Rio Grande do Norte, domingo, 12 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 8 de junho de 2021

Em tempos de pandemia, até um [hiper]link é expressão de afeto

postado por Joao Paulo Rodrigues

Já tem um tempo que gostaria de escrever sobre os sinais de pontuação nas conversas em site e/ou apps de mensagens e envio de links como interações socais. Porém, nunca tinha tempo suficiente para estudar e pensar sobre esse fenômeno.  Só agora pude ler um pequeno livro sobre o tema. Aliás, permita-me recomendar a leitura do texto “Pontuação na internet”, de Viviane Vomeiro.

Entretanto, não foi o encontro com esse livro que me impulsionou a escrever sobre a temática agora. Na verdade, fiquei mais instigado ainda para escrever sobre esse tema após uma conversar com um amigo, por um app de mensagens. Pedi-lhe um favor. Ele prontamente me atendeu. Em gratidão ao seu ato, e com toda sinceridade e amor do mundo, enviei-lhe um link de um site que poderia lhe ser útil.

A partir daquele momento, pensei que já era chegado a hora de tratar da questão. Digo, a questão dos sinais de pontuação, sem exagero algum, assim como a vírgula em especial, é muito importante. Através dela se pode acabar com casamentos, atar romances, fechar negócios, perder e fazer amizades. Porém, isso você já sabe, já deve ter pensado isso e percebido seus efeitos na própria pele.

Todavia, o que não se dito por aí é que os hiperlinks se tornaram meios pelos quais se destinam afetos. Para além de nos conectar em uma sociedade em redes, como bem dizem Castells e Lévy, os [hiper]links se tornaram ferramentas inerentes às relações cibernéticas. Por exemplo, ao querer iniciar um flerte, não raramente, apesar de não ser a regra, enviamos links de músicas, gifs, e/ou filmes para a pessoa de nosso interesse. Essa interação serve como um termômetro de afinidade. Pois, se a pessoa, do outro lado, comentar o link e enviar outro, é sinal – ao menos na imaginação – de que ao menos aceita flertar, apesar de que isso não significa que tudo levará a um casamento.

Com apenas o envio de um link eu entrego bênção ou maldição para o emissário. Lembro-me das vezes que amei, odiei, tive afeto, senti emoção, afetei e amei, por conta de apenas um [hiper]link. Digo, não só as pontuações, que sendo mal colocadas podem criar confissões desnecessárias, mas os links também são elementos de comunicação imprescindíveis na cultura cibernética.

Veja, se isso já vinha ocorrendo há pelo menos 10 anos, sendo intensificado nos últimos 5 anos, o que dizer agora em tempo de pandemia! As pessoas ficam em casa, nada têm senão um rodízio internético que as limita – elas se limitam! – a usar o Google, claro, o Twitter, o Zap, o Facebook, o Instagram e a Netflix. Por óbvio que eu me refiro a sites voltados, de modo geral, para entretenimento. E, sim, os sites e apps de mensagens se tornaram a Canaã do entretenimento. Conversar, digo, falar/digitar se tornou um passatempo.

Eu, particularmente, não vejo as transformações sociais como algo negativo ou positivo em si. Elas apenas são o que são. Como diz o querido Montenegro, “as coisas se transformam e isso não é bom, nem mal”. Na verdade, além de não ver como algo negativo e não me incomodar, eu faço até um apelo: expressem-se! Porquanto, estamos vendo, em tempos de pandemia, até um link é expressão de afeto.

Joao Paulo Rodrigues

Graduado, especialista, mestre e doutorando em Filosofia (UFRN). Especializando em Literatura e Ensino (IFRN) e curioso pela ciência da grafodocumentoscopia.

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