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Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 10 de setembro de 2013

Evasão do Concurso da PCRN: A Realidade do Policial

postado por Ivenio Hermes

The Death Pol 01Desabafo de um Policial Civil

Por mais atraente que a carreira policial possa ser, não há nada mais destruidor de sonhos que a falta de perspectiva profissional, reconhecimento e condições de trabalho.

Nesse texto, o jovem Policial Civil da PCRN Luiz Eduardo de Góis Fernandes, natural de Natal, com 30 anos de idade, bacharel em direito desde 2007, auto motivado para a segurança pública já tendo inclusive realizado vários cursos no setor, mostra claramente como uma bela carreira pode ser mitigada pela falta de condições. Ao deixar transparecer em suas próprias palavras os norteadores que decidirão sua carreira profissional, o Agente de Polícia Luiz Eduardo alardeia para os cidadãos do Rio Grande do Norte o motivo pelo qual o atual concurso da PCRN tem o altíssimo índice de evasão de 29% para delegados, 25% para agentes, 51% para escrivães.

Ivenio Hermes

The Death Pol 04Carta de Desabafo

É com muito pesar que venho através deste manifestar-me com tamanha insatisfação pela qual passo neste momento. Sou Agente da Polícia Civil 4° classe, mais precisamente deste último concurso (2009), e, antes de ser aprovado no mesmo, estudava diariamente uma média de dez horas por dia. Sempre tive um sonho de ser investigador da polícia, seja ela federal ou civil. Depois de tanto esforço, eis que abre o edital do concurso da polícia civil do RN, momento em que intensifiquei os meus estudos pois já estava na reta final. Como consequência, veio a minha aprovação, numa excelente colocação, o que me garantiu a nomeação em 31/12/2011. Tomei posse no dia 27 de Janeiro de 2012, e, desde então sempre fui um policial esforçado, honesto e dedicado, procurando sempre me aperfeiçoar através de cursos, etc. Entretanto não há como negar a decepção que senti logo após tomar posse, haja vista que sequer tive direito a armamento, nem tampouco colete balístico para minha proteção.

Participei da minha primeira operação, denominada “Cristal”, operação esta de grande porte, inclusive com o apoio do Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil da PB com apenas 09 dias na instituição. Para não ir desarmado, peguei um revólver emprestado com o meu pai, e fui cumprir meu ofício, mesmo sem colete balístico. Graças a Deus tudo ocorreu bem, e voltei ileso para minha residência.

Acontece que até hoje, pouco, ou simplesmente nada a Polícia Civil do RN fez pelos agentes e escrivães. Os que possuem armas da instituição, são revólveres, armas antigas e já em desuso. Os que têm pistola, assim como eu, tiveram que comprar do próprio bolso, assim como as munições, as algemas e etc.

Como se já não bastasse a falta de estrutura gigantesca pela qual passa a Polícia Civil do RN, não posso me furtar a falar do medíocre e incoerente salário que recebemos. Somos uma categoria de nível superior, onde todos os que aqui estão são em sua grande maioria advogados, engenheiros, dentistas, muitos até com mestrado. Esse alto nível dos concursados, aliado à desvalorização e desmotivação salarial tem feito com que ocorra uma espécie de avalanche de pedidos de exoneração.

The Death Pol 03Fiz parte da primeira turma de agentes, durante o curso de formação em 2010, e, na minha sala havia uma média de 50 alunos. Destes, se muito houver, hoje, na instituição têm-se apenas uns 20. A grande maioria migrou para a PRF (Polícia Rodoviária Federal), TRF (Tribunal Regional Federal), Tribunais Estaduais e alguns passaram para Delegado da Polícia Federal. Vai ser muito difícil a Polícia Civil do RN “segurar” estes novos concursados pagando uma remuneração inicial, pasmem, inferior a de uma categoria de nível médio do próprio Estado, como é o caso dos agentes penitenciários, que, hoje recebem mais de três mil reais, enquanto nós policiais civis, continuamos recebendo pouco mais de dois mil e quinhentos reais.

O concurso para oficial da PM se exige apenas o nível médio e, só após estes oficiais, concluírem o CFO (Curso de Formação de Oficiais) é que serão equiparados à nível superior, fazendo jus a partir de então, a uma remuneração inicial de R$6.050,00 (Seis mil e cinquenta reais). Pergunto: Por que é que nós policiais civis, que, no momento da realização do concurso, já nos é exigido o nível de escolaridade superior, temos que aceitar receber uma remuneração inferior a de um oficial da PM em início de carreira? A realidade é que, hoje, nós somos uma polícia de nível superior, recebendo salário de nível fundamental, pois os agentes penitenciários que são de nível médio ganham mais do que nós, e, os policiais militares, que são equiparados a nível superior recebem quase três vezes mais que o Agente e o Escrivão da Polícia Civil.

Para finalizar espero que o governo do Estado acorde e estabeleça uma negociação com os Policiais Civis, assim como fez o governo do Piauí, em recente negociação com os policiais civis daquele Estado, que, tem a pior renda per capita do Brasil, mas, que soube valorizar os referidos profissionais da segurança pública, pondo fim àquela greve.

Se não houver melhorias, tanto estruturais quanto salariais, infelizmente serei mais um a fazer parte da estatística de abandono deste concurso.

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SOBRE OS AUTORES:

Luiz Eduardo de Góis Fernandes, brasileiro, natalense, 30 anos de idade, solteiro, bacharel em direito, com realizados na área de segurança pública como Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial, Gerenciamento de Crises; Curso De Técnicas Policiais, Identificação de Armas de Fogo e Identificação Veicular.

Ivenio Hermes (Autor da introdução) é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró, Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar, Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Cezar Alves, Fotojornalista (Coluna Retratos do Oeste) do Jornal De Fato.

 

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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