Rio Grande do Norte, sexta-feira, 26 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 23 de março de 2012

A pedido do DEM, PSOL protege Demostenes

postado por Daniel Menezes

Purismo ético nunca foi nem será projeto político. Ainda que seja importante como ponto de partida, a centralização discursiva apenas numa suposta superioridade moral tende a ocultar a falta de concepções mais substanciosas. Ou a secundarizar perspectivas, que para um moralismo que desconsidera o jogo da política, seriam condenáveis.

O PSOL, que se auto proclama o partido da ética, fecha acordos no âmbito nacional e local com o DEM. Vide a última eleição para reitor da UFRN em que o PSOL aliou o seu discurso com a chapa apoiada pelo DEM.

O negócio é mais complexo.

Veja o exemplo abaixo.

Do Panorama Político, O Globo

Atendendo a um apelo do presidente do DEM, José Agripino (RN), os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) não acionaram o Conselho de Ética no caso do líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO).

 

Enquanto isso…

 

O Globo

PF: Demóstenes Torres pediu dinheiro a Carlinhos Cachoeira

Gravações revelam que senador do DEM solicitou ajuda para despesa de táxi-aéreo

BRASÍLIA – Gravações da Polícia Federal revelam que o senador Demóstenes Torres (GO), líder do DEM no Senado, pediu dinheiro e vazou informações de reuniões oficiais a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar a exploração ilegal de jogos em Goiás. Relatório com as gravações e outros graves indícios foi enviado à Procuradoria Geral da República em 2009, mas o chefe da instituição, Roberto Gurgel, não tomou qualquer providência para esclarecer o caso. O documento aponta ainda ligações comprometedoras entre os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO) com Cachoeira.

O relatório, produzido três anos antes da deflagração da Operação Monte Carlo, escancara os vínculos entre Demóstenes e Cachoeira. Numa das gravações, feitas com autorização judicial, Demóstenes pede para Cachoeira “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”. Em outro trecho do relatório, elaborado com base nas gravações, os investigadores informam que o senador fez “confidências” a Cachoeira sobre reuniões reservadas que teve no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Parlamentar influente, Demóstenes costuma participar de importantes discussões, sobretudo aquelas relacionadas a assuntos de segurança pública.

O relatório revela ainda que desde 2009 Demóstenes usava um rádio Nextel (tipo de telefone) “habilitado nos Estados Unidos” para manter conversas secretas com Cachoeira. Segundo a polícia, os contatos entre os dois eram “frequentes”. A informação reapareceu nas investigações da Monte Carlo. Para autoridades que acompanham o caso de perto, esse é mais um indicativo de que as relações do senador com Cachoeira foram mantidas, mesmo depois da primeira investigação criminal sobre o assunto. O documento expõe também a proximidade entre Cachoeira e os deputados Leréia e Sandes Júnior.

Leréia também usava um Nextel para conversas secretas com Cachoeira. A polícia produziu o relatório com base em inquérito aberto em Anápolis para investigar a exploração de bingos e caça-níqueis na cidade e arredores. Como não pode investigar parlamentares sem autorização prévia do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF enviou o material à Procuradoria Geral em 15 de setembro de 2009. O relatório foi recebido pela subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques. Caberia ao procurador-geral, Roberto Gurgel, decidir se pediria ou não ao STF abertura de inquérito contra os parlamentares. Mas, desde então, nenhuma providência foi tomada.

No segundo semestre de 2010, a PF abriu inquérito para apurar exploração ilegal de jogos em Luziânia e se deparou com as mesmas irregularidades da investigação concluída há três anos. Procurado pelo GLOBO, Gurgel disse, por meio da assessoria de imprensa, que estava aguardando o resultado da Operação Monte Carlo para decidir o que fazer em relação aos parlamentares. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, confirmou o uso do Nextel por Demóstenes.

Segundo ele, o senador usou o telefone, mas não se lembra desde quando. O advogado não fez comentários sobre o suposto pedido de pagamento de despesas e o vazamento de informações oficiais.

 

Daniel Menezes

Cientista Político. Doutor em ciências sociais (UFRN). Professor substituto da UFRN. Diretor do Instituto Seta de Pesquisas de opinião e Eleitoral. Autor do Livro: pesquisa de opinião e eleitoral: teoria e prática. Editor da Revista Carta Potiguar. Twitter: @DanielMenezesCP Email: dmcartapotiguar@gmail.com

11 Responses

  1. Brunno disse:

    Opa! A notícia de O Globo está errada, o conselho foi acionado sim, vide o sítio do Sen. Pedro Taques.

