Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 13 de março de 2013

Sobre a intolerância contra Marcos Feliciano e evangélicos na política

postado por Daniel Menezes

Começa a não “descer redondo” uma certa intolerância às avessas direcionada contra o deputado federal Marcos Feliciano, o pastor de inegável visão homofóbica, preconceituosa em diversos aspectos e que conseguiu chegar a presidência da comissão de direitos humanos e minorias.

Ora, suas falas devem ser repudiadas, criticadas – eu mesmo fiz isso no meu “Face”, como meus alunos dizem por aí. Vale procurar a análise articulada pelo filósofo Renato Janine Ribeiro sobre o assunto, na sua coluna semanal no jornal “O Valor Econômico” -, mas me parece que estão fabricando frases que não foram ditas por ele, numa típica estratégia de campanha negativa, bastante comum em disputas políticas.

A intolerância não termina por aí. Se você abrir sua rede social e observar a “timeline”, não demorará a ler os “bem intencionados” (Weber e Nietzsche morriam de medo dos apóstolos do bem), utilizando expressões do tipo: “evangélico imundo”, “ladrão”, “morra”, etc.

Ora, é assim que se combate preconceito? Fundamentalismo se derrota com fundamentalismo? Com maniqueísmo?

Há, além disso, uma certa confusão de cunho não democrático por trás disso tudo. É legítimo criticar as visões religiosas do Pastor e o modo como o PSC, seu partido, atua nas comissões. Porém, é ilegítimo tentar suprimir o direito de evangélicos participarem da política, até porque eles não são um grupo monolítico, não se resumem a fala de um pastor, que representa um segmento, uma igreja.

Numa democracia, é legal não esquecer, qualquer pessoa pode e deve se envolver. Não apenas aqueles que a gente pensa ser o “superior”, o “portador da verdade”.

Essa história de excelência moral, quer seja pelo ângulo dos evangélicos, quer seja pelo âmbito de seus críticos, só leva a total ausência de reflexividade e o consequente enquadramento simplificador (pejorativo) do oponente com quem a gente estabelece uma disputa de ideias.

Quando o “bem” começa a disputar com o “mal” é bom não seguir nenhum dos lados e desconfiar dos portadores das boas novas, que ambos acreditam carregar.

EM CÉU DE BRIGADEIRO

O pastor Marcos Feliciano, que não é bobo, já aproveita a intolerância gerada contra ele, para se legitimar perante os seus.

Já conseguiu montar, inclusive, um grupo de líderes religiosos, para se contrapor a “perseguição” (a mesma sofrida por cristo, insinuou ele) da qual alega ser vítima.

Suspeito que ele vai sair fortalecido politicamente do ocorrido.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

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