Rio Grande do Norte, sexta-feira, 03 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 30 de julho de 2021

[N]O Silêncio de Deus: nós que aqui estamos, por tua voz esperamos

postado por Joao Paulo Rodrigues

Louvado seja o Senhor dos Mares, da Terra e do Ar. Tua grandeza, ó Deus, se estende por todas as frestas do mundo. Deus único e misericordioso, sempre seja louvado. Tu, o Senhor que é o bálsamo da salvação, somente Tua Glória consegue quebrar nossas cadeias da carne, que embriagam o espírito.

Por que, ó, Pai, por que sofremos tanto? Seria eu digno de sentir as provações de teu fiel servo Jó? Jamais proferiria tamanha blasfêmia, Altíssimo! Não há estultícia maior que este pequeno mencionar Jeremias e Isaías ou mesmo pai Abraão. As palavras são poderosas. Todos que têm sabedoria sabem que houve muitos homens santos que não somos dignos de pisar no mesmo chão que eles.

Sou eu maior que um grão de areia, Senhor? Jamais! Poderia eu com a Tua força, glória e poder? Jamais, Senhor. Se me dirijo a Ti em lamento e adoração, Senhor, é porque te tenho como meu Salvado Eterno!

Não te peço sabedoria, nem te peço ouro, não te peço milagres, nem dons. A única coisa que te peço, Príncipe da Paz, é tua voz. Sim, Espírito do Senhor, eu peço tua voz. Necessito ouvir a Tua voz para entender… entender o que fizemos nós contra tua Glória; entender quais pecados cometemos contra Ti. Que os erros que cometemos, tais quais os filhos de Sodoma e Gomorra, possam ser perdoados; que o sacrifício malogrado não te seja como o crime de Caim.

Nos deixar nas mãos desse presidente é o mesmo que nos lançar em um lago de fogo… Meus dantes ranges e meu corpo se incendeia!

Grandíssimo Deus, fala comigo, eu te imploro. Diz a esse teu pequenino servo o que fizemos contra Teu Véu. Sei que estamos distantes de Ti. Como nossos pais, insistimos em reclamar e blasfemar, porém, diferentes deles, não temos mais profetas que nos instrua nos Teus caminhos.

Após os quatrocentos anos de silêncio, definhamos há 2021 anos sem ouvir tua voz. O Senhor mandou Cristo, teu Filho Amado, mas nós o matamos. Como cordeiro o furamos, como ímpios bebemos seu sangue, como loucos o comemos – hoje se comunga a hóstia. Mas, tu, ó Deus de Misericórdia, tu sempre fosse nosso socorro e nossa paz, nossa Graça e nossa vida.

Sei que o Senhor nos perdoou, porém, sei também que te magoamos. Se não fosse assim, teríamos ouvido a Tua voz. Dias e noites me pergunto se eu não a escuto porque sou pecador. Mas me lembro que não há um profeta sequer, não há trezentos nem perto, nem longe.

Fala comigo, Deus. Diz ao teu menor servo os motivos pelos quais Tua presença se afastou de nós. Eu cá estou, esperando tua voz.

Dos tempos de chumbo, experimentamos a ressaca, Senhor. Me pergunto se tu se calou por que estamos submergidos pelos pecados do passado e do presente. De geração em geração nossa nação praticou o mau, Senhor. Essa terra tem sangue inocente em seu manto. Todo tipo de inferno morou – e mora. Será por isso, Estrela de Luz, que tu se esqueceu de nós?

Pai, perdoa minha fraqueza. Perdoa minha petulância. Sei que tua aliança não se quebra… mas, onde estás Senhor…? Meu espírito se quebranta diante de Ti. Minha espinha se contorce… falo com temor, mas sem medo, falo com amor e apelo para Tua benevolência.

