Rio Grande do Norte, quinta-feira, 16 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de outubro de 2012

Encontro em Trambioca

postado por Ivenio Hermes

O Amor Não Esquece!

Por Ivenio Hermes

A primeira vez

Mais uma vez ela voltava à sua cidade natal para as férias. Com tantos outros lugares ela ainda preferia estar ali, comer as comidas típicas, observar as mudanças e tentar fixar as memórias do passado.

Com o passar dos tempos ela começou a buscar outros passeios alternativos, pois já não havia mais novidades. Foi quando ela descobriu um passeio numa pequena embarcação, para a Ilha de Trambioca, no Pará.

Leni gostava de aventuras aquáticas e navegar pelos afluentes do Amazonas seria uma experiência boa, o que ela não esperava é que a experiência seria acrescida pelo sentimento que faltava na vida dela, o amor.

Anderson era tripulante da embarcação que realizava o passeio e de alguma forma encantadora se aproximou de Leni. Antes que os dois pudessem se dar conta, as convenções sociais do amor haviam sido subjugadas em nome de uma paixão tão intensa que os desafiava.

E durante todo o passeio eles ficaram juntos, até chegarem de volta à Belém quando se despediram. Leni entregou a ele um papel com o número do telefone e ela disse que o esperaria a ligar.

Foi a primeira vez que estiveram juntos.

Brumas da mente

Leni acreditou naquele amor. Fora uma experiência diferente e tão verdadeira que não podia ser coisa de momento, por isso mesmo ela esperou a ligação de Anderson.

Cada dia que passava as memórias daqueles eventos enevoavam-se e ficavam difíceis de serem alcançadas pela mente da moça. Por mais que ela se esforçasse tudo foi se apagando e três meses depois, não existia mais Anderson e nem o passeio para a Ilha de Trambioca.

Mas como poderia Leni esquecer um amor tão arrebatador em apenas 3 meses? Como seria possível alguém esquecer um sentimento no qual confiara tão plenamente que nem anotara o número do ser amado, pois cria, intimamente que ele logo ligaria…

A explicação vem através de um diagnóstico. Leni sofre de uma doença rara em adultos, uma espécie de epilepsia conhecida como Crise de Ausência ou Pequeno Mal, que é constituída basicamente por três elementos: ausências, abalos musculares e ataques de imobilidade. Entretanto, as crises iniciam e terminam subitamente, com um estado geralmente breve de alteração da consciência.

Embora a crise de ausência seja rara em adultos, ela acorre e seus sintomas são estudados, mas são poucos os avanços nesse campo da neurologia.

Para Leni a doença lhe custou muito caro. Leni tem perda paulatina de memória para eventos recentes, então a lembrança de tudo que ela vive na atualidade aos poucos vai se dissipando nas brumas da mente.

Retorno instintivo

Sabendo que apenas os poetas dizem que se ama com o coração e que na verdade o responsável pelos sentimentos é o cérebro, como se explica o instinto que move dois seres humanos na direção um do outro?

Anderson passara por uma situação inusitada e o pequeno papel com telefone de Leni se perdera. A angústia e o desânimo que se abateram sobre o rapaz eram massacrantes e somente esquecidos pelo excesso de trabalho e buscas pelas redes sociais para encontrar aquela que ele conhecera por um dia.

Um ano havia se passado desde o encontro na Ilha de Trambioca. Anderson não perdia a esperança e mais uma vez saíra para caminhar pelas praças, pois Leni havia dito que gostava de ficar sentada nas praças pensando.

Naquela tarde, as coisas foram diferentes. Anderson caminha já despretensiosamente quando viu aquela figura tão querida sentada como uma menina num banco de praça. Antes que ela pudesse levantar-se e escapar dele, o rapaz se aproximou e abaixando-se diante da garota balbuciando pedidos de desculpas por não ter ligado, falando de amor, das lembranças, da procura por ela, de quanto a amava…

Leni fala dessa ocasião com suas próprias palavras: “nos reencontramos por acaso numa praça e ele veio ao meu encontro todo feliz e eu tive que explicar que havia me esquecido dele devido ao meu problema neurológico”.

O que poderia ser um desestímulo para Anderson, se transformou de fato numa motivação extra para ficar com aquele ser tão querido.

O retorno instintivo de ambos a um mesmo lugar para aquele reencontro foi cheio de carinho e hoje em dia, o rapaz pesquisa sobre a doença da moça, fotografa o cotidiano e eventos especiais e ainda procura gravar tudo para que ela não esqueça…

Os desafios do amor

Anderson e Leni estão felizes apesar de sofrerem alguns preconceitos sobre a relação deles cujo principal é o fato de que há uma diferença de idade de doze anos entre eles, ele é mais novo. Entretanto nas fotografias essa diferença de idade não fique aparente, pois Leni é dessas pessoas especiais que não são atingidas facilmente pelo tempo.

E Anderson também é especial, possui uma maturidade muito além de sua idade e aparentemente até parece ser mais velho.

Leni diz: “Graças a Deus ele cuida de mim, se preocupa…”

E amor é isso mesmo, o cuidado de um com o outro, a ajuda e o companheirismo mútuo, a entrega total em prol da felicidade de ambos. Agora estão casados e a parte de Leni é buscar melhores condições de vida para ambos, que sempre foi o forte dela, e juntos, de mãos dadas, seguem vencendo os desafios do amor.

Comemoração na Praia de Sirituba

O primeiro encontro de Leni e Anderson acontecera na Ilha de Trambioca no Estado do Pará, precisamente na Praia de Sirituba, local que ambos escolheram para comemorarem sua história de amor.

Para o estado de saúde de Leni não se prevê cura, mas para Anderson isso não é problema, ambos seguem se amando e felizes derrubam os preconceitos que acercam os dois. Eles cuidam um do outro, se importam, dão suporte nas deficiências mútuas e somam-se, pois não há como dois seres humanos completos se completarem, eles se somam!

E assim prosseguem construindo seu relacionamento em bases sólidas, não há cargas demais sobre um e de menos sobre o outro, e a felicidade também vai sendo erguida como um processo natural do amor que cuida.

 

NOTA EXPLICATIVA

Apesar de semelhante ao famoso filme, essa história é verdadeira e aconteceu bem perto de mim, relacionado à amizade que tenho pela protagonista, amiga de infância, cujas lembranças guardo com carinho.

REFERÊNCIAS:

MORY, Susana B. et al. EPILEPSIAS GENERALIZADAS IDIOPÁTICAS DIAGNOSTICADAS INCORRETAMENTE COMO EPILEPSIAS PARCIAIS. SciELO. Disponível em: <http://migre.me/b3dbA>. Acesso em: 05 out. 2012.

ACADEMIA BRASILEIRA DE NEUROLOGIA. Epilepsia. Academia Brasileira de Neurologia. Disponível em: <http://migre.me/b3du6>. Acesso em: 05 out. 2012.

SILVEIRA, Paulo Roberto. O que é Pequeno Mal. Disponível em: <http://migre.me/b3dFl>. Acesso em: 05 out. 2012.

SANTIAGO, Claudiane. Trambioca, ilha de encantos. O Cabano Online. Disponível em: <http://migre.me/b3dK1>. Acesso em: 05 out. 2012.

EQUIPE EDITORIAL BIBLIOMED. Crises de Ausência. Bibliomed. Disponível em: <http://migre.me/b3dV3>. Acesso em: 05 out. 2012.

Álbum de Fotos: Ilha de Trambioca/PA: Praia de Sirituba: Uma História de amor! <http://migre.me/b2rcf>

 

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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