Rio Grande do Norte, segunda-feira, 06 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 6 de dezembro de 2012

O feriado de São Carnatal

postado por David Rêgo

É curioso observar como uma festa que não é frequentada pela maioria da população tem o poder de dificultar a vida da maioria das pessoas na cidade. Todos aqueles que moram nos arredores do trajeto do Carnatal (Campus da UFRN, por exemplo) sofrem com a festa, inclusive os universitários e professores que levam a sério a ideia da educação.  É correto uma festa interferir em dois dias letivos na educação de toda a cidade? A situação piora principalmente sabendo-se que este período é o final de semestre nas faculdades, onde tudo está mais “corrido” que o normal. É a expressão máxima do Carnatal e o Estado lutando contra a educação. Movem-se pela festa, em favor da festa, mas não movem-se para encontrar soluções para auxiliar os que são prejudicados com a mesma.

Não só isso, o ensino médio também sofre as consequências. A “secretaria de educação do RN”, por exemplo, aconselha (leia-se, quase obriga) os colégios públicos a não de realizarem “semanas de prova” para não perderem dias letivos (um dia inteiro de prova não conta como dia letivo). Perder dia letivo devido a aplicação de provas não pode. Mas perder dias letivos devido uma festa… Bem, até o momento não observamos a secretaria de educação criticar o Carnatal devido a dificuldade de mobilidade que ele causa em toda cidade. Em tempos de Carnatal, as aulas precisam acabar mais cedo em nome da festa, já que a cidade estrutura-se para dar condições para a festa (e para dificultar o acesso a educação). Um estudante que sai da aula normalmente as 17:30 e chega em casa as 18:30 ou 19 horas tem sua vida completamente alterada por algo que muitas vezes ele escolheu não fazer parte mas mesmo assim é atingido. Saindo da escola as 17:30, com o engarrafamento “de costume” já se demora para chegar em casa, pior ainda com o engarrafamento gerado pelas vias bloqueadas, desviadas etc. Isto sem contar o turno da noite, que, no geral, as aulas são impedidas de acontecer. Mas enfim, quem mandou marcar aula em dia de Carnatal, né?

A cidade realmente precisa parar para uma festa que não é de todos? Já que a resposta está inclinada para o sim, que a cidade tem que parar mesmo… Bem, deveríamos pensar logo em um projeto de lei para fundar o dia de “São Carnatal” e oficializar a prática de uma vez por todas.

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais, quadrinhos e tecnologia.

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