Foi a escravização dos povos dos originários e da África, foi a violência, a chacina e a crueldade contra os mais humildes e simples, foi a tentativa de exterminar os povos escravizados no passado, foi a tentativa de embranquecer a nação, foi o surgimento nacional como fruto de um estupro….? O quê, o que fizemos, ó Deus, que tanto te aborreceu?

O fel do vinagre eu também experimento.

Estás a nos castigar e não nos demos conta? Os fariseus e saduceus brasileiros insistem em fingir Tua unção. São a escória da fé. Que Silas Malafaia, Malta, Soares, Valdomiro e Feliciano se encontrem diante de Ti no dia do julgamento com a vergonha escancarada, que eles paguem por seus crimes – têm mãos sujas de sangues, porque sanguinolentos são!

Mas nós, Senhor, o que fizemos nós?

Glória ao Deus nas Alturas!

Os falsos profetas que se levantaram, quase todos caíram. Porém, alguns ainda resistem, como se fossem provações, como se fossem provocações.

Seguidos apocalipses nos acometeram. Quando pensávamos que a paz se aproximava, depois de trinta anos infernais, o flagelo nos alcançou.

Dos representantes do povo, o pior se levantou. Nenhum governante é bom, Senhor, todavia, poucos odiaram ou odeiam tanto seu povo quanto o atual líder da nação. Como posso eu, Senhor, aceitar essa blasfêmia? Teu servo sabe que és o Senhor da Vida e que a morte foge de Tua presença.

Como chegamos ao nosso estado atual, Senhor? Fala comigo, Deus… Te suplico… Fala comigo….

O que fizemos nós? De minha boca só sai amargo, porque meu coração está em pranto. Senhor, sobre os erros de nossos pais, eu sempre li, contudo, jamais imaginei que eu padeceria seus os erros – o que foi que eu fiz, Altíssimo?

Tua voz ausente… A nação resolveu se castigar, ó, Pai. Sim, parece que resolveram expiar os pecados se colocando como sacrifício. Mas o que fizemos nós, vítimas dos ímpios que fingem te servir?

Há falsos profetas e falsos servos. Queima-os, Senhor. O que digo eu, sei que Teu Sol cobre a todos: santos e ímpios. Dos homens, esse teu servo é o mais indigno… O que fiz eu, Senhor?

 Nós que aqui estamos, por Tua voz esperamos. Teu silêncio é Tua fala.

Põe as palavras certas na boca desse servo. Me ajuda a não blasfemar contra Ti. Diante de Ti, nada sou.

Nos restitui, Amado meu. A nação está por um fio, Amante de minh’alma. Não sei se aprenderemos, nem sei por que  somos castigados, sei apenas que merecemos.

Néscios e santos, todos estão sob o mesmo governante. As maldades desse cruel o diabifica. Não, Senhor, a perfídia deste não faz nenhum outro governante santo. Jamais direi que algum desses se comparam ao santo Enoque. Entretanto, este que aí está, certamente, corporifica o mau.

Senhor, ajuda-nos a superar esse mau encarnado, que a tudo apodrece, que a todos esmorece.

Continuarei a me prostrar diante de Ti, enquanto me for permitido. A nação está doente, quase jaz morta. Mas não posso desistir de tentar, de acreditar na superação do mau.

Tu estás comigo, assim como estivesse com Davi, assim creio, Santíssimo.

Que possamos ver em que erramos, para que voltemos para Tua Glória.

Choro sempre que o Senhor não me responde, contudo, sei que lá do alto Olhas para mim.

Que paguemos pelos nossos erros, que o consertemos em seguida – através de todos os meios possíveis!

Não lamento por resignação, mas sim por catarse. O Diabo e seus filhos não venceram Miguel, o que dizer ao Senhor e seus filhos.

Agradeço por não me consumir, Fogo Consumidor. Teu amor é eterno, como eterna é tua Glória.

Amém.

Joao Paulo Rodrigues

Graduado, especialista, mestre e doutorando em Filosofia (UFRN). Especializando em Literatura e Ensino (IFRN) e curioso pela ciência da grafodocumentoscopia.

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