Uma nova análise
Por Canindé dos Santos¹
No domingo, 02 de dezembro de 2012, o Domingo Espetacular exibiu uma reportagem sobre os comentários que Mário Meireles, produtor do programa da Xuxa, fez pelo twitter, aos episódios do Pica Pau.
O funcionário da rede Globo insultou o público que assiste o desenho, classificando de retardado a esses telespectadores. A Record não deixou por menos, e a revista eletrônica dominical da emissora elaborou um trabalho para retaliar as ofensas. Tudo foi muito tendencioso, pois, apresentou as aventuras do pássaro mais famoso da TV como sinônimo da mais pura inocência. O que na verdade, não é!
As cenas contidas no desenho são violência travestida de bom humor, com o fim de entretenimento. Ou seja, a bagagem violenta foi moldada para se adequar ao princípio do prazer. O procedimento faz alusão ao bullying.
Freud já dizia que a psique contém tendências destrutivas, portanto, se a fantasia – que é o espelho da anatomia humana – estiver carregada de elementos violentos, há uma possibilidade muito grande desse conteúdo ativar predisposições ligadas a desejos devastadores. Entretanto, a psicanalista que foi entrevistada no programa, aparentemente não enxerga esse lado.
Daí pode-se concluir que o lado jornalístico dessa rede televisiva foi comprometida, pois a técnica jornalística deve ser imparcial, mostrando todos os ângulos dos fatos. A emissora só estava pensando em defender os seus interesses de audiência, sem se preocupar com a qualidade da programação.
Mas, apesar de todos esses erros, a atitude de Meireles não foi nada ética, porque se existem distorções no desenho do Pica Pau, a decisão a ser tomada, em relação ao público, deve ser informativa e não agressiva. O agravo dirigido aos telespectadores não faz sentido, já que o que a sociedade precisa é de informação, e não de críticas de baixo nível que atropelam a imagem e a autoestima. Discordo, completamente, da postura desse profissional (que não foi nem um pouco profissional), pois ofender as pessoas não é o caminho. O conteúdo televisivo é que precisa ser mudado, para que o público tenha ao seu dispor uma programação de boa qualidade.
O povo já sofre bastante com o descaso dos políticos com os problemas sociais, a falta de segurança pública, a constante batalha do dia a dia por melhores condições de vida, além de outras aflições cotidianas. E, apesar de tudo, ainda aparecer um cara jogando pedras em quem liga a TV apenas por um pouco de divertimento. É demais. O ser humano precisa se distrair.
O Pica Pau pode não ser indicado para as crianças, como para qualquer outra faixa etária; no entanto, não é assim que se encontra uma resolução. A questão deve passar pelo debate. Não só do desenho, mas como todos os elementos da fantasia que fazem uma referência sutil à violência. Já existem atrocidades demais no mundo real para a ficção absorver isso de uma maneira completamente normal e sadia. Para mim, entretenimento infantil é outra coisa, como o desenho do Pequeno Urso, exibido pela TV Cultura.
¹Canindé dos Santos
Francisco Canindé dos Santos, 38 anos, escritor e sou carteiro na ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos). Formado em Comunicação Social com habilitação em jornalismo pela UFRN. Com dois livros publicados, sendo que o segundo “Há algo errado no Paraíso” comentado aqui nessas páginas.
Desse livro, surgiu a ideia de Ivenio Hermes convidá-lo para paralelizar a influência das programações infantis e os problemas da segurança pública. Seu histórico de vida e de estudos, adequa o escritor para um texto onde compara a influência do mundo da fantasia na segurança pública.
