Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 28 de dezembro de 2012

O que é a solidão?

postado por Daniel Menezes

Trecho extraído do livro “Solidão dos Moribundos”

Nobert Elias,

 

moribundoO espectro do conceito de solidão é bastante amplo. Pode se tratar do seres cujo desejo de amor pelos outros foi precocemente ferido e destruído a tal ponto que eles quase não são mais capazes de dirigi-lo mais tarde aos outros seres sem sentir os golpes que receberam outrora, sem sentir os sofrimentos aos quais este desejo os expôs. Os seres que foram atingidos desta maneira desviam involuntariamente seus sentimentos dos outros seres humanos. Eis uma forma de solidão. Uma outra forma de solidão, mais estreitamente social, aprece quando um ser vive em um lugar ou em uma posição que não lhe permitem encontrar seres do tipo de que ele sente precisar. Neste caso, e em vários outros do mesmo tipo tipo, o conceito de solidão se aplica a alguém que, por uma ou outra razão, foi deixado só. Ele pode viver no meio de outros seres humanos, mas eles não tem significado afetivo para ele.

Mas isto não é tudo. O conceito de solidão se aplica também a seres humanos que vivem no meio de muitos outros, para quem eles próprios não têm significado nenhum, a quem é indiferente que eles existam ou não, que cortaram o último ponto afetivo com eles. Os mendigos, os bebedores de álcool instalados nas entradas dos prédios enquanto os passantes apressados vão e vêm diante deles, devem ser colocados neste grupo. As prisões e as salas de tortura dos ditadores são exemplos desta forma de solidão. Mulheres e crianças, homens jovens e velhos que ali foram empurrados para a morte, impotentes, haviam sido reunidos, na maior parte das vezes, de maneira completamente arbitrária e não se conheciam entre si. Cada um deles, na multidão dos outros seres humanos, estava em uma solidão total.

Este exemplo extremo pode nos lembrar a que ponto a significação dos seres humanos para outros seres humanos é fundamental e insubstituível. Ao mesmo tempo, ele mostra o que quer dizer, para os moribundos, ter que vivenciar este sentimento – sendo que eles ainda estão vivos – de que eles já estão excluídos da comunidade dos vivos pelos próprios vivos.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

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