Rio Grande do Norte, terça-feira, 30 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de outubro de 2012

Sobre a tentativa de aparelhamento da Carta Potiguar

postado por Daniel Menezes

Fui acusado de ter aparelhado a carta potiguar em prol do PT. Ora, uma das maiores falácias plantadas por aqueles que querem, na verdade, eles sim, aparelhar este veículo de comunicação.

Sempre estabeleci uma relação crítica com o Partido dos Trabalhadores. Fui, inclusive, um dos críticos do modo não-democrático como Fátima Bezerra impôs o nome dela em 2008 e promoveu afastamento irregular de uma professora, através da pressão junto a um departamento da UFRN e depois a própria reitoria. A deputada federal conseguiu ceder a professora para o seu gabinete, que é de atividade partidária, por, praticamente, seis anos. Um professor da UFRN só pode ser afastado para exercer funções no executivo. Não pode ser cedido para desempenhar atividade no gabinete de um deputado, pois configura atividade partidária.

Penso, inclusive, que há dois grupos hoje no Partido dos Trabalhadores – o grupo de Fátima, hoje mais conservador; e o de Mineiro, mas democrático e consagrador das discussões partidárias.

Tanto é que Fátima atuou em 2010 para que Mineiro não se elegesse e seu grupo, que a princípio achei que iria apoiar a candidatura de Mineiro para prefeito, fez corpo mole, pois queria Carlos Eduardo. Conheço pessoas dentro do partido, da mais absoluta confiança, que presenciaram a equipe de Fátima, falando a respeito da necessidade da eleição ser resolvida no “primeiro” turno.

De que forma, estabelecendo uma crítica como essa, posso ser “vedete do PT”, como dizem na UFRN?!

O fato concreto é que apoiei a candidatura de Mineiro, pois entendia que era uma oportunidade democrática nova para a cidade. Sempre vi em Mineiro uma liderança capaz de estabelecer um diálogo com as mais variadas instâncias da sociedade, sem, necessariamente, “querer agradar a todo mundo”. Daí a minha escolha.

Vale também ressaltar que um partido não é uma congregação de santos. É possível estabelecer uma crítica e, ao mesmo tempo, institucionalizar uma interação de simpatia por entender, que ainda é a agremiação com o projeto mais democrático para a cidade, ou mesmo para o país.

A minha aproximação e relação com o PT sempre foi crítico-reflexiva. Tanto é que, mesmo com as críticas listadas  acima em relação a deputada PTista, votei nela em 2008 e 2010.

APARELHAMENTO

Ninguém do PT nunca me ligou ou me pediu apoio, ou da Carta Potiguar. Foi uma aproximação natural da minha parte, não necessariamente dos demais da Carta.

Para mim, a vitória de Mineiro significaria uma das maiores mudanças nos rumos da política do RN desde a redemocratização. Daí toda a minha empolgação.

Porém, fui sondado por diversas vezes para apoiar a candidatura de Robério. Sabendo que a Carta Potiguar é o principal veículo de esquerda da cidade, chateados pelo “não-endosso” e por eu ter declarado voto em Mineiro, a dita frente ampla de esquerda, que não é ampla nem de esquerda, começou a me estigmatizar, tentando desqualificar a minha pessoa, para deslegitimar a minha fala.

Passei a receber ligações e reclamações por emails de pessoas ligadas ao PSOL-PSTU, inclusive, com menções de que “eu iria fazer concurso no final do ano”.

Não conseguindo tirar a minha independência, os ditos cujos começaram a atiçar os membros da carta contra mim. A situação se tornou tão complicada, que cheguei a declarar a minha saída, o que foi comemorado pelos psolistas. Os membros da Carta que permaneceram, chegaram a receber “parabéns” pela minha saída.

Eu nunca fiz uma crítica pessoal contra o candidato Robério Paulino, sempre critiquei sua falta de projeto político e suas falas moralistas. Sempre critiquei a pretensão roberista de se colocar como “moralmente mais honesto e superior”, uma espécie de “escolhido”, com título de doutorado – o que ele sempre fazia questão, nos moldes de uma carteirada, de lembrar -, santificando o seu lado e satanizando os seus oponentes. Para mim, tudo isso nunca foi progressista.

