Rio Grande do Norte, sábado, 04 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 13 de agosto de 2013

Passe Livre em Natal: direito ou privilégio?

postado por Daniel Menezes

Todo mundo é a favor do passe livre, sobretudo se a pessoa se diz de esquerda. Ora, quem pode ser contrário?! Eu também queria que a medida fosse implementada. Mas é fundamental dizer de onde o dinheiro vem, até para não criar um favorecimento, ao invés de um benefício.

O PT municipal lançou uma nota bem genérica sobre o assunto. Elencou IPTU, ITIV e ISS – dentre outras verbas secundárias (publicidade de parada de ônibus, etc) – como impostos capazes de subsidiar a passagem aberta. Na verdade, apenas citou contribuições da prefeitura, que já servem para financiar outros serviços. Não se preocupou em investigar o Plano PluriAnual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei do Orçamento Anual, para compreender a destinação das receitas do poder público e saber se, de fato, há a possibilidade de custear a ausência de catracas nos ônibus.

A atitude é temerária, pois que, na verdade, não sobra dinheiro. Falta. Tais impostos servem para pagar o atendimento no posto de saúde, a educação, etc. Tirar esse dinheiro de outras pastas para custear o transporte urbano implica, indiretamente, pegar recursos de serviços universais para pagar uma tarifa, que deve ser bancada pelos empresários contratadores de mão de obra.

Acho improvável que a medida seja levada adiante. Mas, nesses termos, a ação não tem nada de progressista, ou melhor, inclusiva. Só “barateia” o custo global de mão de obra para os empresários, que não mais pagarão pela locomoção de seus funcionários.

Agora, seria preciso fazer estudos mais elaborados sobre a implementação do IPTU progressivo. Criar condições para pagar mais quem tem mais. Quem tem imóvel inutilizado, arca com mais. Desembolsaria mais também quem especula sobre terrenos, algo ainda comum. Há mecanismos no estatuto das cidades. Seria bom qualificar o debate, consultá-los e procurar os meios para sua devida implementação.

E que tal sobretaxar também quem tem carro e melhorar, com a arrecadação, o transporte público, como recomendou o IPEA?! Quem incrementa o custo global das cidades, que agüente.

Ainda assim, os recursos oriundos de tais ações deveriam ser empregados para reformar os postos de saúde, reabrir a unidade do Jiqui, etc; e, quem sabe, melhorar a mobilidade urbana. Mas não bancar um custo, que deve sair do bolso dos produtores, ou de quem apresenta condições financeiras para tanto. Pensar na sua direta destinação para a tarifa zero, sem atentar para, como dizia no passado, a “totalidade concreta”; implica não perceber outras desigualdades tão ou mais urgentes do que a da mobilidade. Que as urgências sejam devidamente equacionadas.

Enfim, é preciso cuidado para não reivindicar um privilégio. Hoje, por exemplo, um estudante de classe média paga meia passagem, enquanto que um pobre tarifa cheia. Hoje, a periferia entra com mais do que quem mora no centro. Isso pode ser considerado um direito, um ataque a desigualdade ou a consagração do status quo?!

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

One Response

  1. Paulo Emílio disse:

    Quando eu estava estudando sobre impostos, descobri que SOMENTE UMA cidade no país utilizava o IPTU progressivo ao tempo. Não lembro o nome da cidade, mas ficava no interior de São Paulo e era uma das poucas cidades que também contavam com o modelo de gestão participativa (também recomendada pelo Estatuto da Cidade).

    O IPTU progressivo ao tempo, em Natal, dificilmente será implantado. Há muita especulação. Aqui, ao lado de casa, tem um terreno baldio enorme (cerca de 3 campos de futebol). O Nordestão queria comprar por 4 milhões há cerca de 5 anos e o dono não quis vender. Tá especulando um terreno há mais de 20 anos (segundo os moradores mais antigo daqui do bairro). Quem é o cara? Um empresário da construção civil daqui de Parnamirim.

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