Rio Grande do Norte, segunda-feira, 20 de maio de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 9 de maio de 2024

A crise das três décadas

Giovanna Mantuano é mestre em ensino, educadora e socióloga.

“Aos trinta você começa a ficar velha”, disse ela colocando mais duas colheres de açúcar no café. Ela e sua mania feia de adoçar tudo além da conta. Apressadamente, pergunto-lhes o porquê, “quer dizer que semana passada, aos 29, eu era jovem, e como num passe de mágica, hoje, começo a ficar velha? Isso para mim não faz o menor sentido”. Ela continua sustentando a tese inicial — a gente começa a não querer mais mudar o mundo, minha filha, tudo começa por aí.

O texto era para te ajudar a não entrar na crise das três décadas, mas parece que os 30 é a própria crise. Do mais completo nada ficamos mais angustiadas, meio malucas e eminentemente confusas quanto às próprias escolhas e certezas. “Não entre em parafuso, querida, mas daqui para a frente é isso” solta essa e um sorrisinho no canto da boca.

“Aos 29 anos, me sentindo na sala da espera da morte, fiz um pacto com Deus: ‘se voltar no tempo, juro que vou me comportar melhor’. Como ele não cumpriu o trato, a partir dos trinta eu me vinguei”. Rita Lee — cantora e compositora.

No fundo, no fundo, elas têm razão. Rita e minha mãe.

A ressaca social começa um pouco antes e a “vingança”, a que Rita Lee se refere, vem depois. Por volta dos 27, 28, você começa a filtrar as amizades, se questiona se é hora do Botox, faz listinha antes de ir ao mercado, listinha para tudo, na verdade. Lê horóscopo (nossa religião), desiste dos aplicativos de paquera e fica mais seletiva, já não dropa mais LSD, tem “sonhos adolescentes, mas costas doem” e você já não quer mais papo com revolução, aceita médio resignada o fardo cotidiano e se contenta em pagar boletos, cervejas e fármacos.

Até que não estamos tão mal assim, suponho. De acordo com meus cálculos, não estamos ficando velhas, a gente “só” não acompanha mais a geração da Internet. O que é bem… estranho! Talvez não, se você considerar mais estranho ainda dançar para o vento e fumar num pendrive.

– Tudo isso é uma grande bobagem. Aos 30, minha balzaquiana, a jornada está apenas começando. Aproveite! Porque passa.

(Texto inspirado no livro “Enfim, 30” – Jana Rosa e Ca Fremder).

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