Rio Grande do Norte, terça-feira, 14 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 27 de junho de 2013

TEM CABIMENTO PELÉ QUERER SER JULINHO DE ADELAIDE OU CHICO BUARQUE?

postado por Marcos Dionisio

Pelé, entrando na onda do revisionismo histórico em curso, falou que não jogara a Copa de 1974 incomodado que estava pelo fato do Brasil viver numa Ditadura.
Eu era menino lá por Santos Reis e acompanhava tudo do futebol pela Placar e pelas rádios locais, onde pontificavam Hélio Câmara, Roberto e Franklin Machado, Rubens Lemos, Cassiano Arruda, Cezar Rizzo, Batista da Fonseca, Souza Silva, José Augusto e Celso Martinelli ( o homem que revolucionou o nosso rádio esportivo) e do Rio de Janeiro, através de um Rádio Motorola que era minha Internet.
images (1)Foi feita toda uma comoção para fazê-lo jogar e ele sabidamente negou-se a voltar à seleção. Argumentava que queria ser lembrado no auge da sua carreira e não como um mais veterano se arrastando em campo e vivendo da fama. Bem informado, diferente de Zagallo e Parreira, acho que sabia também da revolução em curso da Laranja Mecânica e por isso sentou-se em cima dos louros de 1970 e da sua carreira vitoriosa.
Na vida como na área Pelé, sempre foi um grandíssimo oportunista. Se no futebol o adjetivo o credenciou a ser o maior jogador de futebol, na vida os tristes espetáculos e falas que protagonizou, durante e depois da carreira, foram até mesmo afastando o craque dos Brasileiros.
Lembro , inclusive, de uma Placar onde Pelé criticava a URSS por esta recusar-se a disputar a repescagem para a Copa de 74 (Alemanha), contra o Chile por conta, dentre outras razões, pelos episódios dantescos do Estádio Nacional do Chile para onde havia sido marcada a partida e local também, onde o que melhor havia na sociedade chilena padecera torturas e encontrara à morte.
Onde Victor Jara virou mártir da música, do engajamento e da civilização, perecendo com um violão posto, sobre o que restara do seu corpo, por um oficial da DINA.
Sempre ao dizer que não gostava de política, Pelé mostrava de maneira inequívoca de que lado estava. E sorrindo ao lado dos maiorais da época, com aquele sorriso que vendia de pilhas a vitamina C, suas falas e seu comportamento sempre foi no sentido de ajudar na alienação da população. Nunca se preocupou também com a sorte dos companheiros de profissão. Quando Afonsinho esgrimia uma rebeldia possível contra a lei do passe e o obscurantismo da época, ele pianinho pianinho, continuava a enriquecer e a servir a ditadura.
Quando a panela de pressão explodiu e as massas ganharam às ruas em busca das diretas, sua frase mais lembrada pelos idiotas da época era a de que O POVO NÃO SABIA VOTAR que repercutiu tanto quanto a que afirmara de que não havia racismo no Brasil.
Vez por outra , Romário se refere a ele como um grande poeta, calado.
Para tentar reposicionar seu comportamento na época, Pelé diz que a filha de Geisel lhe fez um apelo para que jogasse a Copa de 1974 na Alemanha e que ele recusara descontente com a Ditadura.
Por esta época, a filha do ditador Ernesto Geisel dera uma entrevista dizendo-se fã da música de Chico Buarque. O fato não escapara ao poeta e maior brasileiro vivo, que valendo-se do pseudônimo de Julinho de Adelaide, clivou um verso direto ao ditador de plantão na música Jorge Maravilha: “ Você não gosta de mim / mas sua filha gosta”.
Na onda revisionista em curso, Pelé, atropela sua trajetória e tenta dá um trato na sua imagem dizendo que não atendeu à filha do ditador. Devia permanecer como grande poeta do qual nos fala Romário, calado.
Deve ficar como maior jogador de futebol. E só. O que fez com sua filha a quem recusou reconhecimento até a hora da morte e a quem, oportunisticamente, no velório enviou uma coroa de flores que foi recusada pelos verdadeiros entes querido, nunca o credenciou nem a aproximar-se de um Roberto Carlos ( nesse estrito comportamento de reconhecer seus filhos) quanto mais de Julinho de Adelaide e Chico Buarque. Tem cabimento Pelé querer ser Julinho de Adelaide ou Chico Buarque?

Marcos Dionisio

Marcos Dionísio Medeiros Caldas é Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos (RN) e da Coordenação do Comitê Popular Copa 2014 – Natal.

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