Sempre defendi a institucionalização de uma arena pública de debate pautada pela ética do discurso, que se fundamenta no diálogo, me desculpe a redundância-tautologia, sobre questões públicas. Nunca entrei na vida pessoal de ninguém. Assim o fiz quando critiquei o DISCURSO de Robério.

No entanto, o grupo dele espalhou todo tipo de mentira e absurdo contra mim: que eu recebia dinheiro do PT, que meu carro tinha sido trocado pelo PT e até que eu tinha um “peixe” na UFRN. Tenho uma bolsa de doutorado e o salário de professor substituto, todos adquiridos por concurso público.

Se eu quisesse dinheiro a todo custo, teria apoiado a direita e não a esquerda.

Depois da discussão e de cabeça quente, em que as pessoas falam coisas de que depois se arrependem – falo de mim -, voltei atrás e vi toda a armação.

A Carta Potiguar não é projeto individual e é livre. Não será meia dúzia de pessoas com sonhos totalitários, que vai tirar isso.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

12 Responses

  1. Junior disse:

    Daniel gostaria que você falace dos vereadores eleitos em Natal. Pq tem cada que puts.

  2. Américo disse:

    É nessa hora que nos perguntamos: que esquerda é essa? Tanto a do PT, que, mesmo em um cenário fragilizado como o do RN, não se une em prol do crescimento do partido e dos seus principais nomes; como a do PSOL-PSTU, que se julgam superiores eticamente e pregam um totalitarismo absurdo – ao ponto de sufocar (ou tentar) idéias e divergências contrárias, ainda que progressistas.

    Alie-se a isso uma total falta de compreensão da sociedade moderna e das necessidades da cidade, do Estado e do país. Continuam a pregar um discurso tosco, como se ainda estivessemos a debater a Revolução socialista e o capitalismo, em suas origens. Concordo com você: Robério não tinha discurso e um projeto consistente. Se tivesse, teria amealhado uma votação expressiva, diante de candidaturas absolutamente apáticas como a de Hermano e Carlos Eduardo.

    Mineiro e – surpreendentemente – Rogério Marinho apresentaram o melhor discurso e projetos, no entanto, este último bem sabemos quais são seus compromissos políticos, o que inviabiliza ao campo progressista aderir a sua candidatura.

    No mais, Daniel, continue o belo trabalho e ignore a “crítica” – que na verdade é uma mera perseguição – desses grupos “talibãs”, fundamentalistas que se escoram na direção e militância de partidos, como um fim em si mesmo.

  3. Ramilla Souza disse:

    Sempre acho um equívoco pensar que assuntos políticos são tratados de forma meramente racional. Isso tudo que você descreveu (em relação às ameaças e achincalhes) me parece mais uma disputa de egos e uma priorização dos próprios interesses do que qualquer outra coisa.

  4. Pedro Filgueira disse:

    Achar que Fátima Bezerra não se dedicou para a eleição de Mineiro para prefeito de Natal só pode vir de alguém que não conhece o PT e não viveu a eleição de Mineiro… uma pena esse tipo de avaliação. Ainda mais usar um texto para se defender de acusações acusando outras pessoas, lamentável.

  5. Caio Cesão disse:

    Poderiam mudar o nome da revista para CPP – Carta Potiguar Petista.

    … ou Petralha.

    Ou então poderiam criar uma coluna específica pro Daniel escrever:

    Carta do Mineiro.

    =P

  6. Daniel Menezes disse:

    Ramilla,

    você tem todo o direito de estabelecer esse juízo de valor.

  7. Caio Cesão disse:

    Fico triste que mais uma vez o Daniel Mainardi vem se fazendo de vítima e de homem santo e compreendedor da realidade política potiguar.

    Lamentável.

  8. daniel menezes disse:

    Caio, o q vc tem o direito de atacar meus argumentos….

    apareca la pela cooperativa-ufrn, eu pago o cafe. Sei conversar com quem discordar de mim…

    abs.

