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Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 5 de junho de 2013

Crítica a Marcos do PSOL revela desconhecimento da política por parte de jornalistas e vereadores

postado por Daniel Menezes

Às vezes, impressiona como os observadores profissionais da cena política cometem deslizes primários, mostrando pouco conhecimento no que diz respeito às instituições que cobrem diariamente. Ao ver o rompimento do vice governador Robinson Faria com a base da Rosa, como é chamada pelos bajuladores, uma jornalista local sapecou: “ele vai perder o mandato e quem vai assumir o lugar dele?”, ou seja, ela não sabia que o vice é eleito junto com a governadora. Os recorrentes ataques ao vereador Marcos do Psol são outra expressão disso.

marcosJornalistas e vereadores (Luiz Almir de modo recorrente) tentam deslegitimar a atuação do parlamentar por este, supostamente, ter menor representação pelo fato de só ter recebido cerca de 700 votos diretos em 2012. É o movimento de analisar a força na Câmara Municipal do Natal, como se ela fosse preenchida pela via majoritária, o que não é, nem de longe, o caso (vide o insucesso – bastante questionado pelos ditos formadores de opinião – de Edivan Martins, ex-presidente da Câmara, com os seus mais de 5 mil votos contraídos em 2012 ).

Não é fora de propósito (re) lembrar que a lógica de acesso a “casa do povo” segue o percurso da proporção. Ainda que o eleitor sufrague sua escolha num candidato, os partidos coligados (ou não) somarão todos os votos recebidos e, conforme o coeficiente eleitoral, terão direito a X números de cadeiras. Isto é, a CMN tem 29 assentos e, a grosso modo, os cerca de 450 mil votos dos natalenses serão distribuídos de modo proporcional em relação direta com a representação parlamentar. Em suma, cada vereador “falará” por cerca de 14 mil votantes. Como a coligação PSTU-PSOL obteve mais de 42 mil votos, suas três cadeiras conquistadas nas urnas foram preenchidas pelos três primeiros – já que a lista é aberta e não pré-determinada – da coligação.

Nesse sentido, Marcos do Psol, pela lógica formal do sistema eleitoral rapidamente mostrado acima, não representa 700 eleitores, mas 14 mil, como qualquer outro na Câmara e a sua opção nos projetos-lei ou outras ações vale como a de qualquer vereador. Se ele vai conseguir se eleger novamente com a mesma quantidade de votos ou superior é algo que não cabe discussão agora. Só em 2016.

REFORMA

O grupo que articula a reforma política na câmara federal tenta alterar alguns pontos do sistema. A ideia, primeiro, é acabar com a possibilidade de coligação. Sem a coligação, a noção de representação pode ser fortalecida, já que o eleitor elegerá, necessariamente, alguém do partido que votar. Isso acontecendo, o cidadão ficará mais próximo do candidato-partido e poderá acompanhá-lo mais de perto, pois verá interação objetiva entre a sua escolha e o eleito. Atualmente, dependendo do arranjo entre as agremiações, o eleitor vota em alguém de esquerda e elege outro de direita. Se seu voto se basear na noção de “representação ideológica”, o resultado será diverso do pretendido. Em outras situações, se o cidadão fundamentar sua escolha em um critério de região e votar no candidato do seu bairro (representação geográfica), pode ver sua intenção também se esvair.

Dois exemplos:

01. Votar num candidato do PT (esquerda) e eleger alguém do PMDB (centro-direita), conforme já aconteceu no passado.

02. Escolher alguém de cidade satélite e ajudar a eleger um candidato com atuação específica na zona norte.

Nessas e outras condições, o controle por parte do cidadão se torna mais complicado, às vezes, impossível (custo informacional bastante elevado). Sem a coligação, essa relação tende a melhorar nesse e outros aspectos, que ficarão para um próximo post.

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

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