Rio Grande do Norte, quarta-feira, 01 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 30 de outubro de 2019

Junho de 2013 e o antro de Trofônio

postado por Túlio Madson

Diziam os antigos daqueles que cultivam um semblante taciturno que haviam entrado no antro de Trofônio. Tratava-se de uma caverna lateral presente no Oráculo de Delfos, uma passagem estreita, cuja entrada dependia da aceitação de um sacerdote e da coragem do iniciado. Após beber a água de duas fontes, uma representando o esquecimento e a outra a lembrança, o iniciado era levado para o fundo de uma gruta, de onde era retirado de cabeça para baixo. Todos que passavam por essa experiência e vislumbravam os conhecimentos advindos das visões daí resultantes adquiriam um ar melancólico e descrente. Após visitar Trofônio e ser içado da gruta o iniciado era posto no Trono da Memória, onde devia narrar as visões e conhecimentos adquiridos, para em seguida ser levado a um quarto, onde encontraria Boa Sorte e Bom Gênio, para aí então poder recuperar a capacidade de sorrir. Na tradição psicanalista o antro de Trofônio vira uma metáfora para o inconsciente e a tendência de mudar uma realidade passada para nos eximir de alguma culpa. Nestes casos só a memória cura.

Em 2013 entramos no antro de Trofônio, naquela gruta nos deparamos com um passado mal resolvido, que nos impedia de alcançar nossas projeções. Não haverá futuro quando não nos livrarmos do passado. O passado que sufocou as aspirações de 2013 ainda nos atormenta. Enquanto não sentarmos no Trono da Memória e superarmos nosso passado autoritário e patrimonialista, enquanto o mesmo passado ressurgir como farsa, jamais encontraremos a Boa Sorte e o Bom Gênio. Jamais voltaremos a sorrir.

Túlio Madson

Colunista na Carta Potiguar desde 2011. Professor e doutorando em Ética e Filosofia Política pela mesma instituição. Péssimo em autodescrições. Email: tuliomadson@hotmail.com

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