Rio Grande do Norte, domingo, 19 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 14 de julho de 2013

A InTransparência no Estado Elefante

postado por Ivenio Hermes

Flagmap of Rio Grande do NorteInvestimentos em Segurança Pública no RN (Parte 3)

E mais propaganda

Nesse momento único de levante popular o Governo do Rio Grande do Norte parece querer ficar a parte da culpa que lhe cabe. Os altos índices de violência, os crimes contra as minorias, a insatisfação que se insurge em todos os seguimentos policiais é tão grande que a propaganda alardeada já não é mais o suficiente para esconder o caos em que a segurança do povo mergulhou.

Desde que o atual governo se estabeleceu, os investimentos em propaganda para obscurecer a realidade são maiores do que o investimento proporcional nas matérias que um dia foram pauta para garantir as eleições. Somente para propaganda o Governo gastará nesse ano 40 milhões em detrimento de 7 milhões para Segurança Pública.

A população sem a devida orientação tende a culpar as instituições policiais pela escassa e de pouca qualidade prestação nos serviços de segurança, sem saber que por trás dessa realidade existe a falta de uma política pública de segurança clara, bem orientada, com recursos utilizados através de um planejamento fundamento em estudos.

Tendo em vista que o chefe das polícias no Estado do Rio Grande do Norte é a Governadora Rosalba Ciarlini, de quem seria a culpa pelos problemas de Segurança Pública do Estado?

Nesse artigo abordaremos a realidade por trás da ineficácia das Polícias Civil e Militar do RN em promover a Segurança Pública, além de analisarmos como o Fundo Técnico-científico de Polícia e Fundo Especial de Segurança Pública foram colocados apenas figurativamente no orçamento proposto para 2012, pois quase não foram usados em relação às demandas dos serviços de Segurança Pública.

Angry_ElephantCadeia de eventos

O chefe da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Cidadania do Rio Grande do Norte, Aldair da Rocha e a Governadora Rosalba Ciarlini afirmam que o problema da segurança pública não está na falta de efetivo. De fato esse não é o único problema, e são tantos que enumerá-los é voltar à ser redundante nas informações que já foram divulgadas em estudos publicados por mim e por vários outros analistas de Segurança Pública. Porém, é mister que se destaque que, como numa pequena cadeia de ação e reação, ou ação e consequência, os fatos sempre apontam para a falta de efetivo, consoante com a falta de investimentos, como os verdadeiros evidenciadores do caos no Rio Grande do Norte.

Vejamos como se processa essa reação em cadeia de acordo com a falta efetiva da prestação de serviço de segurança no Estado do RN.

Cadeia de EventosSe alguma situação demanda a presença da Polícia Militar em um local e ela não chega ou demora, a reação popular é de se indignar com a polícia, mas ela não chega ao local porque suas viaturas estão em número inferior à necessidade, seu número de policiais está aquém da necessidade ou ainda, por todos esses motivos, atendendo ocorrências simultâneas ou muito distantes do local.

Se o índice de crimes não baixa, se os crimes, principalmente os de homicídios não é reduzido, a população culpa a Polícia Civil, por não ter conhecimento de que o órgão não dispõe de viaturas próprias para investigação, não possui efetivo e ainda não dispõe do apoio técnico-científico do ITEP que por sua vez, também míngua com a falta de efetivo e equipamento.

Se a população não consegue obter soluções para suas demandas imediatas de registro de ocorrências ou em ações continuadas da Polícia Militar, a culpa recai na própria PM ou na PC, na primeira porque está muito distante de uma das duas delegacias que ficam abertas durante a noite, e na segunda porque já está inserido no imaginário da massa popular que a Polícia Civil não trabalha de noite.

Todos essas situações são decorrentes apenas da falta de políticas públicas de segurança e da falta de objetividade no investimento ou a total falta de investimento do Governo Estadual na segurança pública.

FuntepComo mostrado na tabela anterior, da previsão para o Fundo Técnico-científico de Polícia, para um órgão que é objeto de desgastadas denúncias por falta de equipamento e instalações, apenas 22,49% foi utilizado na compra de equipamento e 47,25% em instalações. Ou seja, de todo orçamento que seria destinado ao investimento em melhorias nas condições de trabalho que resultariam numa melhor prestação de serviços e na diminuição dos índices de crimes sem solução, apenas 27,34% foi usado. Daí surgem as inevitáveis perguntas: onde foram usados os 27,34%? Onde está e por que não foram usados os outros 72,66%?

Elephant VI by ~photogenic-artO Fundo Especial de Segurança Pública também foi mal empregado e em alguns aspectos a falta de “transparência” do Portal da Transparência do Rio Grande do Norte.

Aliás, no quesito “transparência”, o Rio Grande do Norte, segundo a apuração dos Indicadores de Transparência dos Governos dos Estados¹, uma ferramenta desenvolvida pelo Instituto Ethos para medir a disponibilidade dos dados públicos, foi classificado com a nota de 15,74, o pior índice entre os Estados que sediarão a Copa do Mundo de 2014, somente perdendo para o Distrito Federal.

Mesmo com essa dificuldade de apresentar suas informações para o público, a tabela abaixo demonstra como deixaram de ser usados os recursos do Fundo Especial de Segurança Pública.

FunsepO desperdício de 18,84% parece pequeno, mas a tabela mostra que esse valor geral representa um recurso de mais de três milhões de reais (R$ 3.188.989,36) que deixaram de ser empregados, algo inconcebível em um estado onde o homicímetro² registrou 940 homicídios em 2012.

Rupestre_by_cemsoaresMais do mesmo

O Estado Elefante continua minguando sem investimentos e como foi visto, não é por falta de recursos e sim devido à má gestão administrativa e o emprego sem planejamento do dinheiro público. Ontem mesmo, dia 03 de Junho de 2013, a Administração Ciarlini demonstrou que não está preocupada com mudanças nesse sentido, fazendo mais uma nomeação³ irrisória para a Polícia Civil como anunciamos na primeira parte desta série de artigos.

No próximo artigo veremos a prospecção dos índices de homicídios com base nas proporções oriundas dos estudos do cometimento de crimes desde 2010 e veremos algumas reações ao governo da insegurança, pois enquanto a Administração Ciarlini dorme, a população d’ #OElefanteAcordou.

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves.

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SOBRE OS CONSULTORES DESSE ARTIGO:

Fernando Mineiro. Deputado estadual do Rio Grande do Norte envolvido nas questões de segurança pública e outras, cujo gabinete proporcionou a coleta de informações geradoras dos dados inseridos nas tabelas apresentadas.

Marcos Dionísio Medeiros Caldas. Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos (RN) e da Coordenação do Comitê Popular Copa 2014 – Natal.

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REFERÊNCIAS:

¹ MALAVOLTA, Pedro. Transparência nos Estados da Copa é melhor do que nas cidades-sede. Instituto Ethos. Disponível em: < http://db.tt/628AEZWm >. Publicado em: 14 jun. 2013.

² Homícimetro é o nome dado pelo Fotojornalista Cezar Alves para um possível marcador de número de homicídios que funcionaria como um relógio digital, instalado em algum local de grande visibilidade, para alertar a população do descaso com a segurança pública.

³ Portaria de Nomeação disponível em: < http://db.tt/qdNsexdP >.

Artigo escrito por Ivenio Hermes e publicado originalmente em parceria com o amigo e fotojornalista Cezar Alves (Coluna Retratos do Oeste) do Jornal De Fato.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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