Rio Grande do Norte, sexta-feira, 26 de abril de 2024

Carta Potiguar - uma alternativa crítica

publicado em 13 de julho de 2012

Da função sagrada do Rock’n Roll

postado por Alyson Freire

Sob certo ângulo, um festival de rock parece quase sempre tudo igual; o cenário e os atores, as tribos e as indumentárias, a comida e o lixo, os banheiros e os micróbios, os amigos bêbados e as guitarras, a maconha e os sorrisos… Onde quer que se vá há algo de habitual, seja em Natal ou Estocolmo. Isso de modo algum se deve a pobreza ou uniformidade das pessoas envolvidas e que produzem e dão vida a esses festivais. A experiência do rock é universal, pois desde o início o rock’n roll é filho da globalização. Se o pai do rock é o diabo, sua mãe é a mais devassa das prostitutas, o capitalismo.

Mas, afinal, sob a disfarçada mesmice, o que move as pessoas em direção a esses festivais? O que faz de uma festa de rock algo tão atraente e arrebatador? As respostas podem ser variadas; a diversão, o entretenimento, o lazer, desopilar a cabeça da rotina pouco potável da semana, reunir amigos, etc.. Mas há muitas formas de se obter isso. Essas respostas gerais pouco dizem sobre a experiência do rock.

A uniformidade detectada à primeira vista é produto de um “olhar de fora”, um olhar distanciado. Assim, se, ao contrário, partimos de um olhar de “dentro do fluxo”, a aparente uniformidade cede o lugar a outro tipo de experiência dos sentidos. O principal sentido, aquele que genuinamente importa aqui, não é mais o olhar de um observador especialista mas o ouvir de um amador em iniciação. Através dele sente-se a elevação da força tomar conta do peito com os primeiros ruídos, que, aos poucos, convertem-se em movimentos ondulados, abreviaturas de sons que são a mais perfeita tradução das forças e formas do cosmos, e que atingem os tímpanos como eletrochoques da consciência.

O rock & roll é uma descarga de afetos. E, se experimentado coletivamente, como nos festivais, funda na reunião dos corpos afetados por meio de um jogo de sons e silêncios um pacto objetivo, uma comunidade efervescente, um mesmo e único corpo tonal cuja força faz cada ponto vibrar e circular; uns dançam, pulam, outros batem cabeça e gesticulam com certo patetismo; tornam-se loucos e crianças, selvagens, possessos e santos alucinados. É por isso que, a música, em geral, está intimamente ligada, desde os primórdios, ao delírio, à embriaguez e à alteração dos sentidos.

Num festival de rock, tudo lembra um ritual antigo de excitação terrível. As rodas de pogo formam uma comunhão mística e alucinada entre os dançantes. Porém, as substâncias mágicas que inalamos ou ingerimos para o torpor coletivo não provêm de plantas ou bebidas mágicas – embora essas, ocasionalmente, se façam presentes também. A magia corre purpuramente pelos cabos, fios e samplers. Nosso ânimo é seqüestrado tecnologicamente.

Talvez, no rock’n roll arda a última reserva daquela necessária e saudável catarse coletiva de que nossa sociedade ainda é capaz de experimentar.

Alyson Freire

Sociólogo e Professor de Sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN).

One Response

  1. alysson disse:

    é importante pra auto estima se drogar com rock n roll

Artes

Polícia Federal prende Super Mário. IBAMA pede explicações a Nintendo sobre Gorilas do Donkey-kong

Artes

Prometheus