comunicação? Será que seguem as diretrizes constitucionais e servem de fato à população, ou estão a serviço de meia dúzia de interesses escusos e particulares? Está mais do que óbvio: tudo gravita em torno do impostergável e sagrado dever de ratificação do status quo¸ de reafirmação da ordem posta, uma ordem que, protegida pelo oligopólio das concessões públicas de rádio e tv e pelo devastador rolo compressor do poder econômico, tira o seu da reta ao responsabilizar o miserável que, debilitado física, cultural e emocionalmente, se submete a aceitar um prato de comida, um saco de britas ou vinte reais em troca do seu voto.

Que o exercício da democracia não se exaura no voto, como somos levados a crer a partir do lamentável discurso midiático da “festa da democracia”. Nos próximos anos, teremos muito trabalho no controle e na fiscalização dos vereadores eleitos e reeleitos, pois não esqueçamos de que é o povo o verdadeiro protagonista de qualquer democracia que se preze.

Gustavo Barbosa

Advogado.

5 Responses

  1. Leon K. Nunes disse:

    Muito vergonhoso esse artigo. A Carta Potiguar precisa baixar a esse nível? O cara vem aqui pra ler uma análise pensada e o sujeito me começa com lugares-comuns do tipo “imagine a quantidade de cestas básicas que blábláblá”… ah, francamente!
    Fuja dessas mesmices, meu caro. Não reproduza uma ilação só porque “é o que dizem”, pois se já dizem isso, ninguém precisa vir aqui pra ler você repetindo. Vá lá, meu caro, não discordo de tudo quer você falou (pelo contrário, concordo em grande parte), mas não posso deixar de criticar certos pontos complicados. No mais, encerro lembrando o seguinte: procure abandonar a impressão preconceituosa de que compra de votos só existe nessas periferias de que você falou, pois a classe média também vende seu voto, a seu modo, é claro… Saudações.

  2. Caro Leon,

    É óbvio que a classe média vende seus votos. – ao seu modo, como você próprio disse. Mas, do modo que aqui expus, é mais convencional que ocorra em áreas carentes ou periféricas.

    Minhas conclusões não dizem respeito apenas “ao que dizem”, mas a uma realidade que, apesar de evidente, tive a oportunidade vivenciar e presenciar particularmente por várias vezes.

    E a “impressão preconceituosa de que a compra de votos só existe na periferia” não é minha, lamento dizer. Até por que, como já disse, concordo que ocorra fora dela, cada qual com seu modo, com sua forma, de acordo com as conveniências sociais e econômicas de cada segmento.

    Um abraço.

    – Gustavo

  3. A propósito, não pude deixar de observar: acho interessante você considerar um artigo “muito vergonhoso” e, na mesma ocasião, dizer que concorda em grande parte com o mesmo.

  4. Marc disse:

    Excelente texto, Gustavo. Sempre inspirado.

  5. Leon K. Nunes disse:

    Gustavo, eu concordo com a crítica ao modelo de democracia que vivemos. Esse é o ponto. O que discordo é da premissa; não precisaria haver sequer compra de votos para que essa democracia já estivesse contaminada. O que mais incomodou foi você escrever à base de ilações, e não à base de uma pesquisa séria, seja sua ou de outrem, “imaginem o quanto de gente está vendendo voto nesse momento”. Sou contra formular conceitos a partir do que dizem ou a partir de experiências particulares. Você deve saber as deturpações que saem desse tipo de análise, que em geral só gera observações próximas ao senso comum, como é senso comum a falácia da venda do voto. No mais, não se sinta ofendido apesar do tom enfático de minha crítica, saudações.

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