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Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 30 de junho de 2013

Dilma, a pesquisa datafolha e o jogo

postado por Daniel Menezes

Por Edmilson Lopes Jr, Professor de Sociologia da UFRN

Em seu blog: blogdoedmilsonlopes.blogspot.com

 

images (1)Não pouca gente, especialmente no PT, achava que o jogo seria fácil e que a fatura estava liquidada no que se refere às eleições de 2014. Em conversas com amigos, vez ou outra, procurava demovê-los dessas ilusões. Mas quem quer ouvir algo que conspira contra suas certezas?

As pesquisas Datafolha de hoje, sobre a avaliação do governo, e, mais especialmente a de amanhã, sobre a corrida presidencial, caíram como uma bomba no arraial petista. Não vou repetir os números aqui; eles estão em reproduzidos em todos os quadrantes da rede. O que eu queria chamar a atenção é para o seguinte: se antes, não se teve sensibilidade para perceber a dureza do jogo, agora, quando isso fica evidente, não dá para cair no desespero e buscar “saídas mágicas”.

Em primeiro lugar, a queda expressiva de Dilma e a ascensão de Marina (forte), Aécio (menos forte) e Eduardo (menos forte ainda) não podem ser tomados como dados definitivos. Lembrem-se das pesquisas eleitorais de todas as eleições presidenciais de 1994 para cá e vocês terão elementos para tomar cuidado com ascensões e quedas de intenções de votos momentâneas.

Em segundo lugar, Dilma está naquele que é o patamar do eleitorado mais marcadamente petista. Dilma precisará mais do que nunca do PT, essa a mensagem da pesquisa. Por isso mesmo, o resultado das eleições internas do partido passarão a ser acompanhadas com lupa pelo Planalto.

O Governo Dilma, para o bem e para o mal, não construiu uma boa relação com a base petista. Pro bem e pro mal, pois, sei bem, algumas das demandas dessa base não são nem razoáveis e nem politicamente aceitáveis (cerceamento dos meios de comunicação, por exemplo).

Em terceiro, gostem ou não os petistas e seus intelectuais mais descolados, Dilma necessita reconstruir a sua relação com os evangélicos. Ela se deixou levar pela onda criada pela aguerrida militância gay (que, no fundo, não é tão simpática à presidenta e nunca estará satisfeita com as suas ações em prol dos direitos civis dos GLBTs) em torno do Deputado Feliciano. O seu distanciamento não foi tão grande. E a bancada petista ajudou a criar tensões e reproduzir preconceitos.

Quarto, e voltando à pesquisa Datafolha, o PT e a militância petista não têm feito política de verdade sob o governo Dilma. Fizeram, e bem, no Governo Lula. Essa militância, com boa irradiação nos movimentos sociais, foi fundamental para neutralizar os efeitos maléficos do Mensalão sobre o Governo Lula e o próprio processo eleitoral de 2006. Lembremos ainda que a blogosfera petista foi fundamental na desconstrução das proposta de Geraldo Alckmim. Tem até estudos acadêmicos sobre isso. O mesmo, sejamos francos, não ocorrer no Governo Dilma.

Por que não ocorrer? Por várias razões. Muitas delas alicerçadas nas melhores das intenções. Mas, como dizem, de boas intenções o inferno está cheio. E desde que um certo florentino resolveu dar algumas dicas ao seu Príncipe, e isso faz alguns séculos, não dá para analisar (e, talvez, nem fazer) política alicerçado apenas em boas intenções. Mas, voltando à questão, o fato é que essa relação entrou em crise. O estilo de governo Dilma, centralizador e gerencialista, não potencializou o tratamento político de questões candentes como o patinar da economia e a pouca agilidade na entrega de obras públicas estratégicas (na área da infraestrutura).

Resumo da ópera: é cedo, muito cedo, para construir afirmações peremptórias sobre o processo eleitoral. Não estou, longe disso!, minimizando os efeitos corrosivos da antipolítica sobre a disputa que se aproxima. Nem tenho ilusões a respeito de quem é o/a principal beneficiário: Marina Silva.

Os petistas não podem sair de um jogo no qual, de verdade, eles tem atuado com muita pouca vontade. A economia é fundamental? Claro! E eu vou logo fazer um post sobre essa dimensão, digamos, para relembrar antigas crenças, infraestrutural. Mas é no terreno da política, da disputa de valores e elementos culturais, que está se desenhando o embate. Aí, meus caros, quem não joga direito, não planeja cada lance cuidadosamente, quem acredita na genialidade inata do seu futebol-arte, cava a sua própria derrota.

Por isso, não é sem sentido avisar: a pesquisa Datafolha é apenas um momento do jogo e ele ainda não está nem na metade do primeiro tempo. Calma aí, pessoal!

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

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