Rio Grande do Norte, segunda-feira, 20 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 10 de novembro de 2013

A Falta da Promoção da Paz e a Deflagrada Guerra Civil Potiguar

postado por Ivenio Hermes

Quando promessas descumpridas e adiadas podem provocar as mortes de inocentes e o luto nas famílias desmembradas

Por Ivenio Hermes

Acho que a insensibilidade chegou a níveis quase intoleráveis para as pessoas que detém em suas mãos a capacidade de intervir na guerra potiguar. A violência urbana causa o desmembramento de família e as atinge com uma dor para a qual não existe analgésico, e se existisse, provavelmente elas não teriam acesso a esse remédio.

Leo Fernandes é socorrido mas não resiste aos graves ferimentos. Foto: O Câmera

Leo Fernandes é socorrido mas não resiste aos graves ferimentos.
Foto: O Câmera

(Publicado originalmente no Jornal De Fato, Coluna Retratos do Oeste, em parceria com o fotojornalista Cezar Alves)

Outro jovem tombou morto em Mossoró vítima de criminosos que não foram identificados e talvez mais vítima ainda da incapacidade do Estado do RN de promover uma segurança pública que atenda as demandas mínimas.

E você acredita ou não? E então, o que você faz pela paz? O que você faz pela paz? O que você faz pela paz? (“Pela Paz” música dos Titãs)

E a sociedade potiguar continua esperando por promessas feitas nos palanques de comícios políticos que logo voltarão à moda e se repetirão em 2014. Apesar de inconformados com a situação de acelerada violência, vendo gestores públicos prometerem mundos e fundos e não cumprirem, ou postergando sucessivamente o cumprimento das promessas, muitos ainda se mostram crédulos no milagre de última hora que acontecerá no Rio Grande do Norte.

A delegacia de homicídios, a contratação dos concursados da Polícia Civil, a reestruturação da inteligência policial, a recuperação do ITEP, o reforço na Polícia Militar, o investimento em ações preventivas de combate ao crime imediato, o policiamento ostensivo preventivo… Enfim, promessas que nem na COPA 2014 serão cumpridas, a não ser com a vinda da Força Nacional e com o reforço das Polícias Federais.

Durante a COPA, uma então falsa sensação de segurança se estabelecerá, não para os moradores e sim, e apenas, para os turistas que precisam ser envolvidos por um bolsão protetor que evite que eles sejam também vítimas dos dois anos e dez meses da falta de investimentos concretos em segurança pública. Ouso ainda dizer que não é a valorização das vidas que será levada em consideração durante o período em que durarem os jogos, e sim a tentativa de evitar escândalos de proporções internacionais e manter os futuros candidatos com uma reputação mínima que ainda lhes garantam a eleição ou reeleição.

Os responsáveis pelo estabelecimento da guerra civil potiguar continuarão com seus sorrisos e desculpas, mas a perda das vidas não são desculpáveis.

Crianças inocentes vítimas da guerra civil potiguar. Foto: O Câmera

Crianças inocentes vítimas da guerra civil potiguar.
Foto: O Câmera

Mossoró vem sendo palco de vítimas ocasionais e furtuitas, apanhadas no fogo cruzado entre policiais e bandidos ou durante atentados cujos alvos estão próximos delas. Dentre elas crianças inocentes cujas famílias, como a de Deyse Kelly Félix da Silva, de 2 anos, e a de Ângela Maria de 12 anos de idade, mencionadas no artigo A Ascensão da Guerra Urbana que foram assassinadas nesse tirinete de balas, ficarão aguardando pela promoção da justiça prometida e que vem sendo descumprida ou postergada.

“Você espera sempre mais, você não se conforma, você não se satisfaz, todo mundo diz acreditar na paz.” (“Pela Paz” música dos Titãs)

Aqueles que deixaram de fazer ou somente agora tomam medidas paliativas quando poderiam ter evitado o atual caos, são responsáveis pelo sofrimento das famílias de Deyse, Ângela e do menino Leo Fernandes de 2 anos, que foi ferido gravemente por disparo de uma espingarda calibre .12 na cabeça e faleceu algumas horas depois no hospital, no mesmo atentado que matou o jovem de 19 anos citado anteriormente.

Somente quem pode pregar a paz é quem não promove a guerra e a injustiça, seja por ação ou omissão. As palavras precisam da ação para se tornarem exemplos a serem seguidos.

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REFERÊNCIAS:

Titãs. Pela Paz. Música e letra disponível em < http://letras.mus.br/titas/48991/ >

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SOBRE O AUTOR:

Ivenio Hermes é Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Conselheiro Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Ivenio Hermes

Escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Integrante do Conselho Editorial e Colunista da Carta Potiguar. Colaborador e Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial. Facebook | Twitter | E-mail: falecom@iveniohermes.com | Mais textos deste autor

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