  2. Túlio Madson disse:

    Assim como o PP (do bom e velho Maluf), que figura no topo dos partidos mais corruptos do país, integra (ainda que um pouco timidamente) a base aliada do governo Dilma. Tendo apoiado abertamente a candidatura de Jaques Wagner (PT) na Bahia e (discretamente) a candidatura de Dilma. Resultado: Não é um problema isolado ou ideológico do PSOL, é da própria estrutura do sistema político vigente em nosso país. Culpar apenas um lado e/ou partido é ignorar o sistema em que ele está inserido.

  3. Daniel Menezes disse:

    Túlio,

    não vejo como problema. Em determinados momentos partidos têm de fazer alianças com quem normalmente não desejaria. O que questiono é justamente a pretensão “purista” do PSOL.

  4. Daniel Menezes disse:

    Brunno, foi acionado mas depois de outras “tentativas”.

  5. Estudante disse:

    Uma coisa é partido fazer política, que às vezes chega no limite no imoral e do não ético ou mesmo ultrapassa-o, outra coisa bem diferente é comentaristas de revistas críticas, baseadas em ciência social, fecharem os olhos para determinados partidos sob a condição da convicção política – isso é detestável! Vejam a violência no Brasil, o fisiologismo, a falta de uma retidão no que se fala e no que se faz, os acidentes no trânsito… milhares de mortos, entre eles amigos e familiares… o PT há uma década no poder e nada! E ainda tem gente que tem a cara de pau de dizer no fim das contas que a corrupção não deveria fazer parte da pauta política, argumentando que a “oposição” tenta fazer dela (a corrupção) a única pauta. Mentira! Que oposição? Oposição e situação que estão no jogo “corporativista” e de chantagem? É isso que os senhores críticos querem? Crítico na situação serve apenas para o ego. Que tal o artigo 37 da Constituição? Lá está dizendo “moralidade”, “eficiência” e “legalidade”. Ah… esqueci… o PT sempre teve aversão à Constituição. Tirar esse PT do poder até demora, mas acontece.

  6. Estudante disse:

    E não cabe mais aquele discurso ridículo de que não se muda em 10 anos o que “eles” (engraçado que aí incluem o PSDB e o DEM, mas não se “auto-incluem”) fizeram em 500 anos, pois o PT já teve bastante do gostinho de pintar e bordar na coisa pública… Não somos idiotas!

  7. Túlio Madson disse:

    Eu, particularmente, vejo muitos problemas. E uma solução: Reforma Política. 

    Especialmente a parte que trata do fim das coligações, presente no anteprojeto do deputado Henrique Fontana (PT-RS). 

  8. Daniel Menezes disse:

    Estudante,

    o erro da sua análise é desconsiderar que as esferas sociais apresentam modos distintos de funcionamento do ponto de vista estrutural e axiológico.
    Não dá para pegar as noções de “moral” e de “ética”, geralmente mobilizadas para pensar relações familiares e de amizade, para pensar a política.
    A política, para o bem e para o mal, já disse um velho esquerdista moderado, como se auto-descrevia, tem modo próprio de se desenrolar.

  9. Estudante disse:

    Para o bem e para o mal, você faz política para o PT, usando a ciência e a revista eletrônica, independente da minha análise estar certa ou não. Agora, se a minha análise está errada – e isso significa que a sua está certa, não é? -, vamos definir a política, de um ponto de vista estrutural e axiológico, como a arte de esconder os erros do seu partido político e encará-los como fazendo parte da prática de uma esfera social intocável, isto é, os políticos do seu partido? É mais fácil assim, não? O seu PT permanece inteirinho com essa definição…

  10. Daniel Menezes disse:

    Estudante, não sou PTista, apesar de não negar a minha simpatia.

    Além disso, há posts anteriores, que infelizmente ficaram na página antiga, em que critico o pt. 
    No texto Vargas, Lula e Dilma: dois estadistas aponto que o problema da “crise política” é da presidência e não do congresso, conforme estão dizendo…
    Mas eu prefiro expor as minhas simpatias do que escondê-las. 
    O interessante é que, para os PTistas, eu sou de direita pq já elogiei gente que eles odeiam. Para os de “direita” eu sou PTista.
    ps. veja que eu não critiquei o PSOL. Critiquei a pretensão do PSOL de querer ser mais ético do que os demais partidos. Acho o discurso retórico e deseducativo.
    O que precisamos não é de mais ou menos ética. Isto é condição básica, mas um estado não anda apenas com “ética”. 
    O que precisamos é de projeto político e de instituições reguladoras democráticas bem consolidadas.

  11. Estudante disse:

    Para todos os efeitos, você não desmentiu a minha frase: “Para o bem e para o mal, você faz política para o PT, usando a ciência e a revista eletrônica, independente da minha análise estar certa ou não.”

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