    • Caio Cesão disse:

      Daniel, você é um cara inteligente e talentoso, eu sei disso. Muita coisa do que você fala eu concordo, muita coisa do que eu falo é um pouco de “trollagem” e muita coisa eu realmente discordo de você.

      Acho que você levou muito a sério essa “trollagem” que eu falei do “peixe”. Só falei porque você mesmo insinuou seus problemas na UFRN, porque eu nem sei de nada do que aconteceu. Não tenho ABSOLUTAMENTE nenhum contato com PSTU-PSOL, Robério ou Amanda. Eu apenas depositei o meu voto neles porque eu me frustrei com o PT, e muita coisa do PSTU-PSOL eu concordo… como há outras coisas que eu também discordo.

      Sou um eleitor totalmente independente. Eu até gostaria de te provar isso, conversar pessoalmente e você ver que não sou tão chato ou troll quanto pareço. Mas você tem estado tão temperamental que eu realmente tenho medo de te encontrar e você me dar uma surra sustenta. Acho que meio que começamos com o “pé esquerdo”…ueauhaehuaehuaehuae

      Quando você estiver menos estressado, quem sabe a gente troque umas ideias pessoalmente, mas sem que você me espanque.

      Por enquanto, continuarei discordando dos seus posicionamentos com humor, sarcasmo, ironia e um pouco de trollagem, como forma de protesto já que muita coisa do que você escreve não há qualquer possibilidade de ser levada a sério.

      Abraços!

      E não se estresse, por favor!

      =P

  9. Pedro Filgueira disse:

    Quem acusa tem que provar Daniel, pergunte a Mineiro o que ele achou da atuação de Fátima nas eleições, você vai ter a resposta que não darei aqui.

    Sou do “grupo de Fátima” como você fala, que na verdade é uma tendência interna do Partido, e parei três meses da minha vida para eleger Mineiro prefeito.

    Mas a gente imaginava que a culpada pela não eleição de Mineiro seria Fátima, afinal é mais fácil atacar os outros do que perceber a atuação da mesma na eleição. Fernando Lucena que você citou por exemplo teve uma participação minima na campanha de Mineiro, não tem autoridade nenhuma para falar de qualquer filiado.

    Enfim, de qualquer forma, como filiado ao PT, não irei debater aqui pois nossos problemas a gente debate internamente.

  10. Daniel Menezes disse:

    Américo,

    tenho simpatia pela esquerda, mas essas pessoas não entendem que eu não sou militante.
    Por isso que rejeito a denominação de “blogueiro progressista”, que, não raro, é construído, como se a gente tivesse que achincalhar a dita direita e divinizar a esquerda.
    A raiva de muita gente de esquerda para com a minha pessoa, é porque eles querem a minha adesão incondicional e não conseguem.
    Eu era lindo e maravilho até fazer uma crítica a Fátima Bezerra a alguns aspectos, que são públicos e dizem respeito a atuação dela enquanto deputada e membro de um partido.
    Um grupo está chateado com Fátima, pois ela fez corpo mole na eleição, fala referendada por Lucena em entrevista ao jornalista Robson Carvalho.
    O assunto é claro, mas tocar, se a pessoa é filiada ao pt, significa suicídio político.
    Agora, depois da crítica, sou leviano e mau caráter.

  11. Lucila disse:

    Dando uma geral nos artigos, nas meia horas vagas, à procura de análises das eleições. Querido, você é do RN? Você conhece o PT, nacional ou local? Sem querer ser indiscreta, quantos anos tem? Tudo isso, porque quero dar um conselho: não se aperreie, não. É só eleição. O que importa é o projeto de esquerda e, este, foi muito bem representado por quem se comprometeu a faze-lo, sejam os candidatos ou partidos. Mineiro teve saldo positivo, Fátima idem, frente ampla de esquerda tambem e, sim, a população. Velha máxima: entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Por hora, apenas, que política e democracia é moto contínuo.

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