Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de agosto de 2013

Os Sete Degraus do Descaso

postado por Ivenio Hermes

A DP de Tangará é um dos muitos exemplos de sucateamento da PCRN

A DP de Tangará é um dos muitos exemplos de sucateamento da PCRN

Emergindo do Poço do Desrespeito

 

A Polícia Civil potiguar chegou ao fundo do poço da humilhação. O Governo do RN parece considerar o trabalho desse órgão irrelevante para a segurança pública do Estado Elefante e se fecha em uma atitude descompromissada com a segurança do povo potiguar.

Considerando que a população do RN precisa conhecer alguns fatos relativos à PCRN, baseado numa carta ao povo potiguar elaborada pela ADEPOL, descrevemos abaixo os 7 degraus de descaso que levam a segurança pública do RN, com ênfase na Polícia Civil, a se tornar uma das mais sucateadas do Brasil.

Faltam policiais civis e apoio pericial para a investigação de crimes, o que ocasiona outros crimes, inclusive homicídios.

Faltam policiais civis e apoio pericial para a investigação de crimes, o que ocasiona outros crimes, inclusive homicídios.

  1. A falta de condições de trabalho nos dias atuais promovidas pelo Governo do RN, principalmente sendo intransigente com os profissionais da polícia judiciária, tornando o que se acreditava ser uma situação circunstancial num caos histórico na Polícia Civil;
  2. O reiterado argumento da lei de responsabilidade fiscal não se mostra factível, especialmente no caso da convocação dos concursados da PCRN, pois, como existe uma decisão judicial que determina essa convocação, existe uma exceção à limitação imposta, conforme o disposto no artigo 19, §1º, inciso IV, da Lei Complementar 101/00 (LRF), que diz:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

§ 1o Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, não serão computadas as despesas:

IV – decorrentes de decisão judicial e da competência de período anterior ao da apuração a que se refere o § 2o do art. 18;

  1. O desrespeito às principais pautas dos policiais civis e que são comuns às três categorias, delegados, agentes e escrivães, são: a nomeação dos concursados e melhoria das condições de trabalho (reforma das delegacias, fornecimento de equipamentos mínimos para o serviço);
  2. A não observância do Governo do Estado ao entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal (desde a ADPF n. 45) e do superior tribunal de justiça de que a segurança pública, na condição de direito fundamental de caráter prestacional, não pode ser preterida em benefício de outros direitos ou interesses valorativamente menos relevantes, como a publicidade governamental ou arquivos públicos estaduais;
  3. O uso incorreto pelo Governo do RN do argumento da reserva do possível, para a não concretização dos direitos fundamentais, que são de aplicabilidade imediata, só pode ser feita mediante comprovação objetiva da impossibilidade de realização, e que tal fato nunca foi feito;
  4. O tratamento em terceiro plano dispensado à polícia civil, que teve como comprovação a destinação do terreno onde se situa a delegacia geral de polícia para a construção de um arquivo morto público estadual, a um custo de 30 milhões de reais (segundo dito pelo secretário de administração), dinheiro este que não se sabe de onde virá, pois segundo o próprio secretário o Estado se encontra falido e, inclusive, realizando cortes nos salários dos Policiais Civis e minorando o orçamento para a polícia civil no ano de 2013 para menos de dois milhões de reais;
  5. A aparente postura de retaliação do Governo do RN contra a Polícia Civil do Rio Grande do Norte, que não interessa a ninguém, especialmente à população potiguar, a qual já vem sofrendo, especialmente nos últimos três anos, com um aumento da violência nunca antes visto na história desse estado, promovendo assim o sucateamento da PCRN, patrocinado em grande parte pelo governo atual, que tem contribuído diretamente com o aumento alarmante da criminalidade, onde criminosos saem impune em face, também, da ausência de uma investigação policial eficiente e que supra todas as necessidades requeridas pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário.
A foto não condiz com a realidade da PCRN onde a arma destinada aos policiais ainda é o revólver calibre .38

A foto não condiz com a realidade da PCRN onde a arma destinada aos policiais ainda é o revólver calibre .38

A sociedade potiguar precisa entender que a falta de uma melhor prestação de serviço por parte da Polícia Civil é culpa do descaso administrativo do Governo do RN, que lançou esse órgão no poço da ignomínia institucional.

A PCRN tem buscado a promoção de um amplo debate, em todo o estado, inicialmente no âmbito das universidades, faculdades e associações representativas da população, visando uma maior aproximação da comunidade com a Polícia Civil, de modo a relatar o que cabe a ela fazer, o que tem feito, quais os problemas encontrados, de modo a conscientizar a população do papel relevantíssimo que ela possui para a concretização do Direito à Segurança, que é uma responsabilidade de todo cidadão, e não apenas das polícias.

Em caso de paralisação das atividades, os policiais afirmam que trabalharão em prol da população de outras formas, especialmente por meio do esclarecimento à parcela mais carente do povo as razões da interrupção temporária do serviço e por qual razão entende ser ela necessária nesse momento.

É certo que a valorização do policial civil por parte do Estado, seja ele delegado, agente ou escrivão, depende, a priori, da valorização que este próprio profissional faz de si mesmo, de modo que não se pode exigir respeito quando não existe respeito próprio.

A Polícia Civil, como a instituição mais afligida pelo Governo do RN nos últimos 3 anos, está sendo sufocada e lentamente asfixiada pela ausência de recursos mínimos para uma prestação eficiente dos serviços, serviços esses que vem sendo realizados, mesmo com todas as dificuldades, pela abnegação e esforço individual de policiais que dão o sangue e carregam a Instituição nas costas.

A população do RN precisa se unir para evitar que a situação de descaso com a Polícia Civil se agrave, e precisa cobrar do Estado do RN uma postura positiva em busca de soluções para que a polícia ainda continue realizando investigações, operações e prisões, emergindo dos sete degraus do descaso em que foi jogada e perfazendo sua parte para a promoção de uma sociedade mais segura.

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Texto escrito por Ivenio Hermes e publicado originalmente em parceria com o amigo e jornalista Cezar Alves (Coluna Retratos do Oeste) do Jornal De Fato.

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública, Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves tendo publicado diversos livros, dentre eles três sobre segurança pública no Rio Grande do Norte. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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